Jornalista Décio Sá é assassinado em restaurante no Maranhão
O jornalista e blogueiro Décio Sá foi assassinado com seis tiros à queima roupa em um restaurante na avenida Litorânea, em São Luís, no Maranhão, por volta das 22h30 de segunda-feira (23). Segundo informações da Polícia Militar do Estado, Décio Sá estava jantando sozinho em um restaurante quando um homem se aproximou e disparou seis vezes, acertando quatro tiros na cabeça e dois nas costas. Ele morreu no local.
O assassino fugiu em companhia de outra pessoa, que o esperava do outro lado da avenida em uma motocicleta. Uma viatura estava a cerca de 150 metros do local quando o jornalista foi assassinado, mas os criminosos conseguiram fugir. As buscas continuam, mas ninguém foi preso.
Décio Sá trabalhava no jornal "O Estado do Maranhão" --pertencente à família Sarney-- e escrevia em um blog famoso por informações de bastidores da política no Maranhão. Ele também trabalhou no jornal "O Imparcial" e chegou a ser correspondente da "Folha de S.Paulo" no final dos anos 90. O jornalista deixa mulher e um filho de 8 anos.
Um dos últimos posts de Sá em seu blog, nesta segunda-feira (23), informava sobre o pedido de transferência para São Luís do julgamento dos pistoleiros Moises Alexandre Pereira e Raimundo Pereira.
"A defesa dos pistoleiros Moises Alexandre Pereira e Raimundo Pereira, acusados de matar no ano de 1997, em Barra do Corda, o líder comunitário e sem-teto Miguel Pereira Araújo, o Miguelzinho, a mando do empresário Pedro Teles, ajuizaram nesta segunda-feira pedido no Tribunal de Justiça do Maranhão solicitando a transferência do julgamento para São Luís. A alegação é de que das 25 pessoas selecionadas para participar do júri popular, pelo menos 20 têm ligação com o empresário, seu pai, o prefeito Manoel Mariano de Sousa, o Nezim, e o deputado Rigo Teles (PV), irmão de Pedro", escreveu Sá.
A polícia disse acreditar que o crime foi encomendado. A suspeita se baseia no fato de que o calibre 40 da arma usada para matar Sá é privativo da polícia. Além disso, o autor dos disparos agiu com ajuda de outra pessoa.
A Secretaria de Comunicação do Estado publicou nota na qual "repudia a ação bárbara e cruel" e afirma ter "tomado as providências para a prisão dos responsáveis pela morte". Segundo a nota, peritos do Instituto Médico Legal foram até o local.
O corpo de Décio está sendo velado na capela da Pax União, localizada na rua Grande, centro de São Luís. O enterro do jornalista deve acontecer na tarde desta terça-feira (24) no Jardim da Paz, na estrada de Ribamar.
Repercussão
Pelo Twitter, dezenas de postagens condenam o atentado e pedem respeito aos profissionais de imprensa do Maranhão. "No Maranhão, se fala morre. Se cala, morre do mesmo jeito, num pântano de silêncios. Chocado com a execução do jornalista", comentou o jornalista Alex Palhano.
"Estou vendo agora a notícia sobre o Décio Sá e ainda não estou acreditando", disse o jornalista Clodoaldo Corrêa.
"Crime de pistolagem contra jornalista, na capital do estado em pleno sec 21?!! Inaceitável! Inconcebível! O Estado precisa responder", escreveu o presidente da seccional no Maranhão da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Mário Macieira.
"É inaceitável, intolerável, que numa sociedade democrática haja espaço para crimes assim. No campo, na cidade, em qualquer lugar. Reação!", disse o jurista Cláudio Pavão.
ANJ lamenta
Em nota, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) lamentou "com profundo pesar" o assassinato do jornalista maranhense e que "tudo indica que Décio foi morto em decorrência da corajosa cobertura jornalística que fazia dos crimes de pistolagem no Maranhão." "[A ANJ] espera uma rápida apuração de mais esse revoltante crime, com a prisão, julgamento e condenação dos culpados", disse ainda o texto.
A entidade demonstra ainda "grande preocupação", já que esse é o quarto assassinato de jornalista no Brasil ocorrido este, "o que demonstra o efeito pernicioso da impunidade nos casos de atentado à vida de profissionais que trabalham para melhor informar os cidadãos."
Relatório fala em morte de jornalistas no Brasil
Ontem, em relatório divulgado antes da morte de Décio Sá, a SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) apontava para um aumento nos casos de assassinatos de jornalistas no Brasil --no período de seis meses, foram registrados 27 casos de crimes e violências contra a imprensa, incluindo assassinatos, agressões e atentados.
Já um levantamento do CPJ (Committee to Protect Journalists), divulgado no último dia 17, indica que o Brasil é o 11º país do mundo em que os assassinatos de jornalistas mais ficam impunes. De acordo com o "Índice da Impunidade" elaborado pelo órgão, cinco mortes de jornalistas nos últimos dez anos não resultaram em nenhuma condenação no país.
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