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Saques na Argentina podem ter motivação política; duas pessoas morreram e 500 foram presas

Do UOL, em São Paulo

22/12/2012 14h24

Duas pessoas morreram, dezenas ficaram feridas e pelo menos 500 foram presas após a onda de saques a lojas e supermercados registrada desde a quinta-feira (20) em diversas cidades da Argentina, entre elas Bariloche, Rosário e a região metropolitana ao norte de Buenos Aires.

Os saques provocaram uma troca de acusações entre o governo da presidente Cristina Kirchner e sindicatos oposicionistas, que acusam um ao outro de terem orquestrado os ataques.

O chefe da Casa Civil da Presidência da Argentina, Abal Medina disse que setores do sindicalismo estariam "por trás" das ações, que seriam "isoladas e organizadas". Medina insinuou que os saques teriam sido promovidos por caminhoneiros, categoria liderada por Hugo Moyano, um chefe da CGT (Central Geral dos Trabalhadores) e grande opositor do governo.

As autoridades também disseram que a onda de violência pode estar relacionada ao aniversário de uma onda de saques que em 2001 deixou 38 pessoas mortas e levou o então presidente Fernando de la Rúa a decretar estado de sítio. Os saques acontecem na mesma data, onze anos depois da queda do presidente e da crise financeira e política.

Em resposta às críticas, Moyano disse à rádio "Mitre", de Buenos Aires, que os saques "podem ter sido organizados pelo próprio poder". O sindicalista afirmou ainda que "muita gente está passando por dificuldades" e que não acredita que as ações tenham sido "organizadas" ou "por motivações políticas".

Mais tarde, Moyano afirmou que as centrais sindicais entrariam na Justiça contra as autoridades do governo que os responsabilizaram pelos saques.

De acordo com a agência de notícias da argentina Télam, organizações de direitos humanos têm manifestado repúdio aos ataques ocorridos em supermercados, e pedem que a Justiça encontre os responsáveis “ideológicos e materiais” dos ataques.

A agência argentina informou que uma declaração das Mães e Avós da Praça de Maio associa os saques ao objetivo “de levar o país de volta à Argentina que não queremos voltar", e que tais eventos “não parecem espontâneos, mas organizados sugestivamente”. O grupo reúne parentes de presos e desaparecidos durante a ditadura argentina.

A Télam informa ainda que o ministro da Segurança e da Justiça de Buenos Aires, Ricardo Casal, disse que os saques em supermercados “são claramente organizados e premeditados, inclusive por meio de redes sociais”.

O governador da província de Río Negro, Alberto Weretilnek, por sua vez, afirmou que os saques não estão ligados à questão social. "Quebrar vitrines para roubar uma televisão é [algo cometido] por outros motivos", afirmou.

Já o prefeito de Bariloche, Omar Goye, disse que a cidade vive “um problema social que tem muitos anos", e que a crise teria sido agravada pelos efeitos das cinzas de um vulcão que entrou em erupção no ano passado.

Saques

A onda de saques teve início na quinta-feira (20), em Bariloche. Vinte pessoas ficaram feridas após centenas de pessoas saquearem cinco supermercados da cidade. Em resposta, o Ministério de Segurança enviou 400 guardas nacionais à região, que também recebeu a visita do vice-ministro Sergio Berni.

Em Rio Negro, além de saquearem mercados e destruírem lojas, os manifestantes ergueram barricadas nas ruas e enfrentaram forças de segurança com pedras e paus. Em Rosário, autoridades locais informam que dois assassinatos foram cometidos em meio aos saques, e um policial ficou gravemente ferido.

Também foram registrados saques em Cipolletti, Viedma, Comodoro Rivadavia, Trelew, Posadas e Córdoba, entre outras cidades do país. Além de alimentos, foram roubados eletrodomésticos dos supermercados.

Em entrevista à agência de notícias inglesa "BBC", o analista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria, disse que a Argentina vive "uma crise mais política do que econômica". Tal crise, segundo Fraga, envolveria questões locais, como o conflito entre o governo e o Grupo Clarín de comunicação e as disputas do governo com a Justiça. Outra área de atrito é a decisão da oposição de se unir contra a ideia de reforma da Constituição, a fim de impedir espaço à segunda reeleição Cristina Kirchner.