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Chanceler reverte estatuto da Apex e permite demissão de diretora olavista

A diretora de Negócios da Apex, Letícia Catelani, com o ministro Ernesto Araújo  - Reprodução/Twitter
A diretora de Negócios da Apex, Letícia Catelani, com o ministro Ernesto Araújo Imagem: Reprodução/Twitter

Talita Marchao

Do UOL, em São Paulo

07/05/2019 16h56

Uma mudança no estatuto da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), feita pelo chanceler Ernesto Araújo, abriu caminho para que o atual presidente do órgão pudesse demitir a diretora de negócios Letícia Catelani. O ministro das Relações Exteriores havia feito alterações esvaziando os poderes do chefe da agência em março e voltou atrás no mesmo dia da nomeação do almirante Sergio Ricardo Segovia Barbosa. Araújo e Letícia são ligados à ala olavista do governo.

Segundo a Folha de S. Paulo, aliados de Letícia afirmam que o estatuto da Apex foi desrespeitado, já que ela só poderia ser demitida pelo conselho da agência. Essa era a norma com as mudanças realizadas em março, que faziam com que o presidente da Apex só pudesse contratar e demitir funcionários com a assinatura conjunta de um dos diretores da agência de exportações.

Nas redes sociais, Letícia afirmou que "está pagando o preço". Ela relatou ainda ter sofrido "pressão de dentro do governo pela manutenção de contratos espúrios, além de ameaças e difamações". A empresária olavista é próxima do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e não esconde ser entusiasta do pensamento de Olavo de Carvalho, que foi responsável por indicações de alguns ministros do governo Bolsonaro --entre eles o próprio chanceler.

O esvaziamento das atribuições do presidente da Apex foi o motivo da saída, em abril, do segundo indicado por Jair Bolsonaro (PSL) para comandar a agência. Ao descobrir pela imprensa sobre as mudanças no estatuto, registradas em cartório pelo advogado da Apex, o embaixador Mario Vilalva deu declarações criticando abertamente o chanceler e os diretores da agência.

No site da agência, o estatuto que consta como vigente é o que foi aprovado em 2016 pelo senador José Serra (PSDB), que era ministro de Relações Exteriores na ocasião, e pelo embaixador Roberto Jaguaribe, ex-presidente da Apex que hoje comanda a embaixada brasileira em Berlim. O documento afirma que cabe ao presidente da Apex "decidir sobre os atos de contratação e dispensa de pessoal".

As demissões de Letícia Catelani e de Marcio Coimbra, diretor de gestão corporativa, foram anunciadas ontem pelo terceiro presidente da instituição, o almirante Sergio Ricardo Segovia Barbosa. Em comum, Catelani e Coimbra estiveram envolvidos nas demissões dos dois primeiros presidentes indicados por Bolsonaro. Alex Carreiro deixou a chefia uma semana depois de sua nomeação, ainda em janeiro.

Apesar de a exoneração de Coimbra (que também é próximo de Eduardo Bolsonaro) estar incluída no anúncio deste mês, o próprio ex-diretor da agência anunciou seu pedido de demissão nas redes sociais no fim de abril.

Bebianno comenta com ironia e "Game of Thrones"

Letícia fez parte da campanha do presidente Bolsonaro no ano passado --ela teria conseguido o avião que levou o médico Antonio Luiz Macedo, do Hospital Albert Einstein, após a facada sofrida em setembro. Foi ainda secretária-geral do PSL de São Paulo, até ser destituída do cargo, durante a campanha eleitoral. O ex-ministro Gustavo Bebianno estaria envolvido no desligamento de Letícia do cargo na campanha.

Nas redes sociais, Bebianno fez hoje uma postagem irônica em seu Instagram com dois personagens da série da HBO "Game of Thrones" com a frase "adeus, queridos". Na imagem, aparecem os personagens Daenerys Targaryen, mãe dos dragões, e Tyrion Lannister, que é um influente conselheiro dela, em referência à baixa estatura de Coimbra e aos cabelos loiros de Letícia.

Postagem de Gustavo Bebianno no Instagram - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Bebianno foi o primeiro ministro de Bolsonaro a ser demitido. Ex-secretário-geral da Presidência, foi presidente do PSL durante a campanha e caiu após o escândalo das candidaturas laranjas de seu partido e uma discussão com o filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), que chegou a publicar áudios trocados entre Bolsonaro e Bebianno.