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Saúde mental de Trump põe EUA em perigo? Exame psicológico de presidentes é debatido desde 1994

Mark Humphrey/AP
Imagem: Mark Humphrey/AP

Do UOL, em São Paulo

09/01/2018 07h48

As reações descontroladas e sem filtro do presidente dos EUA, Donald Trump, acabaram tornando a saúde mental dele uma questão de interesse público e despertando uma discussão iniciada há mais de duas décadas em defesa de que a autoridade máxima do governo americano passe por uma avaliação psicológica periódica. Isto porque a 25ª emenda da Constituição americana é vaga ao definir critérios para certificar como um presidente é considerado inapto para a função.

Quem manifestou preocupação com a falha no sistema para determinar se o comandante-chefe dos EUA está mentalmente saudável foi o ex-presidente Jimmy Carter em 1994, logo após o ex-presidente Ronald Reagan (1981-1989) anunciar o diagnóstico de Alzheimer. Agora, especialistas do campo da psiquiatria defendem uma nova versão da proposta feita por Carter: eles defendem que Trump (e os próximos presidentes dos EUA) sejam avaliados por um grupo de médicos que possam avaliar não só a sua saúde física, mas também mental.

A avaliação física do presidente já é realizada --Trump passará pela avaliação nesta sexta-feira (12) no Centro Médico Militar Nacional Walter Reed. Presidentes costumam passar por essa avaliação anualmente ou a cada dois anos.

Especialistas em psiquiatria chegaram a propor, em um livro lançado no ano passado por 27 psiquiatras, "The Dangerous Case of Donald Trump" (O perigoso caso de Donald Trump, em tradução livre), que a junta bipartidária responsável por avaliar a saúde do presidente seja formada por três neuropsiquiatras (um clínico, um acadêmico e um militar), um psicólogo, um neurologista e dois clínicos gerais. O grupo teria um mandato de seis anos, e as avaliações do presidente seriam obrigatoriamente anuais.

Em artigo publicado no jornal britânico "The Guardian", a responsável pelo livro, a doutora Bandy Lee, da Escola de Medicina da Universidade Yale, nos EUA, apresenta uma série de sintomas que demonstrariam que Trump necessita de uma avaliação médica mental. 

"Sua função cognitiva, ou sua capacidade de processar conhecimento e pensamentos, começou a ser amplamente questionada. Muitos notaram um declínio distinto em sua capacidade de formar frases completas, manter uma linha de pensamento, usar palavras complexas e não fazer associações soltas. Isso é perigoso por conta da importância crítica da capacidade de tomada de decisão no cargo que ocupa. O declínio cognitivo pode ser resultado de um grande número de causas --psiquiátricas, neurológicas, médicas ou induzidas por medicação-- e, portanto, precisa ser investigada. Do mesmo modo, não sabemos se os sintomas psiquiátricos são devidos a transtorno mental, medicação ou condição física, o que apenas um exame minucioso pode revelar", diz Lee em seu artigo.

Lee lembra ainda que muitos dos supostos sintomas apresentador por Trump são muito comuns. "Mas é incomum encontrar uma pessoa com sinais de perigo na presidência", diz.

O americano Allen Frances, psiquiatra da responsável pela atualização do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, não concorda com a avaliação feita pelos colegas de profissão. Em uma postagem no Twitter, ele afirmou que considerar alguém doente por motivações políticas estigmatiza o sofrimento de pessoas que de fato têm distúrbios mentais, confundindo a doença com mau comportamento.

"Trump é definitivamente instável, impulsivo, narcisista, não só atualmente, mas há tempos. É impossível dizer o quanto ele é incompetente e desqualificado para ser o líder do mundo livre. Mas isso não o torna mentalmente doente", disse Frances ao "NYT".

Em abril do ano passado, o deputado democrata Jamie Raskin propôs a criação de uma comissão médica para determinar se o presidente está mentalmente ou fisicamente capacitado para ocupar o cargo e invocar a 25ª emenda. O projeto está parado.

A 25ª Emenda

Criada em 1965, a 25ª Emenda da Constituição americana determina que o vice-presidente pode se tornar presidente em três circunstâncias: morte, renúncia ou remoção do cargo. Ela ainda detalha de que forma o vice-presidente responderá pela presidência se o presidente estiver incapaz de desempenhar suas obrigações oficiais.

Antes do debate sobre a saúde mental de Trump, a única discussão sobre a Emenda foi realizada em 1987, quando Reagan --posteriormente diagnosticado com Alzheimer-- passou por uma cirurgia de próstata, após um procedimento cirúrgico de câncer de cólon. Depois que Reagan deixou o cargo e foi revelada publicamente a doença, em 1994, o próprio filho do ex-presidente, Ron, chegou a afirmar que os primeiros sintomas poderiam ter se manifestado ainda durante a permanência do pai na presidência.