Como um candidato espera virar presidente dos EUA vencendo apenas um Estado
Hillary Clinton e Donald Trump, os candidatos democratas e republicanos à Presidência dos EUA, estão há mais de um ano em campanha, passando pelas prévias contra rivais de seus partidos até o duelo agressivo que tem sido a tônica da disputa pela Casa Branca em 2016. Mas um republicano anti-Trump, que se tornou candidato somente em agosto, sonha com a Presidência tomando um caminho muito mais curto.
Seu nome é Evan McMullin. Ex-agente da CIA (a agência de inteligência dos EUA), de 40 anos, McMullin era até pouco tempo atrás um assessor parlamentar do grupo republicano na Câmara de Deputados, seu maior cargo até hoje na política. Ele ainda é desconhecido da maior parte do eleitorado americano.
A estratégia dele começa com uma eventual vitória em Utah, seu Estado, onde já apareceu tecnicamente empatado com Trump e Hillary em algumas pesquisas eleitorais. Trump está na frente na maior parte das pesquisas, mas é rejeitado por parte dos eleitores mórmons, que não apreciam seu estilo agressivo, principalmente contra muçulmanos, refugiados e imigrantes. McMullin é mórmon e rejeita as propostas do republicano nessas questões.
Ganhando em Utah, McMullin receberia seis votos (de 538) no colégio eleitoral. Representa pouco no total, mas já seria um obstáculo a mais para Hillary e Trump conquistarem os 270 votos (50% mais um voto) que asseguram a vitória à Presidência. Um cenário, por exemplo, que tenha Hillary com 268 votos, Trump com 264 e McMullin com seis levaria o pleito a ser decidido na Câmara dos Deputados, entre os três candidatos mais votados.
Na Câmara, a votação não é distribuída entre os 438 deputados; cada Estado tem direito a um voto, o que significa que cada bancada estadual decidirá internamente quem será o seu candidato. Novamente, como no colégio eleitoral, é preciso ter maioria absoluta (26 de 50 votos).
E nesse cenário, em iguais condições contra os dois rivais, McMullin aposta em duas coisas: em um número maior de bancadas estaduais republicanas em relação às democratas (que naturalmente escolheriam Hillary) e na rejeição de parlamentares republicanos a Trump. Dessa maneira, o ex-agente da CIA se colocaria como uma espécie de terceira via "conciliadora", que seria um "mal menor" entre Trump e Hillary - ambos têm altos índices de rejeição entre o eleitorado norte-americano.
Segundo a emissora ABC News, um memorando escrito em agosto por Joel Searby, estrategista da campanha de McMullin, descreve esse como o caminho para a eleição de McMullin, em vez de uma campanha tradicional que tente fazer o candidato ganhar força nacionalmente. "Na Câmara, contra as posições profundamente divisivas de Trump e Clinton, e depois de mostrar força no colégio eleitoral, acreditamos que a mensagem de união de Evan irá prevalecer, diz Searby.
Além de ser contrário às ideias de Trump sobre imigração, McMullin também critica o temperamento do magnata, dizendo que ele não tem condições de ser presidente. Em suas próprias propostas, o ex-agente da CIA assume posições tradicionalmente republicanas, como o apoio ao livre comércio, a rejeição ao aborto e a defesa do direito dos cidadãos de adquirir armas.
"Neste ano em que os americanos perderam a fé nos candidatos dos dois grandes partidos, é hora de surgir uma nova geração de dirigentes. Os Estados Unidos merecem algo melhor do que Donald Trump e Hillary Clinton nos oferecem. Apresento-me humildemente como um líder que pode dar uma opção para milhões de conservadores descontentes", disse o candidato quando anunciou sua candidatura.
Outros dois candidatos, Gary Johnson (Partido Libertário) e Jill Stein (Partido Verde), também tentaram se apresentar como "terceira via" das eleições, mas suas candidaturas não decolaram. Segundo o site RealClearPolitics, que estabelece uma média entre as pesquisas eleitorais, Johnson tem cerca de 6% de intenções de voto em todo o país, e Stein recebe 2% - nenhum dos dois tem boas chances de vencer em algum Estado, de acordo com as pesquisas.
Chances "matemáticas"
Uma eleição de McMullin, no entanto, ainda parece muito improvável - o site de estatísticas FiveThirtyEight, que aglutina informações como as pesquisas eleitorais e índices demográficos de cada Estado, diz que ele tem cerca de 1% de chances de ser eleito. Sua torcida, portanto, lembra mais a de um técnico de um time que tem chances matemáticas de ser campeão e torce por uma combinação de resultados envolvendo seus adversários para chegar ao título.
A possibilidade de vencer em Utah, por exemplo, não é exatamente uma vantagem porque hoje o Estado, tradicionalmente republicano, tem Trump à frente nas pesquisas, não Hillary. Como a democrata está liderando as preferências na corrida presidencial, o ideal era que McMullin prevalecesse em um Estado onde Hillary fosse favorita, e não Trump. Vitórias em outros Estados com população considerável de mórmons, mas onde Hillary tem mais chances - como Nevada, Colorado e Arizona -, melhorariam suas possibilidades.
Hoje, o FiveThirtyEight e a emissora CNN estimam que Hillary tem entre 300 e 340 votos no colégio eleitoral, de acordo com as pesquisas eleitorais feitas nos Estados, o que já seria suficiente para garantir a eleição a seu favor. Trump teria entre 180 e 200. O site RealClearPolitics indica Hillary com 262 votos - a oito da maioria absoluta -, Trump com 126 e 150 votos ainda em disputa.
Desde 1968, nenhum independente ganhou um Estado
Mesmo que não consiga levar a eleição à Câmara, uma eventual vitória de McMullin em Utah seria histórica: desde 1968, nenhum candidato independente conseguiu quebrar a hegemonia democrata e republicana no colégio eleitoral.
Naquele ano, o democrata George Wallace, favorável à segregação racial e contrário às políticas liberais de seu partido na época, se lançou como independente e venceu em 5 Estados do Sul do país (Arkansas, Louisiana, Mississippi, Alabama e Geórgia), conseguindo 46 votos no colégio eleitoral.
A disputa principal ficou entre o republicano Richard Nixon e o democrata oficial Hubert Humphrey. Nixon levou 301 votos e 32 Estados; Humphrey conquistou 191 votos, ganhando em 14 Estados.
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