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Ministra da Cultura acusa "campanha de má-fé" para desestabilizá-la

Ministra não revelou quem trama para tirá-la da pasta - Sergio Lima/Folhapress
Ministra não revelou quem trama para tirá-la da pasta Imagem: Sergio Lima/Folhapress

Maurício Savarese

Do UOL, em Brasília

21/03/2012 13h24

Pressionada no cargo desde o início do governo Dilma Rousseff, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, afirmou nesta quarta-feira (21) a parlamentares que sofre uma "campanha de má-fé" para tirá-la da pasta. Apesar de ter ouvido críticas dos próprios deputados na Comissão de Educação e Cultura, ela preferiu não nomear quem deseja afastá-la do cargo.

"Essa campanha não pode ser levada a sério", disse a ministra, ao tratar das críticas que recebe pela criação de um órgão para supervisionar o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), que não é ligado à pasta da Cultura."Não estamos contemplando o Ecad como alguns gostariam. Mas o que há é má-fé."

A ministra agradeceu pelas "puxadinhas de orelha" que recebeu dos parlamentares. O Senado também espera ouvi-la em uma comissão, nas próximas semanas.

Sobre o Ecad, Ana de Hollanda afirmou: "há uma preocupação, sim, com a defesa dos direitos autorais. Para isso, estamos trabalhando num projeto de lei que trata do assunto, mas não posso aceitar informações errôneas, que distorcem os fatos". 

Marcação cerrada

A trajetória de Ana de Hollanda no governo Dilma Rousseff esteve ameaçada desde sua chegada à pasta, no início de 2011, por intelectuais à esquerda e à direita. Aos 63 anos de idade, a cantora fez carreira burocrática na Funarte (Fundação Nacional das Artes) e há meses era cogitada como uma das que deixariam o cargo na reforma ministerial deste ano.

Sua primeira medida que causou discórdia foi tomada com menos de um mês no ministério: retirou do site da pasta a licença Creative Commons, que permite ampla disseminação e cópia de produção cultural. Ana alegou que os textos divulgados por órgãos do governo federal já permitem isso sem restrições, mas não conseguiu aplacar a fúria dos adversários.

Um mês e um corte de orçamento depois, a ministra foi chamada de “meio autista” pelo professor Emir Sader, seu indicado para gerir a Fundação Casa de Rui Barbosa, em entrevista dele à “Folha de S.Paulo”. Com a repercussão negativa, desistiu de colocar o militante esquerdista na chefia do órgão, no qual empossou Wanderley Guilherme dos Santos.

Em março, Ana minimizou as críticas pela aprovação de um projeto de R$ 1,3 milhão para criar um blog de leituras de poesia feito para sua amiga Maria Bethânia. Para ela, “não tem nada demais” nos R$ 600 mil pagos à cantora, aprovados junto do valor total com captação via lei de incentivos culturais.

Novas denúncias

Pressionada a levar ao Congresso uma lei de direitos autorais, a ministra se isolou. Precisou de um “fica firme, Ana” da presidente Dilma para que os colegas não a vissem como um fantasma no governo. A situação, no entanto, não ficou mais cômoda por conta de reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo”, atribuindo pagamento de diárias indevidas à ministra.

Ela passaria fins de semana no Rio de Janeiro sem agenda oficial, o que teria rendido, em quatro meses de 2011, R$ 35,5 mil em 65 diárias, sendo que em pelo menos 16 delas a ministra não tinha compromissos de trabalho. Pouco depois, sua pasta foi criticada por captar R$ 1,9 milhão para a primeira turnê da cantora Bebel Gilberto – sobrinha de Ana.

Liberada pela Comissão de Ética da Presidência da República, Ana afirmou  que as críticas à sua gestão eram “turbulências forjadas”. Pouco depois, em agosto, pediu “ajuda” de empresários para gerir o ministério. Acabou perdendo Marta Porto, da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural. Ela alegou “falta de espaço e de confiança” para trabalhar.

Resistente às quedas de ministros no governo Dilma, Ana também teve de aguentar as vaias na abertura do Festival de Brasília de Cinema Brasileiro, em setembro. Em meio à crise que levou à queda de Orlando Silva, titular da pasta dos Esportes, a ministra também sobreviveu ao boato de que teria deixado o cargo para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

Aquele sinal, em outubro, foi o primeiro de que ela faria parte da reforma inicial deste ano de eleições municipais. Apesar de dizer que não ia “entrar na noia”, contou com aliados no Congresso e no governo para se segurar. O clima para ela melhorou ainda mais quando a mesma Comissão de Ética aprovou subsídios à tradução de um livro de seu irmão.

O último capítulo de sua queda anunciada veio com um manifesto de intelectuais, pedindo sua saída. O Planalto a manteve.