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Blair pede desculpas por erros, mas afirma que mundo está melhor sem Saddam

Stefan Rousseau/AFP
Imagem: Stefan Rousseau/AFP

Do UOL, em São Paulo

06/07/2016 12h27

O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair se defendeu, em entrevista coletiva nesta quarta-feira (6), das acusações de um relatório oficial sobre a Guerra do Iraque divulgado hoje, crítico à atuação do premiê no início do conflito, em 2003.

Blair abriu a entrevista coletiva pedindo desculpas e se dizendo arrependido por ter confiado em informações que depois não se confirmaram --como, por exemplo, que o Iraque tinha armas de destruição em massa, nunca encontradas. Por outro lado, o ex-premiê rejeitou o argumento de que o mundo e o Iraque, hoje com parte do território dominado pelo Estado Islâmico, estejam piores do que na época de Saddam Hussein.

"Reconheço a divisão que aconteceu no país por causa da guerra e, particularmente, sinto sinceramente pelo sofrimento daqueles que perderam entes queridos no Iraque, seja membros de nossas forças armadas, das forças armadas de outros países e de iraquianos."

"Os dados de inteligência que tínhamos na época que fomos à guerra provaram estar errados. Os resultados foram mais hostis e sangrentos do que poderíamos ter imaginado. A coalizão se preparou para um cenário e encontrou outro,  a uma nação que queria ser livre e segura das maldades do Saddam se tornou vítima do terrorismo sectário. Por tudo isso, expresso tristeza, arrependimento e desculpas", afirmou.

Depois, ele esclareceu que não se arrepende por ter colaborado com a queda de Saddam, e nem aceita a ideia de que soldados britânicos morreram em vão. "Acredito que tomei a decisão certa. O mundo está melhor e mais seguro sem Saddam Hussein", declarou, em entrevista coletiva.

Segundo ele, se não fosse a queda do Saddam, o Iraque talvez tivesse sido parte da Primavera Árabe em 2011 e poderia ter um destino como o da Síria. Blair também afirmou que o Estado Islâmico cresceu na Síria e depois se expandiu para o Iraque. O ex-premiê também citou a situação dos curdos, que eram reprimidos por Saddam e hoje têm uma realidade mais segura com o governo xiita iraquiano.

Blair também pediu para pararem de dizer que ele mentiu ou teve "motivos desonestos" para colocar o Reino Unido na guerra. Ele afirmou que essa decisão foi a mais "difícil e agonizante" de sua trajetória como premiê e que ela foi baseada em "boa fé".

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Relatório crítico

O ex-funcionário do governo britânico John Chilcot divulgou nesta quarta-feira (6) o relatório sobre a guerra do Iraque, elaborado a partir da análise de milhares de documentos e interrogatórios de militares e políticos britânicos, entre eles o ex-primeiro-ministro Tony Blair, responsável da invasão do Reino Unido no Iraque ao lado dos Estados Unidos, em 2003.

O objetivo de Chilcot foi avaliar as decisões tomadas antes e durante a guerra, as medidas adotadas e determinar o que se pode aprender do episódio mais controverso do mandato de Blair.

Blair foi interpelado em duas ocasiões por Chilcot e pediu desculpas sobre a controvertida informação de inteligência que argumentou para intervir no Iraque, como a existência de armas de destruição em massa, o que eventualmente provou ser falsa.

Chilcot disse que seu objetivo não era processar ninguém porque ele não preside um "tribunal".

"Eu deixei muito claro desde o princípio, quando iniciei esta investigação, que se encontrasse coisas que mereciam críticas a indivíduos ou instituições, não iria fugir disso", afirmou.

Blair renunciou ao cargo de primeiro-ministro em 2007, mas sua credibilidade nunca se recuperou após a invasão de 2003. Grande parte dos britânicos acredita que ele nunca deveria ter enviado o país à guerra.

Um relatório de 2004 sobre as informações dos serviços de inteligência utilizadas na época descobriu que as evidências haviam sido exageradas, mas o autor, Robin Butler, afirmou na segunda-feira (4) que Blair "acreditava realmente" que estava fazendo o correto.

Os críticos do ex-premiê aguardavam o documento com impaciência. O ex-primeiro-ministro escocês Alex Salmond está buscando apoio no Parlamento para abrir um processo de impeachment ou para levar Blair aos tribunais.

O impeachment, que pode ser retroativo, foi utilizado pela última vez no Reino Unido em 1806 e é considerado obsoleto, mas poderia ser retomado para punir Blair de maneira simbólica, porque ele não ocupa nenhum cargo. Salmond disse no domingo que "é necessário prestar contas política ou judicialmente". (com as agências internacionais)

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