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Papa é argentino, mas Deus é brasileiro, brinca Dilma após encontro com Francisco

Fernanda Calgaro

Do UOL, na Cidade do Vaticano

20/03/2013 07h55Atualizada em 20/03/2013 13h02

Após encontro reservado com o papa Francisco nesta quarta-feira (20), a presidente Dilma Rousseff brincou ao dizer que o papa é argentino, mas Deus é brasileiro. Segundo a presidente, ele confirmou que irá ao Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude, que acontece em julho no Rio de Janeiro, e que também irá visitar a cidade de Aparecida.

Indagada por um repórter argentino sobre o que achava do papa, Dilma respondeu: "Eu acho que vocês têm muita sorte, vocês têm um grande papa. A Argentina está de parabéns. Agora, a gente sempre diz, o papa é argentino, mas Deus é brasileiro". Segundo a presidente, o papa "fala portunhol igual à gente" e entende bem o português.

A conversa, segundo ela, foi "bastante interessante". "Ele é uma pessoa extremamente carismática e, ao mesmo tempo, com um grande compromisso com os pobres, o que torna a relação com o Brasil muito importante para nós, porque o governo brasileiro vem, nos últimos dez anos, a partir do Lula, focando a questão da superação da pobreza". Dilma fez questão de dizer que foi a primeira pessoa a ser recebida pelo papa após a inauguração de seu pontificado.

O combate ao crack também foi discutido. Dilma disse que Francisco ressaltou que é fundamental, para o combate às drogas, reforçar valores e princípios. “Conversamos sobre a questão das drogas e do crack, o reforço de valores, princípios e símbolos para a juventude”, destacou ela. 

O pontífice entregou à presidente um livro com a síntese das discussões da conferência de bispos latino-americanos realizada em Aparecida em 2007. Na ocasião, Francisco foi um dos responsáveis por preparar o documento final.

“'Você não precisa ler tudo porque você pode se aborrecer, então você pega o índice e vai nos assuntos que te interessa', ele me disse”, contou Dilma, entre sorrisos, demonstrando o bom humor de Francisco.

Em retribuição, Dilma entregou ao papa azulejos do renomado artista brasileiro Athos Bulcão (1918-2008), famoso pelos seus painéis no Congresso Nacional e diversos outros trabalhos.

Sobre a jornada da juventude, Dilma disse que o papa espera um grande público. "A Igreja, como uma instituição secular, tem no jovem um foco muito grande. E ele estava me dizendo que espera uma presença grande dos jovens na medida em que ele é o primeiro papa --ele é o primeiro em várias coisas: ele é o primeiro Francisco, o primeiro jesuíta, o primeiro latino-americano, o primeiro argentino--, e ele espera presença massiva de jovens", afirmou Dilma.

A assessoria de imprensa do Vaticano informou que, nos próximos dias, a agenda do papa no Brasil deverá ser confirmada.

No encontro, o papa comentou ainda que ficou muito comovido com a tragédia em Santa Maria (RS) --onde um incêndio em uma boate matou mais de 240 pessoas-- e deu um conselho a ela, recomendando que, nessas situações, demonstre "força e ternura".  "Ele disse: 'Acho que a gente tem na vida que demonstrar força e ternura e, em Santa Maria, o Brasil demonstrou força e ternura'. E eu fiquei muito agradecida".

A presidente brasileira já havia se encontrado por alguns segundos com o pontífice ontem (19), após a missa inaugural do papado de Francisco, realizada na basílica de São Pedro, no Vaticano.  Na ocasião, ela aparentemente teria dito ser um prazer ter um papa que se dedique aos pobres.
 
Segundo o blog do jornalista Fernando Rodrigues, a visita de Dilma ao Vaticano, que inicialmente foi rejeitada pela própria presidente, atende a uma lógica de "marketing eleitoral". O artigo aponta a viagem como uma estratégia para atrair o eleitorado católico nas eleições de 2014. 

Audiência privada com Cristina

Apesar da relação turbulenta dos últimos anos, principalmente após a aprovação das leis sobre o aborto e o casamento homossexual na Argentina, o papa Francisco recebeu ontem (18) a presidente Cristina Kirchner, a primeira chefe de Estado a se encontrar com o novo pontífice após a eleição dele, que também é argentino.

"Nunca na minha vida um papa tinha me beijado", disse a presidente à agência de notícias argentina "Télam", ao final do encontro na Casa Santa Marta, no Vaticano, que durou de 15 a 20 minutos. Em seguida, Francisco e Cristina almoçaram juntos.

Durante o encontro, Cristina disse ter pedido ao pontífice intervenção na questão das ilhas Malvinas. "Pedimos que Francisco interceda para que o Reino Unido e a Argentina possam chegar a um acordo sobre a soberania das ilhas Malvinas", relatou ela, que lembrou que o papa João Paulo 2º também agiu como mediador entre o Chile e a Argentina em um conflito territorial, em 1978.

O tema, como apontou Cristina, tem muito sentido "para os argentinos". As disputas diplomáticas entre Londres e Buenos Aires têm aumentado nos últimos meses, com o Reino Unido resistindo aos apelos de Cristina Kirchner de renegociar a soberania das ilhas, que ficam a 500 quilômetros a leste da Argentina.

Em retribuição à visita, a presidente argentina deu ao papa um kit para tomar mate, com cuia, garrafa térmica e açucareiro. Já o pontífice a entregou uma majólica com a imagem da Basílica de São Pedro.