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Atitude de Dilma sobre diplomata é "deplorável", diz Aécio; petista vê "trapalhada"

Do UOL, em Brasília

27/08/2013 16h41Atualizada em 27/08/2013 17h43

Enquanto a oposição criticou a posição do governo brasileiro em relação ao diplomata brasileiro Eduardo Saboia, que trouxe o senador boliviano Roger Pinto Molina ao Brasil sem consentimento do Itamaraty e do governo brasileiro, o PT saiu em defesa da presidente Dilma Rousseff.

O senador e presidente do PSDB Aécio Neves (MG) disse nesta terça-feira (27) que a atitude do governo Dilma  é "deplorável". “É deplorável, sob todos os aspectos, a atitude tomada pelo governo da presidente Dilma Rousseff no episódio envolvendo a transferência do senador boliviano Roger Pinto Molina para o país", declarou o tucano em nota oficial.

Para Aécio, a atitude do governo, que culminou na saída do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, mostra que o Brasil se submete ao presidente da Bolívia, Evo Morales, de quem Roger Pinto é opositor.

Quem é o senador Roger Pinto Molina

  • Jorge Bernal/AFP

    Idade: 53 anos
    Região da Bolívia: eleito pela província de Pando, no norte do país
    Partido: Convergência Nacional (oposição ao governo Evo Morales)
    Acusações: Assassinato de camponeses em 2008; desacato ao presidente Evo; desacato à ministra da Transparência e Anticorrupção; dano ambiental; corrupção e desvios na Zona Franca de Cobija, entre outros
    Defesa: O senador nega os desvios em Cobija e diz ser perseguido pelo governo de Evo Morales

"O governo da presidente Dilma preferiu, mais uma vez, submeter-se às imposições do governo Evo Morales e jamais atuou efetivamente para solucionar o impasse diplomático e garantir ao senador Molina a concessão do salvo-conduto que as boas normas do direito internacional recomendam e impõem em situações assim", continua a nota.

Além de Saboia, a operação para a vinda de Pinto Molina ao Brasil contou com o senador brasileiro Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa. Segundo Ferraço, Pinto viajou 22 horas entre La Paz e Corumbá, no Mato Grosso do Sul, em um automóvel da embaixada, escoltado por fuzileiros navais e policiais federais do Brasil. De Corumbá, Pinto seguiu em um avião fretado para Brasília, onde chegou na madrugada de domingo.

Mais repercussão

Nesta terça, outros parlamentares comentaram o caso.

O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), defendeu o ponto de vista da presidente Dilma Rousseff. O parlamentar avaliou que o episódio foi uma “quebra de hierarquia” no âmbito da diplomacia brasileira. “Foi [uma trapalhada], só não sei de quem”, respondeu aos jornalistas.

“Quando damos um asilo, não se admite que se perca o controle de uma iniciativa de alguém que não estava autorizado a fazê-lo. Houve uma grave quebra de hierarquia. Todo mundo sabe que a hierarquia nas Relações Exteriores se assemelha à hierarquia militar”, comparou o deputado.  “Ele fez algo que não lhe cabia e o ministro [Antonio] Patriota acabou tendo de responder porque a ele cabia, naquele momento, o comando”, continuou, referindo-se a Saboia. 

Entenda o caso envolvendo o senador boliviano Roger Pinto

  • Arte/UOL

    28.mai.2012 - Durante encontro com embaixador, o senador boliviano Roger Pinto, da oposição ao presidente Evo Morales, pede asilo político ao Brasil
    8.jun.2012 - O governo brasileiro concede asilo e é criticado por Evo Morales dias depois
    19.jul.2012 - Governo boliviano sobe o tom e acusa o embaixador brasileiro de fazer "pressão"
    2.mar.2013 - Um acordo bilateral decide criar uma comissão para analisar o caso de Roger Pinto
    17.mai.2013 - O advogado do senador pede que o Supremo Tribunal Federal pressione o Itamaraty
    23.ago.2013 - Por volta das 15h, saem da embaixada brasileira em La Paz Roger Pinto, o diplomata brasileiro Eduardo Sabóia e dois fuzileiros navais, em dois carros diplomáticos oficiais. Eles percorrem mais de 1.500 km por terra em uma viagem de mais de 22 horas
    24.ago.2013 - Na tarde deste sábado, os carros chegam a Corumbá, no Mato Grosso do Sul e, à noite, pegam um jatinho de um empresário amigo do senador brasileiro Ricardo Ferraço (PMDB-ES) rumo a Brasília
    25.ago.2013 - Roger Pinto, Ferraço e Sabóia chegam a Brasília
    26.ago.2013 - O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, deixa o cargo

“Primeiro, o fato em si foi muito estranho. Alguém que tinha asilo diplomático, que não tinha recebido ainda o salvo-conduto, sob alegação do secretário de negócios afirmando que ele estava com a saúde abalada física e psicologicamente... Chama a atenção que ele [o senador boliviano] tenha viajado 1.600 km e, ao chegar ao Brasil, não se tem notícia ainda que ele tenha buscado tratamento”, questionou Chinaglia. 

O líder governista disse que não é contra a vinda, ao Congresso, de Patriota e outros diplomatas para esclarecer o que houve. Mas ele defende que só compareçam ao Congresso depois de encerradas as investigações sobre o assunto.

Já o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), defendeu que a iniciativa do diplomata brasileiro de trazer o asilado boliviano é “digna de aplaudir”. “Nós temos que aplaudir a coragem do embaixador brasileiro”, declarou. “Foi um gesto que merece ser elogiado por garantir o direito à vida a esse cidadão boliviano que, a qualquer momento, a embaixada poderia ser invadida e ser colocada em risco sua integridade física”, afirmou o deputado da oposição.

Caiado lembrou ainda que o Planalto teve reação diferente quando acolheu o ex-ativista italiano Cesare Battisti. “Quando o governo se propõe dar asilo político a um criminoso como Battisti, o governo dá um advogado para defendê-lo. Quando se trata de um senador que sofre perseguição de um governo cocaleiro [em referencia à produção de coca na Bolívia] que, sem dúvida nenhuma é um governo se impõe pela truculência no Estado.”

O ex-ativista italiano foi condenado por um tribunal de seu país, que o considerou culpado pelos assassinatos de quatro pessoas na década de 1970 e sua extradição era exigida pela Itália. Ele foi detido no Rio de Janeiro em março de 2007 e liberado em junho de 2011. Desde que foi liberado, Battisti pode viver no Brasil e lançou um livro com suas memórias.

O deputado Agripino Maia (DEM-RN) criticou a situação de Pinto Molina. "É um gesto desumano um senador, eleito pelo povo, ficar 455 dias trancafiado numa embaixada sem o Brasil dar solução à sobrevivência dele", postou em seu Twitter.

Na segunda-feira (26), alguns parlamentares, como a senadora Ana Amélia (PP-RS), já haviam saído em defesa do asilo ao senador Roger Pinto Molina.

Em nota, o PPS também pediu que o asilo ao boliviano seja mantido. "O Partido Popular Socialista (PPS) avalia que o governo brasileiro deve manter o asilo que concedeu ao senador da Bolívia Roger Pinto Molina e entende que, embora a forma como ele deixou seu país e foi trazido para o Brasil deva ser esclarecida, o diplomata Eduardo Saboia agiu dentro da premissa da solidariedade humanitária e preocupado com a saúde do senador", disse o deputado Roberto Freire (SP). "O problema já poderia estar resolvido se o governo da Bolívia não tivesse, de forma abusiva, negado salvo-conduto ao senador nos termos dos tratados internacionais sobre asilo."