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Aprovação automática e baixos salários prejudicam educação em São Paulo

Especial para o UOL

18/04/2014 06h00

Algo está errado com a educação oferecida pelas escolas estaduais de São Paulo. Quando me deparo com a informação que indica que 800 mil estudantes (46% dos alunos da rede estadual de ensino) admitem ter passado de ano sem aprender, concluo que há algo errado com o modelo de progressão continuada que vem sendo aplicado no Estado de São Paulo.

Na realidade, não tivemos progressão continuada na rede estadual de ensino, e sim uma "aprovação automática" dos alunos, sem que estejam presentes todas as condições necessárias para a aprendizagem. O modelo atual foca na aprovação ou reprovação dos estudantes.

No entanto, é necessário um conjunto de medidas que possibilite seu pleno desenvolvimento em cada ciclo, e sua progressão com qualidade.

Essas informações são recentes e estão na pesquisa encomendada pela Apeoesp (sindicato dos professores) ao instituto Data Popular sobre a “Qualidade da Educação nas Escolas do Estado de São Paulo”.

O estudo também confirma algo que já venho afirmando: há um deficit de professores na rede estadual de ensino. É preciso que este problema seja sanado para que possamos avançar no sentido de uma educação de qualidade.

É válido lembrar que houve um progresso com a realização de recente concurso que aprovou 116 mil professores para 59 mil vagas. Mas ainda persistem mais de 50 mil professores contratados de forma precária por tempo determinado, com direitos reduzidos e obrigados a afastamentos periódicos para que não sejam criados vínculos trabalhistas. Isso prejudica a qualidade da educação.

Outro ponto fundamental que precisa ser melhorado com urgência está ligado ao salário do professor de escola estadual, que é baixo.

Sendo assim, a sobrecarga de trabalho é inevitável, pois o professor acaba sendo obrigado a trabalhar em várias escolas e períodos, favorecendo faltas e comprometendo o tempo dedicado à preparação das aulas  –  40% dos professores complementam sua renda lecionando em mais de uma escola e, o pior, um terço diz que a complementa com atividades que não estão ligadas ao magistério.

Algumas medidas já foram tomadas, mas a situação está longe de ser aceitável.

Por outro lado, como educadora e presidente da Apeoesp, fico muito feliz em constatar que, apesar das ineficiências do sistema, que poderiam prejudicar o reconhecimento dos professores, os docentes foram aprovados frente à comunidade escolar.

Além disso, fico satisfeita em ver professores sendo aprovados no último concurso público, cujas provas tiveram elevado grau de dificuldade.

Se é verdade que não existe solução mágica para darmos o salto de qualidade que tanto sonhamos na educação, podemos afirmar que a melhora do ensino passa, necessariamente, pela valorização do professor. Temos de ter orgulho de ser professores. 

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