Pela primeira vez, Paraguai faz eleição bilíngue para escolher novo presidente
Instruções como “Ehai ko’ápe” –-ou “marque aqui”, em guarani-- estamparão pela primeira vez as cédulas eleitorais presidenciais no Paraguai, onde 4 milhões vão às urnas neste domingo (22). O candidato de direita, Mario Abdo Benítez, é considerado favorito, o que deve dar ao Partido Colorado mais cinco anos à frente do governo paraguaio.
Até então, todas as votações, assim como a maioria das comunicações escritas no Paraguai, aconteciam apenas em espanhol --idioma que, segundo estimativas oficiais, não é compreendido por 27% da população paraguaia. Desde 1992, a Constituição Paraguaia declara que ambos os idiomas são oficiais no país.
O país vizinho escolherá também senadores, governadores e deputados, no primeiro processo eleitoral nacional bilíngue de sua história.
“O guarani já é a língua do dia a dia dos paraguaios. Nosso esforço agora é trazê-lo para o universo das formalidades”, disse Ladislaa Alcaraz, ministra de Políticas Linguísticas. “Os candidatos usam o guarani durante as campanhas para que suas ideias cheguem a toda a população. Agora, é o Estado tentando recuperar o tempo perdido para se comunicar com os cidadãos”, completou a titular.
Em 2015, o país já havia, de modo experimental, incluído instruções em guarani nas cédulas utilizadas nos pleitos municipais. Agora, o idioma estreia em eleições nacionais e aparece também em materiais informativos, como cartazes e cartilhas que empregam, também pela primeira vez, regras ortográficas oficiais.
“O guarani está em processo de normatização. Ele é ensinado nas escolas desde 1994, mas o alfabeto foi aprovado em 2015, as regras ortográficas no ano seguinte e, em 2018, devemos fechar a gramática”, disse Carlos Ferreira, presidente da Academia da Língua Guarani.
Protagonismo eleitoral
Falado por 8 milhões de pessoas na América do Sul – incluindo 30 mil falantes no Brasil, segundo o IBGE, e mais de 5 milhões no Paraguai--, o guarani teve papel central nesta corrida eleitoral paraguaia, não apenas pela sua inclusão nas comunicações oficiais.
Durante as prévias do Partido Colorado --em que votaram quase 1 milhão de paraguaios--, Santiago Peña, o pré-candidato apoiado pelo presidente atual, Horacio Cartes, virou “meme” por não dominar o idioma nativo.
Peña tentou reverter a imagem publicando vídeos ao lado de sua professora de guarani e reconhecendo a dificuldade com a língua (“o som nasal é o que mais me custa”, dizia em um deles). Mas acabou superado pelo concorrente, fluente em guarani, Mario Abdo Benítez.
“Peña era poliglota, falava inglês, e não falava guarani”, resumiu o motorista de táxi Carlos Santos, em crítica ao político que mostrava dificuldades com a língua das ruas.
Em Assunção, onde se ouvem com frequência frases que começam em um idioma e terminam no outro, a novidade é recebida com pouca empolgação por parte da população. “Estamos acostumados a falar misturando o espanhol e o guarani, mas é mais fácil ler e escrever em espanhol”, disse a garçonete Carla Sanches, uma das 350 mil ‘brasiguaias’ no país – cidadã paraguaia descendente de família brasileira.
Para a ministra de Políticas Linguísticas, porém, mais do que efeitos práticos, a medida tem um peso simbólico. “Quando a pessoa vê aquele idioma escrito, em comunicações do governo, ela entende que aquela língua também tem prestígio”, defendeu Alcaraz.
Além do Paraguai, o guarani também é falado no norte da Argentina e em partes da Bolívia e do Brasil. Em 2010, o idioma foi declarado oficial, ao lado do português, no município de Tacuru, no Mato Grosso do Sul.
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