Ameaças eram constantes na vida de Décio Sá, dizem amigos do jornalista
Amigos do jornalista Décio Sá, morto a tiros na noite desta segunda-feira (23) em São Luís, disseram que as ameaças eram constantes na vida da vítima. O jornalista estava jantando sozinho em um restaurante da avenida Litorânea, em São Luís, quando um homem se aproximou e disparou seis vezes, acertando quatro tiros na cabeça e dois nas costas.Ele morreu no local.
Décio Sá trabalhava no jornal "O Estado do Maranhão" --pertencente à família Sarney-- e escrevia em um blog famoso por informações de bastidores da política no Maranhão. Ele também trabalhou no jornal "O Imparcial" e chegou a ser correspondente da "Folha de S.Paulo" no final dos anos 90. O jornalista deixa mulher e um filho de 8 anos. O blogueiro Luís Cardoso informou ao UOL que Décio não havia relatado nenhuma ameaça específica nos últimos dias.
“Que eu saiba, não existia uma ameaça específica. Mas as ameaças são diversas. Nossa vida aqui é assim: de vez em quando tem que ir à polícia informar algum caso. Só ele saberia dizer se houve alguma ameaça mais virulenta, pois ele não comentou comigo. Mas esse tipo de jornalismo incomoda, e ele deveria estar incomodando alguém. Não creio ser uma coisa recente. O crime organizado, que ele denunciava, planeja e estuda para cometer o crime”, disse.
O blogueiro contou que esperava por Décio em um outro restaurante, quando soube da notícia. “Décio falava ao telefone com o vice-prefeito da cidade Barra do Corda [Aristides Milhomem], que ouviu o barulho dos tiros e ficou gritando pelo nome de Décio. O vice-prefeito me ligou para dizer o fato, e eu então telefonei para o celular de Décio, que não atendeu. Em seguida, o Fábio Câmara [pré-candidato a vereador de São Luís e amigo do jornalista], que estava com ele, me ligou para dizer. Foi terrível.”
O presidente do Sindicato dos Jornalistas do Maranhão, Leonardo Monteiro, confirmou que Décio relatava constantemente ameaças e disse que costumava dar conselhos ao blogueiro. “Eu sempre dizia a ele que tivesse cuidado, não se expusesse. Ele tinha um blog muito reconhecido aqui no Estado, e que fazia muitas denúncias”, disse.
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Segundo ele, a categoria vai cobrar providências rápidas às autoridades. “A única que se pode fazer nessa altura e se solidarizar com família e a sociedade, e pedir uma análise sobre esse crescimento da criminalidade. O fato aconteceu, o estrago está feito. Temos que chorar e reclamar providências, pois o Brasil tem uma legislação maluca, onde um assassino se apresenta à polícia, após o flagrante, e fica anos em liberdade esperando julgamento”, afirmou.
Repercussão
Pelo Twitter, dezenas de postagens condenam o atentado e pedem respeito aos profissionais de imprensa do Maranhão. "No Maranhão, se fala morre. Se cala, morre do mesmo jeito, num pântano de silêncios. Chocado com a execução do jornalista", comentou o jornalista Alex Palhano.
"Estou vendo agora a notícia sobre o Décio Sá e ainda não estou acreditando", disse o jornalista Clodoaldo Corrêa.
"Crime de pistolagem contra jornalista, na capital do estado em pleno sec 21?!! Inaceitável! Inconcebível! O Estado precisa responder", escreveu o presidente da seccional no Maranhão da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Mário Macieira.
"É inaceitável, intolerável, que numa sociedade democrática haja espaço para crimes assim. No campo, na cidade, em qualquer lugar. Reação!", disse o jurista Cláudio Pavão.
Relatório fala em morte de jornalistas no Brasil
Ontem, em relatório divulgado antes da morte de Décio Sá, a SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) apontava para um aumento nos casos de assassinatos de jornalistas no Brasil --no período de seis meses, foram registrados 27 casos de crimes e violências contra a imprensa, incluindo assassinatos, agressões e atentados.
Já um levantamento do CPJ (Committee to Protect Journalists), divulgado no último dia 17, indica que o Brasil é o 11º país do mundo em que os assassinatos de jornalistas mais ficam impunes. De acordo com o "Índice da Impunidade" elaborado pelo órgão, cinco mortes de jornalistas nos últimos dez anos não resultaram em nenhuma condenação no país.
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