Topo

Centro-esquerda europeia está ativa, pelo menos em Portugal

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Marc Champion e Joao Lima*

Da Bloomberg

15/04/2018 16h09

Os partidos social-democratas estão entrando em colapso em toda a Europa, vítimas do crescente nacionalismo e da incapacidade de oferecer respostas convincentes para a crise financeira da zona do euro. Exceto em Portugal, aparentemente.

O governo socialista de minoria do primeiro-ministro António Costa está em alta nas pesquisas de opinião, apoiado por um forte crescimento econômico, pela queda do desemprego e por um déficit orçamentário em níveis historicamente baixos.

Entrevistado na quarta-feira durante um roadshow para angariar investimentos em Londres, Costa soava como um clássico líder de centro-esquerda, nos moldes do ex-primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair. Ele defendeu a abertura das fronteiras e o livre comércio. Ele é um grande fã do presidente francês Emmanuel Macron e de suas iniciativas em prol de uma União Europeia mais integrada. Ele é contra a intromissão estatal na venda de campeãs nacionais privadas de Portugal.

"Conseguimos encontrar soluções dentro do sistema", disse Costa, quando perguntado por que não existe uma versão portuguesa dos partidos populistas que surgiram em todo o continente, da Alemanha, que é rica, à Grécia, que enfrenta dificuldades.

Como a economia está se recuperando - ela cresceu 2,7% no ano passado - e os imigrantes estão relativamente bem integrados, há menos espaço político para os populistas crescerem, disse ele.

Isso não era um fato consumado. Portugal foi um dos países mais duramente atingidos quando a crise da dívida soberana da zona do euro expôs desequilíbrios econômicos profundos em toda a periferia sul da Europa a partir do final de 2009. O país precisou de um resgate da UE e do Fundo Monetário Internacional e teve que tomar medidas de austeridade brutais. Os gastos com educação e saúde foram reduzidos. O desemprego disparou.

O Partido Socialista de Costa chegou ao poder apesar de ter ficado em segundo lugar na eleição de 2015, dependendo dos votos parlamentares de partidos de esquerda mais radicais. Ele entrou em conflito com outros governos da zona do euro logo no início, porque reverteu algumas das condições do resgate do país ao aumentar o salário mínimo e os salários do setor público. O crescimento chegou depois, à medida que a economia da zona do euro como um todo se recuperou.

Até agora, Costa e seu governo se tornaram uma espécie de causa célebre para a esquerda keynesiana da Europa, que considera que o sucesso das políticas portuguesas comprova o argumento contra a austeridade.

Costa, no entanto, considera que a trajetória do governo foi cuidadosamente calibrada para não ser nem expansionista nem austera fiscalmente. No ano passado, seu ministro das Finanças, Mário Centeno, foi escolhido para liderar o Eurogrupo, uma aprovação formal dos conservadores fiscais na Alemanha e em outros lugares.

Recuperação frágil

Na verdade, a economia de Portugal continua frágil. O nível da dívida soberana do país pode ter caído vários pontos percentuais no ano passado, mas, a 126 por cento do produto interno bruto, ele continua sendo o terceiro mais alto na zona do euro.

Críticos dizem que o governo confiou demais em um crescimento forte e expandiu o turismo, mas fez muito pouco para tornar a economia mais competitiva a longo prazo. Embora a razão dívida/PIB tenha caído em termos absolutos, a dívida pública bruta continua aumentando.

*Com a colaboração de Heather Harris e David Merritt