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Putin e Erdogan mantêm troca de acusações dois dias após abate de avião russo

Avião militar SU-24 é derrubado por caças turcos perto da fronteira com a Síria - Reprodução
Avião militar SU-24 é derrubado por caças turcos perto da fronteira com a Síria Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

26/11/2015 10h36

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, respondeu nesta quinta-feira (26) às acusações de complacência com os jihadistas lançadas pelo presidente russo, Vladimir Putin, dizendo que o compromisso de seu país com a luta contra o grupo Estado Islâmico é "incontestável".

Erdogan também desafiou a Rússia a provar que a Turquia comprava petróleo do EI, afirmando que "aqueles que nos acusam de comprar petróleo do Daesh [acrônimo árabe para Estado Islâmico] são obrigados a provar as suas acusações".

Nesta mesma quinta-feira, o presidente russo exigiu que a Turquia peça desculpas e puna os responsáveis por abater o caça-bombardeiro russo Su-24, que participava de uma missão antiterrorista na Síria quando foi derrubado.

"Ainda não ouvimos desculpas claras por parte da cúpula político-militar da Turquia, ofertas para compensar os danos nem a promessa de que os criminosos serão punidos", disse Putin no Kremlin, ao receber as credenciais de novos embaixadores em Moscou.

O presidente russo afirmou que são "absolutamente inexplicáveis as facadas nas costas e a traição" por parte de um país que a Rússia considerava um aliado na luta contra o terrorismo.

"Dá a impressão que o governo turco, conscientemente, leva as relações russo-turcas a um atoleiro. Lamentamos isso", disse.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, pediu "explicações realistas" à Turquia sobre a derrubada do avião militar russo.

Para Peskov, a ação causou um "prejuízo devastador e difícil de estancar" nas relações entre os dois países, além de ser um "ataque criminoso" ao avião russo, cujo um dos dois pilotos morreu baleado por homens em solo sírio enquanto descia de paraquedas após se ejetar da aeronave.

"Trata-se de um incidente grave demais, com consequências muito graves e inevitáveis", afirmou o porta-voz do governo russo.

Peskov, porém, indicou que a reunião entre Putin e o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, programada para meados de dezembro na cidade russa de São Petersburgo, ainda não foi cancelada.

"Há, claro, muitos assuntos no ar quanto à realização dessa reunião. A situação ainda não está esclarecida", explicou.

Além disso, Peskov disse que não está nos planos um encontro entre os dois líderes durante a Cúpula Climática de Paris, que começa na próxima segunda-feira.

O porta-voz do Kremlin garantiu que a Rússia não impôs um embargo às importações da Turquia, mas afirmou que foram adotadas "medidas adicionais de controle", em referência à retenção de cargas turcas nas fronteiras russas.

"Isso é completamente natural, sobretudo tendo em vista as ações imprevisíveis da Turquia", explicou.

Peskov reiterou que o caça-bombardeiro abatido por dois caças F-16 turcos estava sobre o território da Síria e não invadiu o espaço aéreo da Turquia.

"Sequer havia ameaça de entrar na Turquia (...), todo o voo estava sob meu controle até o momento da explosão do avião", declarou ontem à imprensa russa o segundo piloto do Su-24, Konstantin Murajtin, que foi resgatado em terra por soldados de forças especiais russas e sírias.

A Turquia, por outro lado, sustenta que a aeronave russa entrou no espaço aéreo turco e ignorou dez advertências.