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Momento não é propício para oposição venezuelana reagir, afirmam especialistas

O vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro - Escritório da Presidência da Venezuela/AP
O vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro Imagem: Escritório da Presidência da Venezuela/AP

Fábio Luís de Paula

Do UOL, em São Paulo

10/01/2013 07h00

A oposição venezuelana não deve reagir à aprovação desta quarta-feira (9) do TSJ (Tribunal Supremo de Justiça) do país sobre o adiamento da posse do presidente reeleito, Hugo Chávez, afirmam especialistas ouvidos pelo UOL, que apontam que o momento não é favorável. Apesar de não tomar posse, tanto o presidente quanto o vice continuam governando, já que foram reeleitos e trata-se de uma continuação do mandato, no entendimento da corte.

Chávez, 58, deveria tomar posse nesta quinta-feira (10) para o mandato 2013 -2019, mas está se recuperando de uma série de complicações de uma cirurgia para a retirada de um tumor na região pélvica.

"Para a oposição não é bom a convocação de uma nova eleição neste momento, pois [Chávez] acabou de ser reeleito e está enfermo, provocando uma grande comoção no país", avaliou Feliciano Guimarães, professor de relações internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

Entenda a situação

O presidente da Venezuela Hugo Chávez, reeleito para seu terceiro mandato em outubro de 2012, deveria reassumir a Presidência em 10 de janeiro, perante a Assembleia Nacional.

Antes de partir a Havana para realizar mais uma cirurgia para combater o câncer, em dezembro de 2012, Chávez anunciou que o vice-presidente, Nicolás Maduro, assumiria a Presidência em sua ausência.

Além disso, a vontade de Chávez é que Maduro seja o candidato governista nas novas eleições que devem ser convocadas caso ele seja declarado oficialmente incapacitado de tomar posse.

João Carlos Botelho, professor de ciências políticas da Universidade Federal de Goiás, afirma que a oposição apenas "tem se manifestado sobre uma interpretação da constituição que a carta não prevê". Eles defendem que, para aplicar uma ausência temporária, o presidente precisa primeiro assumir o cargo.

"A situação está tranquila do ponto de vista constitucional", pondera Gilberto Maringoni, professor de relações internacionais da UFABC (Universidade Federal do ABC). "Acho muito difícil que a oposição faça algo fora do jogo democrático. O chavismo mostrou ter raízes muito profundas na realidade do país, por uma série de programas sociais. O analfabetismo chegou perto de zero, o salário mínimo é equivalente a R$ 1.600, e a população de baixa renda viu em Chávez uma saída para seus problemas. E essa legitimidade é muito profunda."

A polêmica

Os professores explicaram que, na Venezuela, o vice-presidente não faz parte da chapa do presidente e, portanto, não é eleito. "Ele é escolhido como se fosse um ministro", disse Maringoni. Por isso, segundo a oposição, Maduro não teria a mesma legitimidade que Chávez ao assumir, o que cria um embaraço. Ou seja, Maduro só pode assumir quando o titular assumir.

Então, a posse de Hugo Chávez foi adiada e o vice do mandato anterior, que também é Maduro, pode comandar de acordo com a lei.

A oposição quer que o presidente da assembleia do país assuma, já que ele pode convocar uma nova eleição em 90 dias, com mais 90 prorrogáveis. Isso significa que o país tem de três a seis meses para se preparar para um novo pleito. Mas, se Maduro assume e Chávez morre, as eleições devem acontecer em até 30 dias, pouco tempo para a oposição entrar para vencer. Na Venezuela o vice não ocupa o lugar do presidente, uma vez que não é eleito, e sim indicado.

 

A situação é comparada com a que aconteceu no Brasil em 1985, quando Tancredo Neves, eleito de forma indireta, morreu e seu vice, José Sarney, assumiu. Mas, nesse caso, o vice fazia parte da chapa e tinha a mesma legitimidade de Tancredo.

Transição tranquila

A presidente do TSJ, Luisa Estella Morales, disse em pronunciamento que não é necessário o juramento nesta quinta e que, tanto Chávez como Maduro, continuam em suas funções. "O que parece é que terá uma cerimônia mais simbólica. A data da posse efetiva ficará em aberto", diz Botelho.

Sobre a presença de presidentes como Evo Morales, da Bolívia, e José Mujica, do Uruguai, Maringoni explica que é uma forma de legitimar essa transição inesperada. "É uma situação fora do normal, mas não se rompe o processo democrático. O debate é: existe um chavismo sem Chávez? É possível que sim. Existiu um varguismo sem Vargas, por exemplo, mas muito mais enfraquecido".

O Brasil também se posicionou sobre a situação e o professor da ESPM considera que o país está tomando as atitudes corretas. "Para o Brasil é bom que seja uma transição branda. Como líder da região, não pode ficar ausente da discussão e nem participar de forma ativa e incisiva. Mas fez correto ao mandar Marco Aurélio Garcia para 'assuntar' e saber o que está acontecendo por lá", disse.

Saúde de Chávez

O estado de saúde de Chávez, que está hospitalizado em Cuba desde sua operação no dia 11 de dezembro, apesar de estável, é considerado grave, devido a uma insuficiência respiratória.

Em 18 meses, Chávez passou por quatro cirurgias. Nos últimos dias, aumentaram os rumores sobre o agravamento do seu estado de saúde. As filhas e o irmão Adám Chávez estão em Havana para acompanhar o tratamento. O venezuelano governa o país há 14 anos e não aparece em público há quase 30 dias. Ele foi submetido a uma cirurgia para retirada de um tumor maligno na região pélvica e teve uma série de complicações, como hemorragia e problemas respiratórios.

O presidente da República em exercício, Nicolás Maduro, pediu o apoio da população e criticou o que chamou de "guerra psicológica".