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Gás carbônico na atmosfera atinge nível recorde e passa marco simbólico

Gráfico mostra aumento da concentração de gás carbônico ao longo do último ano, atingindo o pico em maio - Reprodução/NOAA
Gráfico mostra aumento da concentração de gás carbônico ao longo do último ano, atingindo o pico em maio Imagem: Reprodução/NOAA

Do UOL, em São Paulo

10/05/2013 16h14

Os níveis de gás carbônico (CO2) na atmosfera atingiram um recorde, informou o NOAA (centro americano de controle da atmosfera)  nesta sexta-feira (10). Pela primeira vez, foi registrada uma concentração diária maior do que 400 partes por milhão de dióxido de carbono no ar.

Segundo os pesquisadores, a última vez que os níveis atingiram esse valor ocorreu há milhões de anos. O gás é o principal causador do aquecimento global, que gera mudanças climáticas bruscas, como fortes tempestades, além de verões e invernos mais rigorosos.

Em 9 de maio, a concentração média diária de CO2 na atmosfera de Mauna Loa, no Havaí, ultrapassou 400 partes por milhão (ppm), pela primeira vez desde que as medições começaram em 1958. Este é um marco importante porque Mauna Loa é o local de referência mundial primária para monitorar o aumento deste gás.

O gás é lançado na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis (como carvão, petróleo e gás natural) e outras atividades humanas. Sua concentração tem aumentado a cada ano desde que os cientistas começaram a fazer medições nas encostas do vulcão Mauna Loa. Os pesquisadores apontavam 400ppm como o pico máximo que se podia chegar sem grandes efeitos para o meio ambiente. 

A taxa de crescimento se acelerou desde que as medições começaram, a partir de cerca de 0,7 ppm por ano em 1950 para 2,1 ppm por ano, durante os últimos 10 anos.

"Esse aumento não é uma surpresa para os cientistas", disse o cientista sênior Pieter Tans do NOAA. "A evidência é conclusiva de que o forte crescimento das emissões globais de CO2 provenientes da queima de carvão, petróleo e gás natural é o motor da aceleração."

  • Reprodução/NOOA

    Gráfico mostra o aumento da concentração de CO2 desde a revolução industrial

Antes da revolução industrial, no século 19, a média global de CO2 foi de cerca de 280 ppm. Durante os últimos 800 mil anos, o CO2 oscilou entre cerca de 180 ppm durante as eras glaciais e 280 ppm durante os períodos interglaciais quentes. A taxa de crescimento de hoje é mais de 100 vezes mais rápida do que o aumento que ocorreu quando a última era glacial terminou.

"Não há mais como impedir que o CO2 atinja 400 ppm", disse Ralph Keeling,  geoquímico do Instituto de Oceanografia Scripps, e filho de Charles David Keeling que iniciou as medições no Havaí. "Isso é agora passado. Mas o que acontece daqui em diante ainda importa para o clima, e ainda está sob nosso controle. E principalmente se resume a quanto continuamos a depender de combustíveis fósseis para a energia."

Cientistas da NOAA com a Divisão de Monitoramento Global têm feito medições em todo o mundo desde 1974. Ter dois programas para medir de forma independente o gás do efeito estufa proporciona maior confiança de que as medições estão corretas.

Além disso, aumentos similares de CO2 são vistos em todo o mundo por muitos cientistas internacionais. Uma rede de amostragem de ar global informou no ano passado que todos os locais do Ártico de sua rede chegaram a 400 ppm, pela primeira vez. Estes valores elevados eram um prelúdio para o que está sendo observado em Mauna Loa, um local em regiões subtropicais.

Os sinais serão vistos no hemisfério Sul durante os próximos anos. O aumento no hemisfério Norte é sempre um pouco à frente do hemisfério Sul, porque a maioria das emissões históricas são do Norte, com forte impacto dos EUA e também da Europa no passado.

Uma vez emitido, o CO2 fica na atmosfera e nos oceanos durante milhares de anos. Assim, as mudanças climáticas geradas por CO2 dependem principalmente emissões acumuladas, tornando-se progressivamente mais difíceis de evitar.

Análise

"Não há precedentes na História da Terra para uma elevação tão abrupta das concentrações de gases de efeito estufa", afirmou à AFP Mann, autor de dois livros sobre mudanças climáticas.

"Embora as coisas vivas possam se adaptar às lentas mudanças que ocorrem ao longo de dezenas de milhões de anos, não há razões para acreditar que elas - e nós - poderemos nos adaptar a mudanças que ocorrem um milhão de anos mais rápido do que as taxas naturais de mudanças", emendou.

Mann disse que os cientistas acreditam que o CO2 chegou aos níveis atuais pela última vez há mais de 10 milhões de anos, na metade do Período Mioceno.

Na época, as temperaturas globais eram mais elevadas, o gelo era esparso e o nível do mar era dezenas de metros mais alto do que hoje.

"A natureza levou centenas de milhões de anos para mudar as concentrações de CO2 através de processos naturais tais como o sepultamento natural de carbono ou as erupções vulcânicas", disse Mann.

"O que estamos fazendo é desenterrando isso. Mas não ao longo de 100 milhões de anos. Nós desenterramos e queimamos numa escala de tempo de cem anos, um milhão de vezes mais rápido", concluiu. (Com AFP)