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O Rei Alex: o homem por trás do movimento pela independência da Escócia

Alex Salmond cobre os olhos com bolinhos onde se lê "Aye" ("Sim", na pronúncia escocesa), em Kilmarnock, na Escócia. País votará nesta quinta-feira a independência do Reino Unido - Robert Perry/Efe
Alex Salmond cobre os olhos com bolinhos onde se lê "Aye" ("Sim", na pronúncia escocesa), em Kilmarnock, na Escócia. País votará nesta quinta-feira a independência do Reino Unido Imagem: Robert Perry/Efe

Christoph Scheuermann

18/09/2014 06h00Atualizada em 18/09/2014 08h08

Quando Alex Salmond está nervoso ou inquieto, ele esfrega a unha do polegar direito no seu polegar esquerdo, como se esfregando uma coceira. É um pequeno tique, um que se torna aparente após passar algum tempo com ele. Salmond é o ministro principal da Escócia, um cargo equivalente ao de primeiro-ministro, há sete anos e está lutando pela separação do Reino Unido. Nesta quinta-feira, os escoceses votarão em um plebiscito pela independência e as pesquisas indicam que Salmond nunca esteve tão próximo de sua meta.

Talvez, sem causar surpresa, ele desenvolveu um calo em seu polegar esquerdo

Por vários meses neste ano, os oponentes de Salmond puderam relaxar, confortáveis com a vantagem que desfrutavam nas pesquisas. Mas desde agosto essa vantagem encolheu e, na semana passada, em uma pesquisa realizada pelo YouGov, os separatistas atingiram 51% de apoio pela primeira vez, assim que os eleitores indecisos são retirados da equação. Outra pesquisa apontou o lado pró-união novamente à frente, mas com apoio de apenas 52%.

Desde então, o pânico tomou conta de Westminster. O primeiro-ministro David Cameron, seu vice-primeiro-ministro, Nick Clegg, e o líder da oposição, Ed Milliband, viajaram às pressas para o norte na semana passada, para defender a união de 307 anos com a Inglaterra. Em um discurso passional, Cameron disse que se tratava de "uma decisão sobre o próximo século".

Sede por poder

Salmond, o arquiteto do plebiscito, completará 60 anos neste ano. A luta pela independência da Escócia é a missão de sua vida e décadas de trabalho o conduziram a este ponto. Os escoceses o chamam – em parte por zombaria, em parte por admiração – de "Rei Alex". Mesmo assim, muitos escoceses votarão pela independência em 18 de setembro, não por causa de Salmond, mas apesar dele, já que 43% dizem estar insatisfeitos com seu ministro principal. Muitos eleitores o consideram satisfeito consigo mesmo e arrogante, além de acreditarem que ele é motivado pela sede por poder.

À primeira vista, Salmond – com suas mãos grossas e estatura atarracada – parece um fazendeiro afável colocado em um terno. Ele é uma pessoa fácil de subestimar, como as elites fizeram por muito tempo. Os políticos em Londres reconheceram o talento político e a audácia de Salmond quando ele ingressou na Câmara Baixa em 1987, pelo Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla em inglês), mas ninguém achava que os escoceses seriam tão temerários a ponto de quererem se separar do Reino Unido. Há um ano, o lado pró-união contava com 30 pontos de vantagem sobre os separatistas.

Debate amigável

Será difícil unir os escoceses após a votação, independente de qual seja o resultado? "Somos um pais com um equilíbrio de opinião. Não somos um país dividido", ele responde. Os dois lados são quase do mesmo tamanho e estão lutando passionalmente por suas posições, "mas estamos debatendo a independência de um modo totalmente pacífico".

Sua vida privada sempre é discreta. Ele é casado com Moira, a filha de um mecânico de automóveis, há 33 anos. Ela é 17 anos mais velha que ele e há apenas poucas fotos dela em circulação. Salmond a conheceu quando ele trabalhava no escritório do governo britânico na Escócia nos anos 70 – ela era a chefe dele. Eles se casaram em 1981. O casal não tem filhos e vive isolado em um velho moinho no vilarejo de Strichen, ao norte de Aberdeen.

Nos anos 90, Alex Salmond desenvolveu o SNP de um movimento patriótico nostálgico a um partido moderno de centro-esquerda. Ele se opõe a intervenções militares no exterior e gostaria de tornar a Escócia uma zona livre de armas nucleares. Salmond levou o SNP ao governo em Edimburgo pela primeira vez em 2007 e agora conta com maioria absoluta no Parlamento escocês. Ele sabe como conquistar os eleitores da classe operária; a concorrência dos liberais, trabalhistas e conservadores é fraca.

Um vilarejo pobre

Como muitos escoceses, Salmond cresceu com a crença de que sua terra natal é um vilarejo pobre que nunca sobreviveria sem o sul. Ele não mudou de ideia até começar a estudar economia. Salmond se tornou político durante os anos 80 por causa de Margaret Thatcher – em consequência dos cortes promovidos por ela no bem -estar social, das privatizações e do "poll tax" (capitação, imposto pago por cabeça), que foi introduzido na Escócia um ano antes que no restante do Reino Unido. A Dama de Ferro inspirou toda uma geração de patriotas escoceses, entre eles Angus Robertson, um dos mais antigos confidentes de Salmond.

Robertson ingressou no SNP na adolescência, em meados dos anos 80, foi diretor de campanha de duas eleições escocesas e ocupa uma posição importante na campanha do plebiscito. Como estudante, ele trabalhou no escritório de campanha distrital de Salmond, distribuiu panfletos e batia de porta em porta. Agora ele tem 45 anos e, de modo geral, pouco mudou em sua vida política.

Ele faz parte de uma geração de políticos jovens determinados do SNP, que inclui a vice-ministra principal Nicola Sturgeon, o presidente do SNP, Peter Murell, e o ministro escocês para assuntos rurais, Richard Lochhead. "Todos nós nos conhecemos desde crianças", diz Robertson. Eles formam um casulo em torno de Salmond e são leais a ponto de abnegação – outro motivo para o sucesso do SNP. "Alex espera de todos nós os padrões mais altos", diz Robertson. Apesar de se conhecerem há 28 anos, ele hesita em chamar o ministro principal de amigo. "Nós convivemos de forma amistosa", diz Robertson. Salmond não tem amigos, ele tem aliados.

Salmond agora está no ponto mais alto de sua carreira, mesmo que a força da campanha pela independência não seja totalmente obra dele. "Alex teve muita sorte como político", diz Alexander Bell, um ex-assessor do ministro principal.

O ministro principal atingiu um nervo dos escoceses. Sem a euforia dos membros da classe trabalhadora que agora estão estreitamente ligados ao SNP, o movimento teria murchado há muito tempo. Como resultado, o fato de Salmond não poder – ou não querer – esclarecer muitas questões a respeito do plebiscito não teve muito impacto. Perguntas como: que moeda uma Escócia independente teria? Como seria dividida a dívida nacional britânica? Quanto petróleo resta no Mar do Norte?

De fato, é possível que a pessoa mais surpresa com o sucesso do movimento separatista seja o próprio Salmond. Restando poucos dias para o plebiscito, no jardim central perto de Aberdeen, ele parece um homem desfrutando de seu triunfo. Ele termina calmamente seu chá e desaparece na chuva.