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Após dez anos de vida silvestre, jacaré fica "amigo" de agricultor na Bahia

O agricultor Elias da Silva oferece comida ao seu "amigo jacaré" às margens de uma barragem em Maetinga, cidade do sertão da Bahia - Altier Souza/Divulgação
O agricultor Elias da Silva oferece comida ao seu "amigo jacaré" às margens de uma barragem em Maetinga, cidade do sertão da Bahia Imagem: Altier Souza/Divulgação

Mário Bittencourt

DO UOL, em Vitória da Conquista

06/08/2014 06h00Atualizada em 06/08/2014 19h46

A relação de "amizade" entre o homem e um animal silvestre geralmente acontece quando a proximidade entre os dois vem dos tempos em que o animal é recém-nascido. Mas em Maetinga, cidade no sertão da Bahia, o agricultor Elias da Silva, 40, e um jacaré se tornaram "amigos" após dez anos de vida silvestre.

Apesar de conhecer o animal quando ele tinha apenas cinco meses de vida, o agricultor conta que nunca chegou sequer perto do mesmo. O jacaré foi para Maetinga levado por um fazendeiro, junto com uma fêmea. Os dois foram colocados numa barragem a 5 km da cidade e em cuja margem fica a propriedade de Elias.

“Era um casal de jacarés criados na fazenda. Chegaram a ter filhotes depois que vieram para cá, mas eles sumiram. Quando estavam com uns dez anos, o outro sumiu. Não sei se quem ficou foi o macho ou a fêmea, não sei ver [o sexo do animal]”, contou o agricultor.  

Com seus cerca de 80 quilos, medindo cerca de 2 metros e solitário na barragem, o jacaré passou a fazer aparições próximo ao barco usado por Elias e mais dois amigos para pescar. “Ele encostava na gente e aí começamos a dar comida para ele. No começo era mais peixe. Ele era meio bravo no início, mas foi ficando manso”.

Seca fez "amizade" se consolidar

A relação de amizade começou a se fortalecer quando deu uma seca na região e a barragem secou. O animal, então, foi para outra barragem próxima, que teve o mesmo fim. Elias e os amigos acharam que o animal tinha sumido ou sido morto, mas acabaram o encontrando em uma terceira barragem, mais cheia, porém com poucos peixes.

“Quando o achamos, depois de três dias de procura, foi uma alegria só. Nessa época, como ele não tinha muito o que comer, passei a alimentá-lo todos os dias. Levava mais carcaça de galinha, e ele acabou ficando viciado”, disse Elias, aos risos.

“Pensei até em ligar para o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] para vir pegá-lo, mas deixei para lá”.

Depois que a seca passou, o animal voltou para a barragem onde estava e ficou mais perto de Elias. Hoje em dia ele alimenta o jacaré duas vezes na semana, sempre com carcaça de galinha, que é servida na boca, com o auxílio de um pequeno pedaço de pau.

O braço de Elias chega a ficar a menos de meio metro da boca do jacaré, que aparenta estar bem alimentado.

Para dar a comida ao jacaré, Elias chega próximo à margem da barragem e dá um grito “especial”. Também o chama de “corintiano”. “Eu chego, chamo ele, tem vez que está perto, com uns dois minutos ele vem.  Não dou diretamente na boca, que é muito grande”, contou o agricultor.

Prefeitura colocou placas na barragem para avisar sobre o perigo

Para tentar evitar acidentes, a prefeitura de Maetinga espalhou pelas margens da barragem placas de aviso de que há jacaré no local, destacando o perigo. “A barragem aqui é pública, às vezes chegam pessoas e ele corre. Mas tem vezes que as pessoas chegam à beira da barragem e ele fica cismado. Não é bom chegar perto”, avisa Elias.

Procurado, o Ibama informou que não se pronuncia mais sobre a fauna na Bahia, que é uma atribuição do Inema (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos), órgão estadual.

O coordenador regional do Inema Fabiano Ferraz disse que não há problemas em manter o jacaré no local.

“O que é prioridade é manter o animal em cárcere, mas como é uma barragem, não há motivo para ações deste órgão. O que recomendo é que as pessoas não se aproximem do animal, e acho que o agricultor tem muita coragem”, disse.