Rio+20: Acesso universal à energia é mais urgente que o incentivo a fontes renováveis
Universalizar o acesso à energia foi colocado como prioridade por representantes da sociedade civil convidados a discutir energias renováveis na Rio+20. Para eles, a atuação dos Estados e da ONU tem progredido na promoção de energias renováveis, mas perdeu de vista o objetivo de levar energia a todos.
“Acesso à energia é a meta do milênio que está faltando na lista de prioridades ONU. Por isso, na Rio+20 precisamos criar condições para levar energia sustentável a todos”, disse Sheila Oparaocha, secretária-executiva da Rede Internacional para o Gênero e Energia Sustentável da Zâmbia.
“Os países desenvolvidos se concentram muito em eficiência energética, mas países em desenvolvimento ainda enfrentam o desafio de levar energia a todos para reduzir a pobreza, promover a saúde e educação, proteger as florestas e empoderar as mulheres”, completou Antonio Vargas Lleras, presidente da empresa colombiana Codensa.
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A Rio+20 é a Conferência da ONU para Desenvolvimento Sustentável, que acontece até o dia 22 de junho no Rio. Até terça-feira (19), antes da reunião de cúpula da Conferência, representantes da sociedade civil discutem dez temas relevantes para encaminhar recomendações a chefes de Estado sobre as grandes questões da Rio+20.
As três recomendações da sociedade civil aos chefes de Estado da Rio+20 para o tema Energias Renováveis foram:
- Tomar medidas concretas para eliminar subsídios a combustíveis fósseis (via votação na Internet)
- Estabelecer metas ambiciosas para a transição para energias renováveis (votação da plateia presente nos Diálogos com a Sociedade Civil)
- Escalonar investimentos para garantir acesso igual à energia para todos (recomendação dos especialistas convidados a debater o assunto – com alterações)
Os panelistas chamaram atenção para o fato de que oito das dez recomendações postas inicialmente em discussão objetivam eficiência energética, enquanto apenas uma menciona o acesso à energia como um problema. “Isso reflete certamente as prioridades pessoais das pessoas que chegaram a essa lista, que já têm acesso à energia e computadores”, disse ainda Oparaocha.
Segundo a austríaca Christine Lins, secretária executiva da rede de energias renováveis REN21, importantes avanços nos últimos anos permitiram que chegasse hoje à proporção de 17% do total da energia consumida vindo de fontes renováveis. “Pelo menos 118 países já trabalham com mecanismos e metas para promover uma matriz energética sustentável. Mais da metade são países em desenvolvimento, e isso é muito bom.”
Subsídios e energia limpa
O painel apresentou dados da Agência Internacional de Energia mostrando que o mundo gasta hoje U$ 630 bilhões em subsídios a combustíveis fósseis e cerca de dez vezes menos – US$ 60 bilhões – no desenvolvimento de tecnologias e viabilização de energias renováveis.
Para Llleras, da Codensa, a destinação de apenas 5% ou 6% do que hoje é gasto com subsídios a combustíveis fosseis já seriam suficientes para incentivar largamente a produção de energia renovável. Mais recursos deveriam ser destindados à promoção do acesso à energia, em que são gastos US$ 9 bilhões anualmente.
Alguns dos especialistas convidados ao debate discordaram da recomendação que saiu da consulta aos internautas, que visa a cortar subsídios a combustíveis fósseis.
“Sou a favor da eliminação de subsídios para combustíveis fósseis no caso da gasolina para automóveis, por exemplo. No entanto, subsídio ao gás de cozinha ainda é muito importante para as famílias pobres e ajuda a prevenir o desmatamento. A questão do subsídio merece uma discussão mais cuidadadosa”, disse Luiz Pinguelli Rosa, pesquisador da UFRJ e secretário-executivo do Fórum Brasileiro sobre Mudança Climática.
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