Em carta, Prêmio Nobel da Paz chama Saboia de corajoso e mártir
O Prêmio Nobel da Paz de 1996, o timorense José Ramos-Horta, entrou em contato com o diplomata Eduardo Paes Saboia, ex-encarregado de Negócios da Embaixada do Brasil na Bolívia e responsável pela retirada do senador boliviano Roger Pinto Molina de La Paz, na Bolívia, há 13 dias.
Em carta enviada a Saboia, Ramos-Horta elogia a “coragem” do diplomata e chama-o de “mártir”.
Ramos-Horta compara Saboia ao cônsul de Portugal em Bordéus, na França, Sousa Mendes, nos anos de 1940, que salvou a vida de cerca de 30 mil judeus, livrando-os da perseguição nazista da 2ª Guerra Mundial.
Sem entrar na polêmica que envolve Saboia, os governos do Brasil e da Bolívia, Ramos-Horta disse acompanhar os desdobramentos do caso e ressaltou “sei que o Brasil não recebe ninguém na embaixada sem justa causa”.
Segundo ele, a diplomacia brasileira prima pela prudência e por ser meticulosa.
Entenda o caso envolvendo o senador boliviano Roger Pinto
28.mai.2012 - Durante encontro com embaixador, o senador boliviano Roger Pinto, da oposição ao presidente Evo Morales, pede asilo político ao Brasil
8.jun.2012 - O governo brasileiro concede asilo e é criticado por Evo Morales dias depois
19.jul.2012 - Governo boliviano sobe o tom e acusa o embaixador brasileiro de fazer "pressão"
2.mar.2013 - Um acordo bilateral decide criar uma comissão para analisar o caso de Roger Pinto
17.mai.2013 - O advogado do senador pede que o Supremo Tribunal Federal pressione o Itamaraty
23.ago.2013 - Por volta das 15h, saem da embaixada brasileira em La Paz Roger Pinto, o diplomata brasileiro Eduardo Saboia e dois fuzileiros navais, em dois carros diplomáticos oficiais. Eles percorrem mais de 1.500 km por terra em uma viagem de mais de 22 horas
24.ago.2013 - Na tarde deste sábado, os carros chegam a Corumbá, no Mato Grosso do Sul e, à noite, pegam um jatinho de um empresário amigo do senador brasileiro Ricardo Ferraço (PMDB-ES) rumo a Brasília
25.ago.2013 - Roger Pinto, Ferraço e Saboia chegam a Brasília
26.ago.2013 - O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, deixa o cargo
Saboia é alvo de investigações de uma comissão de sindicância, formada por dois embaixadores e um auditor da Receita Federal.
O grupo apura as responsabilidades do diplomata na retirada de Pinto Molina da Embaixada do Brasil na Bolívia, onde ficou por 455 dias. O ex-encarregado de Negócios é acusado de quebra de hierarquia. A defesa dele nega.
Pinto Molina foi retirado da Bolívia rumo ao Brasil em uma operação, organizada por Saboia, desencadeando uma crise diplomática.
O então chanceler Antonio Patriota foi substituído por Luiz Alberto Figueiredo Machado.
Em junho de 2012, o Brasil concedeu asilo diplomático ao senador, mas o governo boliviano não deu o salvo-conduto para ele deixar o país.
No Brasil há pouco mais de duas semanas, Pinto Molina é classificado como um “delinquente comum” pelo governo boliviano.
O senador nega as acusações relativas a desvios de recursos públicos e corrupção. No total, são mais de 20 processos.
Na semana passada, uma missão boliviana de alto nível, formada por três ministros do Ministério Público do país, esteve em Brasília e apresentou documentos ao Ministério da Justiça brasileiro sobre os processos judiciais envolvendo Pinto Molina.
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