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Frente Parlamentar Evangélica diz que mal entendido com ministro é "matéria vencida"

Camila Campanerut

Do UOL, em Brasília

15/02/2012 13h51Atualizada em 15/02/2012 15h14

Depois de mais de duas horas de reunião, o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, João Campos (PSDB-GO), afirmou nesta quarta-feira (15) que o mal-estar entre os parlamentares evangélicos e o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República, é “matéria vencida”.

“[O ministro] Se retratou de forma sincera e honesta, de tal forma que, para a frente parlamentar evangélica, isto é uma matéria vencida”, resumiu o tucano.

Carvalho tem sido motivo de discursos inflamados de parlamentares da frente no Congresso após declarações durante o Fórum Social Temático, em Porto Alegre, no mês passado, em que afirmou que o Estado deveria fazer disputa ideológica pela "nova classe média", que estaria sob hegemonia de setores conservadores, como os evangélicos.

“Deram uma interpretação de que o governo se armava para fazer uma guerra de disputa com as igrejas evangélicas, eu vim aqui para dizer que isso não é verdade. Não temos esta intenção. Pelo contrário, o governo vê as igrejas evangélicas como parceiras”, relativizou o ministro.

“Está resolvido o problema e o pedido de desculpas que fiz, o pedido de perdão, não foi pelas minhas palavras, mas pelos sentimentos que eles provocaram em alguns deputados e senadores em função das interpretações que surgiram em Porto Alegre”, reiterou o ministro. 

O ministro se comprometeu ainda em publicar ainda hoje uma nota oficial sobre o assunto. Na avaliação de Campos, a nota é o suficiente para demonstrar o arrependimento da fala do ministro.

Isso porque, durante a reunião a portas fechadas em um plenário da Câmara dos Deputados, o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), sugeriu que ele assinasse um documento dizendo que o governo não está criando uma rede de comunicação para enfrentar os evangélicos, que não mudaram de posição em relação a não se manifestar em relação à descriminalização do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

“Se o ministro está pedindo perdão é porque reconhece o erro que cometeu (...). Estamos lhe perdoando, agora Garotinho lhe fez uma proposta que eu acho que é o ideal, para que ele assine um documento antes de sair", declarou o senador Magno Malta (PR-ES), que foi voto vencido entre seus colegas de frente.

O encontro serviu para o ministro reafirmar a “atenção” e o “carinho” ao grupo de 77 deputados e três senadores que apoiaram a presidente Dilma Rousseff durante a campanha eleitoral e que pode ser decisivo para o governo em votações apertadas no Congresso Nacional.  

Carvalho disse que retomaria um calendário com reuniões periódicas para ouvir as propostas do grupo.

Outras polêmicas

Com relação ao temor de que a nova ministra da Secretaria das Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, pudesse defender o aborto em evento na ONU, que começa hoje, o ministro acalmou os parlamentares e afirmou que, desde a posse, a ministra irá defender a posição de governo e não a pessoal, ou seja, a de que o assunto não é prioridade e que depende apenas do Congresso para avançar ou não nas alterações da legislação. 

Carvalho, porém, saiu sem comentar outras polêmicas envolvendo seu nome. Ainda ontem (14), a oposição no Congresso entrou com um pedido de investigação no Ministério Público Federal sobre a relação do ministro com a advogada Christiane Araújo de Oliveira. Ela é ligada ao delator do esquema de corrupção no Distrito Federal, Durval Barbosa, que culminou na prisão e cassação do ex-governador José Roberto Arruda e ajudou o petista Agnelo Queiroz a se eleger.

Reportagem da revista “Veja” deste fim de semana diz ainda que o ministro também trocou e-mails com a advogada com outra finalidade: a de ajudar na recondução de Leonardo Bandarra ao cargo de procurador-geral da Justiça do DF.

Com base na matéria, o líder do PSDB, Bruno Araújo (PE), também encaminhou uma consulta à Comissão de Ética da Presidência da República sobre o caso para avaliar se o comportamento do ministro foi adequado e se houve ou não “tráfico de influência”.