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Franco diz que política internacional não é sua prioridade e que não irá à cúpula do Mercosul

Guilherme Balza

Do UOL, em Assunção

26/06/2012 11h48

Em entrevista coletiva nesta terça-feira (26), o presidente do Paraguai, Federico Franco, afirmou que a política internacional e a relação com países vizinhos não é sua prioridade agora. Ele também confirmou que não irá participar da cúpula do Mercosul, que começa amanhã em Mendoza, na Argentina.

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Na conversa, que durou 15 minutos, o liberal ressaltou que seu foco é “manter o país equilibrado” e preparar as próximas eleições presidenciais, marcadas para abril de 2013. Ele acrescentou que os prazos eleitorais serão respeitados, ou seja, o pleito não será nem antecipado nem postergado.

“Feito isto, vamos demonstrar à comunidade internacional com ações, e não com palavras, que somos um governo democrático e legal.”

O presidente confirmou que não irá à cúpula do Mercosul  e desdenhou da presença de Fernando Lugo, ex-mandatário deposto que irá à cúpula para expor sua situação. “Ele não pode participar, não tem autoridade”, disse Franco.

“Primeiro vamos arrumar a casa. Se dissesse que a minha prioridade é a política internacional, estaria mentindo”, declarou Franco, no palácio presidencial, em Assunção. “Antes, tenho que terminar de formar o gabinete e deixar a situação acalmar para depois entrar nas questões de política internacional.”

Questionado sobre a rapidez do processo de deposição de Lugo, votado no último dia 22, o liberal voltou a defender que o procedimento foi constitucional. “Foi uma decisão do Congresso. A rapidez se explica porque não é um julgamento convencional. Foi um procedimento absolutamente constitucional.”

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Franco anunciou ainda que irá amanhã ao Congresso apresentar o planejamento econômico de seu governo. Segundo ele, nos 14 meses em que irá comandar o país, pretende aprovar no Congresso questões importantes, como créditos pela energia gerada ao Brasil no valor de R$ 320 milhões.

Ainda sobre a relação com o Brasil, Franco disse acreditar que não haverá sanções econômicas ou comerciais. “Com o Brasil temos [a usina hidrelétrica de] Itaipu. Grande parte da energia de São Paulo vem de Itaipu. Temos também os brasiguaios, que são 450 mil pessoas, e que estão ao meu lado de forma unânime”.

Antes de conceder a entrevista coletiva, Franco havia se reunido na sede do governo com um grupo de dez representantes dos brasiguaios -- produtores rurais e agricultores brasileiros que possuem terras no país vizinho. No fim de semana, os brasiguaios haviam pedido à presidente Dilma Rousseff para reconhecer o novo presidente paraguaio.

Os brasiguaios são responsáveis pela maior parte da produção agrícola do Paraguai e por praticamente todo o plantio de soja. As restrições a eles, ocorridas nos últimos anos, gerou violência e disputa de forças.

O novo ministro das Relações Exteriores paraguaio, José Félix Fernández Estigarribia, afirmou que a questão dos brasiguaios está entre as prioridades do novo governo. Segundo o chanceler, o esforço é para manter o melhor relacionamento possível com o Brasil em busca de solução para o impasse envolvendo os produtores.

O grupo relata que sofreu perseguição nos últimos anos e ficou impedido de trabalhar. A  maioria vive nas áreas de fronteira do Brasil com o Paraguai e se queixa da  falta de apoio das autoridades paraguaias.

Há entre os brasiguaios grandes, médios e pequenos produtores rurais. Todos reclamam das tensões no campo. Eles contam que são ameaçados por carperos (sem-terra paraguaios) e sofrem discriminação por não serem considerados paraguaios.

Lugo e Mercosul

O Mercosul suspendeu ontem o Paraguai do bloco provisoriamente, sob o argumento de que o país desrespeitou a democracia ao aprovar, sem conceder o tempo necessário para defesa, o impeachment do então presidente Fernando Lugo, no último dia 22.Apesar da suspensão do Paraguai, Lugo participará da cúpula do Mercosul, a ser realizada amanhã (27) em Mendoza, na Argentina.

Lugo voltou a afirmar hoje que está à frente de um governo, ainda que paralelo, e qualificou de “ilegítimo” o governo de Federico Franco.

“Existe um governo constitucional eleito pelo povo e outro governo ilegítimo”, declarou, em entrevista exclusiva à emissora de televisão venezuelana Telesur.

O ex-bispo, no entanto, se mostrou cético quanto a uma volta ao poder. “Vejo como muito difícil [uma volta à presidência], porque já houve um acordo entre os setores do poder. Mas nada é impossível, a resistência continua, assim como as manifestações em vários departamentos [Estados] do país”, continuou.

À Reuteurs, ele também frisou que será difícil retornar ao poder. "No âmbito legal, todas as portas se fecharam ontem, quando deram a constitucionalidade do processo e o reconhecimento da justiça eleitoral. Legalmente não existe um caminho para reverter esta situação", disse.

O Tribunal Superior de Justiça Eleitoral decidiu que Franco é o presidente constitucional.

"Há uma possibilidade impossível, milagrosa, na qual o mesmo Parlamento possa decidir que se equivocou e que recua (...) fica o caminho político, mas o consenso no Parlamento me parece impossível", acrescentou.

Ontem (25), o ex-bispo declarou que não reconhece a autoridade política de Franco e anunciou a criação de um gabinete paralelo para "monitorar" o novo governo.

"Federico Franco -- não o chamo de presidente -- não tem autoridade para convocar o presidente Lugo para ser o mediador dos conflitos internacionais”, afirmou Lugo, referindo-se às declarações de Franco, que disse que o procuraria para tentar resolver os problemas diplomáticos pós-destituição.

O novo chanceler paraguaio, José Félix Fernández Estigarribia, rebateu que a iniciativa de Lugo é uma “piada” e que, se ele levar adiante sua decisão, poderá responder judicialmente.

Veja as cinco acusações que levaram ao impeachment de Lugo

Mau uso de quartéis militaresA primeira acusação é o ato político ocorrido, com a autorização do Lugo, no Comando de Engenharia das Forças Armadas em 2009. Grupos políticos da esquerda se reuniram no local, usaram bandeiras e cantaram hinos ideológicos. Segundo o deputado José López Chávez, no ato, as Forças Armadas foram humilhadas, além de terem sido hasteadas outras bandeiras, num desrespeito a um símbolo nacional.
Confronto em CuruguatyNum dos piores incidentes sobre a disputa de terras no Paraguai, Lugo mandou 150 soldados do Exército para desocupar uma propriedade rural numa área de fronteira com o Brasil. No confronto com agricultores, ocorrido na última sexta-feira (15), ao menos 17 pessoas morreram. Das vítimas, sete eram policiais.
ÑacundayOutro ponto está relacionado às invasões de terras na região de Ñacunday, distrito localizado no departamento (equivalente a Estado) do Alto Paraná, a 95 quilômetros da fronteira do Brasil com o Paraguai. O deputado Jorge Avalos Marín acusa Lugo de gerar instabilidade entre os camponeses na área ao incentivar os próprios “carperos”, como são chamados os que acampa sob lonas pretas, as ditas “carpas”, encarregados da demarcação de terras.
InsegurançaOs parlamentares acusaram ainda o presidente Lugo de não ter sido eficaz na redução da insegurança que assola o país, embora o Congresso Nacional tivesse aprovado mais recursos financeiros. Além disso, eles criticam os gastos com a procura por foragidos do grupo criminoso EPP (Exército do Povo Paraguaio). Segundo o deputado, nunca na história o EPP (Ejercito del Pueblo Paraguayo), o braço armado do Partido de Izquierda Patria Libre, fez tantas vítimas entre integrantes da Polícia Nacional. Apesar disso, a conduta do presidente teria permanecido inalterada, o que teria dado mais poder ao grupo.
Protocolo de Ushuaia 2A assinatura do polêmico documento Protocolo de Usuaia 2 é visto como um atentado contra a soberania da República. Segundo a acusação dos parlamentares, o presidente não foi transparente sobre a assinatura desse documento já que até a presente data não havia encaminhado uma cópia do Congresso. A oposição a Lugo afirma que a assinatura do protocolo poderia resultar no corte do fornecimento de energia ao Paraguai, além de atentar contra a população e ter um claro perfil autoritário. Eles alegam ainda que Lugo tentou incluir medidas para fechar as fronteiras.