Topo

Estado Islâmico retém reféns como escudo humano em Mosul, diz Pentágono

SAFIN HAMED/AFP
Imagem: SAFIN HAMED/AFP

Em Washington

18/10/2016 16h36

Combatentes do grupo Estado Islâmico (EI) retiveram civis para impedir que abandonem a cidade de Mosul e os estão usando como escudos humanos, no segundo dia de batalha pelo controle desta cidade do norte do Iraque, informou o Pentágono.

"Sabemos que os estão usando como escudos humano", afirmou o porta-voz do Pentágono, capitão de navio Davis. "Estão sendo retidos contra sua vontade. Não vimos qualquer mudança no último dia, de pessoas fugindo ou abandonando a cidade", acrescentou.

Há relatos de que o líder do Estado Islâmico está entre os milhares de militantes linha-dura ainda na cidade, o que sugere que o grupo terá que se esforçar muito para repelir a coalizão.

Como as forças de ataque ainda estão entre 20 e 50 quilômetros distantes, moradores contatados por telefone pela agência Reuters disseram que mais de 100 famílias começaram a sair dos subúrbios do sul e do leste mais expostos à ofensiva rumo a partes mais centrais de Mosul.

Os militantes do Estado Islâmico estão impedindo que as pessoas fujam da localidade, disseram, e um deles contou que eles encaminham pessoas a prédios que os próprios radicais usaram recentemente.

"Está bem claro que o Daesh (Estado Islâmico) começou a usar civis como escudos humanos ao permitir que famílias permaneçam em edifícios que provavelmente serão alvejados por ataques aéreos", disse Abu Mahir, que mora perto da universidade da cidade.

Dezenas de milhares de combatentes iraquianos mobilizados para tomar Mosul do grupo extremista Estado Islâmico (EI) ganhavam terreno nesta terça-feira, no segundo dia da ofensiva de uma magnitude sem precedentes, que aumenta o temor de um êxodo de civis.

Avançando com caravanas de veículos blindados pelas planícies áridas que cercam a segunda cidade do Iraque, e apoiados por bombardeios aéreos da coalizão internacional antijihadista liderada pelos Estados Unidos, as forças iraquianas entraram em localidades onde o EI tenta resistir, constatou um jornalista da AFP.

Grandes colunas de fumaça se elevavam ao céu a partir de poços de petróleo incendiados, perto da retaguarda das forças iraquianas em Qayyarah, 70 km ao sul de Mosul. O céu estava coberto por uma fumaça cinza ao longo de quilômetros.

As forças leais ao governo de Bagdá avançam a partir de Qayyarah, assim como a partir de Jazir (leste), em direção a Mosul, último grande reduto do EI no Iraque. "Muitas localidades foram liberadas", indicou à AFP Sabah al Numan, porta-voz dos serviços antiterroristas iraquianos, uma das unidades de elite mobilizadas.

"Alcançamos nossos primeiros objetivos e inclusive mais, mas somos prudentes e nos agarramos ao plano", acrescentou.

Antes de alcançar as proximidades diretas de Mosul, onde entre 3.000 e 4.500 extremistas fortemente armados estariam entrincheirados, as forças iraquianas atravessarão territórios controlados pelo EI ao redor da cidade.

Vingança contra a população

Família foge de Bajwaniyah, vilarejo a 30 km de Mosul - AHMAD AL-RUBAYE/AFP - AHMAD AL-RUBAYE/AFP
Família foge de Bajwaniyah, vilarejo a 30 km de Mosul
Imagem: AHMAD AL-RUBAYE/AFP

Em Mosul, um habitante descreveu a atmosfera estranha e as ruas vazias. "O céu está sempre preto pela fumaça dos pneus queimados pelos extremistas", explicou por telefone Abu Saif, de 47 anos.

"No fundo, estamos felizes porque estamos prestes a ser libertados, mas temos medo que o Daesh se vingue contra a população", advertiu.

A operação começou e o "primeiro dia todo correu como estava previsto", afirmou o Pentágono. Acrescentou que 52 alvos foram destruídos por aviões da coalizão no primeiro dia da ofensiva.

No entanto, o EI prometeu a derrota dos Estados Unidos no Iraque em um vídeo divulgado por sua agência de propaganda.

As imagens divulgadas mostram um combatente extremista nas ruas de Mosul proclamando: "Respeito você, Estados Unidos (...) juramos por Deus que te venceremos no Iraque e faremos você sair derrotado e humilhado" deste país.

O ministro da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian, advertiu, no entanto, que a batalha pode durar várias semanas ou até mesmo meses.

Seu colega britânico, Michael Fallon, considerou, por sua vez, que "não será uma operação rápida", e que acredita que o EI lutará com fúria.

Esta batalha de Mosul que se aproxima aumenta os temores de um êxodo em massa da população.

Um total de 1,5 milhão de pessoas ainda vivem em Mosul e podem ficar presas em meio aos violentos combates ou ser utilizadas como escudos humanos pelos extremistas, como fizeram em outras cidades que perderam no Iraque nos últimos meses.

Várias organizações humanitárias pediram a instauração de corredores de segurança para que os civis possam fugir dos combates.

A coordenadora humanitária da ONU para o Iraque, Lise Grande, declarou na segunda-feira que ainda não há muita gente fugindo de Mosul, mas se referiu à possibilidade de que ocorram "importantes movimentos populacionais (...) em cinco ou seis dias".

Preparar refúgios

Duzentas mil pessoas podem ser deslocadas "nas duas primeiras semanas", número que pode aumentar significativamente à medida que a ofensiva avance, segundo a ONU.

"As agências humanitárias preparam refúgios em três regiões prioritárias no sul de Mosul onde os primeiros deslocados serão abrigados", acrescentou a ONU.

A Anistia Internacional (AI) pediu nesta terça-feira ao Iraque que garanta que suas forças de segurança e as numerosas milícias paramilitares não cometam abusos com os civis.

Segundo a ONG, as forças de segurança e as milícias detiveram de maneira arbitrária, torturaram e executaram milhares de civis que fugiam das zonas nas mãos do EI em ocasiões passadas.

A perda de Mosul pode produzir um fluxo para a Europa de combatentes extremistas dispostos a agir, advertiu nesta terça-feira o comissário europeu para a segurança, Julian King, em uma entrevista ao jornal alemão Die Welt.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) advertiram, por sua vez, que se preparavam para enfrentar um possível uso de armas químicas na ofensiva. (AFP e Reuters)