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Justiça federal dos EUA não deverá indiciar policial envolvido no caso Ferguson

Nabil K. Mark/ TNS/ Xinhua
Imagem: Nabil K. Mark/ TNS/ Xinhua

Matt Apuzzo e Michael S. Schmidt

Em Washington (EUA)

23/01/2015 06h00

Advogados do Departamento de Justiça recomendarão que nenhuma acusação de violação de direitos civis seja impetrada contra o policial que matou a tiro um adolescente desarmado em Ferguson, Missouri, após uma investigação do FBI não ter encontrado nenhuma evidência apoiando as acusações, disseram autoridades nesta quarta-feira (21).

O secretário de Justiça, Eric H. Holder Jr., e sua chefe de direitos civis, Vanita Gupta, terão a palavra final sobre se o Departamento de Justiça encerrará o caso contra o policial, Darren Wilson. Mas seria incomum eles indeferirem os promotores no caso, que ainda estão trabalhando no memorando legal explicando sua recomendação.

Uma decisão pelo Departamento de Justiça colocaria um fim à investigação politicamente carregada de Wilson na morte de Michael Brown, 18. As autoridades do Missouri concluíram sua investigação da morte de Brown em novembro e também recomendaram o não indiciamento do policial.

Mas uma investigação mais ampla de direitos civis pelo Departamento de Justiça das acusações de discriminação e uso de força excessiva pelo Departamento de Polícia de Ferguson continua aberta. Essa investigação pode levar a mudanças significativas no departamento, que é desproporcionalmente branco, apesar de servir a uma cidade de maioria negra.

Benjamin L. Crump, um advogado da família de Brown, disse que não comentará a investigação até que o Departamento de Justiça faça um anúncio oficial.

"Nós já ouvimos antes especulações sobre casos que acabaram não sendo verdadeiras", disse Crump. "Não se pode submeter a família a responder a cada rumor."

O advogado de Wilson não retornou os pedidos de comentários.

A morte de Brown provocou protestos e choques violentos entre manifestantes e policiais altamente armados em Ferguson. O incidente, juntamente com a morte de Eric Garner –um homem negro desarmado que morreu após receber uma gravata por um policial de Nova York, em julho– provocou discussão nacional sobre policiamento, racismo e uso de força mortal.

O presidente Barack Obama, Holder e o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, falando sobre a questão em termos pessoais, disse que entendiam a preocupação dos bairros de minorias com a polícia. Esses comentários provocaram reprovação por parte de alguns grupos de policiais.

Testemunhas disseram aos repórteres que Brown estava com as mãos levantadas, em gesto de rendição, quando foi baleado e morto por Wilson em uma rua da cidade.

A investigação do FBI, entretanto, pintou um quadro menos claro. Wilson disse aos investigadores que Brown brigou com ele e tentou pegar sua arma, um relato apoiado pelas escoriações e por evidência de DNA. Dois disparos foram feitos durante essa briga.

O que aconteceu em seguida, quando o confronto prosseguiu na rua, é contestado. Apesar de algumas testemunhas afirmarem com veemência que Brown estava de mãos levantadas, outras desdisseram sua história. Wilson afirmou que Brown investiu contra ele e outras testemunhas apoiaram seu relato.

"Eu recuei porque sabia que se ele me pegasse, ele ia me matar", Wilson disse ao grande júri estadual, em um depoimento que os investigadores disseram ser consistente com o que ele disse ao FBI. "E ele começou a se inclinar para a frente ao se aproximar, como se fosse me derrubar", disse Wilson.

Holder disse que a investigação pelo Departamento de Justiça da morte de Brown seria independente da conduzida pelas autoridades locais. Apesar do FBI e das autoridades locais terem realizado algumas entrevistas juntos e compartilhado evidências, a análise e tomada de decisão foram separadas. Holder resistiu aos pedidos das autoridades locais para que anunciasse sua conclusão juntamente com o promotor do condado no ano passado, em parte porque não queria que parecesse que chegaram a suas decisões juntos.

Os investigadores federais entrevistaram mais de 200 pessoas e analisaram áudio e vídeo de celular, disseram as autoridades. A arma de Wilson, roupas e outras evidências foram analisadas no laboratório do FBI em Quantico, Virgínia. Apesar das autoridades locais e da família de Brown terem pedido autópsias, Holder ordenou uma autópsia separada, que foi conduzida por patologistas do Escritório do Médico Legista das Forças Armadas, na Base da Força Aérea em Dover, Delaware, disseram as autoridades.

A investigação federal não descobriu nenhum fato que divergisse significativamente das evidências divulgadas pelas autoridades no Missouri no final do ano passado, disseram as autoridades. Para um indiciamento federal por violação de direitos civis, o Departamento de Estado precisaria provar que ele disparou intencionalmente, que ele sabia que era errado atirar, mas o fez assim mesmo.

O Departamento de Justiça planeja divulgar um relatório explicando sua decisão, apesar de não ter ficado claro quando. Dena Iverson, uma porta-voz do departamento, se recusou a comentar o caso na quarta-feira.