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Pepe Mujica defende redução do consumo e diz que jovens devem fazer mudança

O ex-presidente uruguaio e senador José Pepe Mujica (ao centro) criticou a cultura de consumo e incentivou a organização da juventude para mudar o mundo durante a abertura da 11ª Conferência da Juventude Latino-Americana sobre Mudanças Climáticas (COY11), que aconteceu na noite desta quinta-feira (26) na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis (SC). "Precisamos lutar por um mundo em que se mude a estrutura econômica e a distribuição [de riqueza]. Como consequência, vamos mudar a humanidade", afirmou Mujica - Eduardo Valente/ Framephoto/ Estadão Conteúdo
O ex-presidente uruguaio e senador José Pepe Mujica (ao centro) criticou a cultura de consumo e incentivou a organização da juventude para mudar o mundo durante a abertura da 11ª Conferência da Juventude Latino-Americana sobre Mudanças Climáticas (COY11), que aconteceu na noite desta quinta-feira (26) na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis (SC). "Precisamos lutar por um mundo em que se mude a estrutura econômica e a distribuição [de riqueza]. Como consequência, vamos mudar a humanidade", afirmou Mujica Imagem: Eduardo Valente/ Framephoto/ Estadão Conteúdo

Camila Rodrigues

27/11/2015 17h37

Ovacionado por um auditório lotado, com mais de 1,3 mil pessoas, o ex-presidente uruguaio e senador José Pepe Mujica criticou a cultura de consumo e incentivou a organização da juventude para mudar o mundo durante a abertura da 11ª Conferência da Juventude Latino-Americana sobre Mudanças Climáticas (COY11), que aconteceu na noite desta quinta-feira (26) na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis (SC).

O evento é um preparatório das lideranças de movimentos de jovens para participar da 21ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-21), que acontecerá em Paris na próxima semana.

Seu discurso durou 1h10 e foi marcado por uma sequência de frases de impacto sobre a responsabilidade da juventude universitária em relação ao futuro do planeta e sobre a mudança necessária na cultura consumista para que haja transformações sociais.

“Precisamos lutar por um mundo em que se mude a estrutura econômica e a distribuição [de riqueza]. Como consequência, vamos mudar a humanidade. Se quiser chamar de socialismo, chame. Chame como quiser, não importa! Estamos aprendendo com dor que nos esquecemos da cultura, e que se não a cultura não muda, nada muda. E a cultura não são quadros de pintura na parede (...), ou produtos de mercado que chamamos de cultura. A cultura são os valores que regem nossa existência e nossa conduta”. Ela associa a criação de uma nova cultura à produção de conhecimento, que “não pode ser somente um instrumento a serviço da acumulação” mas tem de ser também “à favor da vida”.

Nesse sentido, Mujica também refletiu sobre o conceito de civilização, definida como a possibilidade de acumular sabedoria e conhecimento ao longo das gerações, mas que, contraditoriamente, não tem sido capaz de evitar a destruição da natureza. “O ser humano é o único animal que tropeça várias vezes na mesma pedra. Luto para que as próximas gerações não cometam os mesmos erros da minha", lamentou.

Durante toda a fala, ele direcionou a responsabilidade sobre as mudanças do mundo à juventude, principalmente universitária, “que não tem a desculpa da ignorância”, mas que “nunca terão tempo para se dedicar às causas coletivas se aderirem à cultura de mercado”.

“Não teremos um mundo melhor por geração espontânea. Será preciso um grupo humano organizado coletivamente. Não depende do surgimento de um gênio. A história de homens importantes dependem de causas profundas, e as causas profundas dependem da disciplina de muita gente organizada”, relembrou.

Tema recorrente de suas palestras, o ex-presidente também tratou da importância da integração latino-americana. “Seremos capazes de integrar nossas universidades, nosso conhecimento? Se não integramos a inteligência da América, não integramos nada”.

Para ele, integrar as pátrias latino-americanas não significa que cada uma perderá a independência, mas que todas a conquistarão enquanto bloco, que passará a ter peso político no mundo.

“Nosso principal cliente é a República Popular da China. Como lidar com isso? Já não podemos renunciar a esse comércio?”, reflete.

Mujica não tratou de nenhum impacto ao meio ambiente específico, apesar das constantes interrupções da plateia sobre o caso do rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG). Também não foi aberto nenhum espaço para perguntas e, segundo a organização do evento, uma das condições para a participação do senador no evento era não interagir com a imprensa.