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Bagre não é tubarão: acidentes são comuns, mas peixe não ataca banhistas

Assessoria de Comunicação/Universidade Santa Cecília
Imagem: Assessoria de Comunicação/Universidade Santa Cecília

Fabiana Marchezi

Colaboração para o UOL, em Campinas

13/01/2016 06h00

Apesar de pouco divulgados, incidentes com bagres na praia são mais comuns do que podemos imaginar. Somente no último fim de semana, duas banhistas ficaram feridas após entrarem em contato com o peixe em Itanhaém, no litoral sul de São Paulo.

Entretanto, segundo Vidal Haddad Junior, pesquisador de acidentes com animais aquáticos e professor da Faculdade de Medicina de Botucatu, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), os bagres não atacam e os banhistas não precisam temê-los. “Com certeza, foi a pessoa que esbarrou no animal morto e acabou sendo ferida”, explicou.

Mesmo frequentes no litoral, esses casos causam um certo receio entre moradores e turistas. “Em 100% dos casos, os incidentes ocorrem com o animal morto, geralmente descartado por pescadores amadores. Vivo, o bagre jamais estaria próximo aos banhistas. Os acidentes sempre acontecem quando o banhista se choca contra o peixe. O problema é que o peixe tem três espinhas nas nadadeiras – uma peitoral e duas dorsais, que formam um triângulo – onde os ferrões ficam armazenados. Quando tocada, a nadadeira fura e libera o ferrão, ferindo a pessoa”, explica.

Mesmo quando o peixe morre, o veneno contido no ferrão fica ativo por horas e quanto menos tempo fizer que o peixe está morto, mais vai doer. O fato de a nadadeira ser afiada e serrilhada intensificam a dor. “É uma dor terrível, alucinante”, contou Haddad Junior, com base em estudos e relatos de pacientes atendidos por ele.

“Os acidentes mais comuns ocorrem quando a pessoa está caminhando na areia ou na beira do mar, não vê que o peixe está morto ali e pisa. Mas também há casos, mais raros, como os do último fim de semana”.

Apesar de os incidentes preocuparem moradores e banhistas, Haddad garante que não há motivo para pânico. “Não houve ataque dos peixes. Eles não atacam humanos e nem ficam à beira mar. O que houve foi o contato das pessoas com eles”, comentou.

Não pode tirar o peixe

Para ele, o ideal é estar sempre atento para evitar contato com o animal. Mas quando o contato já aconteceu e já ocorreu o ferimento, o mais importante é tentar manter a calma -- apesar da dor insuportável -- e não tentar tirar o peixe.

Por ser afiada e serrilhada, a nadadeira só pode ser retirada por um médico para não provocar mais estragos e infeccionar.

Se houver socorrista no local, o próprio socorrista geralmente corta o peixe, deixando apenas a nadadeira para que ela seja retirada no pronto socorro, com anestesia. “O médico vai anestesiar e com o bisturi abre um pouquinho em cada lado e remove com facilidade, sem maiores danos”, ressaltou.

Ele também disse que após o contato, para aliviar a dor, a pessoa pode mergulhar a parte atingida em água doce -- morna para quente -- até chegar ao hospital.

Segundo Gustavo Pasquarelli, infectologista e chefe da enfermaria do Hospital Emílio Ribas da Baixada Santista, após a remoção, por segurança, a pessoa deverá tomar antibiótico para evitar infecções. “Ao chegar ao hospital, o paciente vai passar por uma boa higienização do local, antes de ter o ferrão removido. Após a remoção, o uso de antibiótico por uma semana é indispensável para que o ferimento não evolua para uma infecção grave”, explicou.

Além da bactéria da água do mar, da areia e do próprio peixe morto, existem as bactérias da pele, que podem se manifestar a qualquer sinal de ferimento. “O cuidado a ser tomado é o mesmo de quando o ferimento é provocado por faca, flecha, bala de revólver, por exemplo”, ressaltou.

Ele também destacou que é importante estar com a vacina antitetânica em dia. “A vacina é adequada para evitar complicações em qualquer tipo de ferimento”, concluiu Pasquarelli.

Casos

Duas mulheres ficaram feridas após terem contato com bagres nos últimos dias. O primeiro caso foi na sexta-feira (8), quando ao mergulhar no mar, a mulher atingiu a nadadeira do peixe com a barriga. O outro incidente foi no dia seguinte, quando outra banhista ficou ferida ao atingir o bagre com o cotovelo. As duas passam bem e os dois peixes estavam mortos.

As regiões onde os acidentes geralmente acontecem são próximas e marcadas pelo encontro do rio com o mar. Nesta época, os bagres procuram o rio para colocar seus ovos, mas costumam ficar em alto mar, longe dos banhistas. Eles só vêm pra perto dos banhistas quando estão mortos e são trazidos pela correnteza ou quando são descartados mortos pelos pescadores.

Entretanto, Haddad aconselha os banhistas a ficarem atentos para evitar esses incidentes. Os bagres-marinhos são muito comuns no litoral brasileiro e, apenas em São Paulo, há pelo menos oito espécies diferentes. Eles comem moluscos, camarões e peixes menores.