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Dilma se emociona ao se despedir de Luiz Sérgio do Ministério da Pesca

Camila Campanerut

Do UOL, em Brasília

02/03/2012 12h40Atualizada em 02/03/2012 22h11

A presidente Dilma Rousseff se emocionou nesta sexta-feira (2) ao se despedir do petista Luiz Sérgio, que deixa o Ministério da Pesca e Aquicultura para ser substituído pelo senador Marcelo Crivella (PRB).

"Quero agradecer ao Luiz Sérgio. Obrigada, você foi e é um amigo, um parceiro e compreende a natureza que a política, muitas vezes, acaba por nos impor em nome dos interesses do país", afirmou a presidente, com voz embargada, durante discurso na cerimônia de posse realizada em Brasília. Sérgio retomará suas atividades como deputado federal. Há oito meses, Luiz Sérgio saiu da Secretaria de Relações Institucionais --substituído por Ideli Salvatii-- e foi para o Ministério da Pesca.

“Nós temos certeza de que, ao longo do caminho, muitas vezes somos obrigados a prescindir de grandes colaboradores.”

A presidente destacou que seu governo de coalizão inclui governar para todos. “A entrada do senador Marcelo Crivella no meu governo significa o reconhecimento do Partido Republicano Brasileiro nesta grande coalizão que me ajuda a governar, representa a volta do PRB ao exercício do Poder Executivo, já que este partido esteve conosco não apenas no ministério, mas na vice-presidência da República com o nosso querido José Alencar”, afirmou. “Não há contradição em governar baseado em uma coalizão. Isso só é contraditório para aqueles que não percebem que é possível e necessário, quando se chega ao governo eleito pelo voto popular, falar para todos os brasileiros.”

Em sua fala, Sérgio reforçou que continuará apoiando o governo de Dilma. “Retorno ao Parlamento com o firme propósito de defender as políticas do governo, que é o meu governo, com o mesmo empenho que defendi as políticas do governo do presidente Lula. Seguirei sendo um firme defensor da pesca na Câmara dos Deputados", disse.

Em seu discurso, Crivella brincou com uma afirmação dita ontem, quando mencionou que seus conhecimentos sobre o assunto da pasta são nulos. “Não quero que a presidente fique triste por ter um ministro que não sabe colocar minhoca no anzol. Colocar minhoca no anzol, a gente aprende rápido. Pensar nos outros que é um pouco mais difícil.” 

Já Dilma afirmou: “A gente aprende a colocar linha no anzol, o que é difícil é aprender a governar, de fato, para todos os brasileiros e brasileiras”.

Em tom de culto evangélico, Crivella agradeceu a Deus e à presidente a sua nomeação e citou o bispo Edir Macedo ao firmar seu compromisso com a pasta. “Quem pensa nos outros, pensa como Deus”, repetindo as palavras do bispo da Igreja Universal do Reino de Deus. “Com o convite reiterado [pela presidente], desde logo entendi que se tratava de uma homenagem de vossa excelência ao povo fluminense, e eu não poderia negar o desafio”, disse Crivella, que é do Rio.

O novo ministro teceu elogios à atenção da presidente ao seu eleitorado e reforçou o compromisso dela de respeitar os contratos das empresas petroleiras no Rio de Janeiro sobre a polêmica discussão da divisão dos royalties do petróleo na camada pré-sal, que está em discussão no Congresso Nacional.

Crivella também afirmou que sua gestão buscará cumprir o conjunto de metas estabelecidas pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência para o setor de, até 2022, aumentar a produção anual da aquicultura sustentável em cinco vezes, dobrar o consumo nacional per capita de pescado e gerar mais de 1 milhão de empregos na atividade pesqueira.

“Para atingir esses objetivos, vamos precisar de muita pesquisa, vamos precisar da Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] da Pesca e para isso vamos precisar de engenheiros. Temos apenas 1,4 mil engenheiros de pesca no Brasil, talvez aí resida uma das nossas maiores vulnerabilidades e uma questão importante que temos que enfrentar”, afirmou.

Eleições municipais

Na quarta-feira (29), dia do anúncio oficial de sua nomeação, Crivella negou que tenha sido escolhido pelo Planalto para interferir no cenário da disputa pela Prefeitura de São Paulo. "Acho que o PRB em São tem um candidato, que é o Celso Russomano, e em nenhum momento quando a presidente me convidou isso foi aventado. Pelo contrário, só tivemos conversas técnicas", disse. Crivella, porém, assumiu que sua entrada no ministério poderá melhorar a relação do governo com os evangélicos.

“Acredito que, sim [haverá maior aproximação], embora não tenha sido esse o objetivo quando ela [Dilma] me convidou”, afirmou ele em entrevista coletiva. “Sempre trabalhei na bancada evangélica para dirimir controvérsias.”

A entrada de Crivella no quadro ministerial contempla mais um partido da base aliada do governo, o PRB –legenda do ex-vice-presidente José Alencar, morto em março de 2011.

Bancada Evangélica

A relação da bancada evangélica com o governo estava estremecida após dois episódios: o mal-estar criado com a fala do ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência da República) no Forúm Social Temático –quando afirmou que o Estado deveria fazer disputa ideológica pela "nova classe média", que estaria sob hegemonia de setores conservadores, como os evangélicos– e com a elaboração pelo Ministério da Educação de um kit de combate à homofobia que seria distribuído em escolas públicas, conhecido como “kit gay”.

Na ocasião, a bancada usou como moeda de troca a ameaça de apoiar as investigações sobre o então ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. O resultado foi a suspensão da distribuição do kit.

Troca

O anúncio oficial sobre a troca na pasta foi feito pelo porta-voz da presidente, Thomas Traumann, durante as férias de Luiz Sérgio. O próprio ministro só se pronunciou horas mais tarde por meio de uma nota, na qual agradeceu a presidente e disse que continuaria a apoiar o governo dentro da bancada na Câmara.

A insatisfação com Luiz Sérgio não é recente. Em junho do ano passado, ele foi substituído na Secretaria de Relações Institucionais pela senadora Ideli Salvatti (PT-RS), que estava no comando da Pesca. Esta primeira troca ocorreu depois de uma série de críticas de parlamentares sobre a falta de representatividade dele na função de interlocutor dos congressistas com o Palácio do Planalto.