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Corpo de vítima da ditadura militar é exumado após 40 anos em Minas Gerais

Restos mortais do militante político Arnaldo Cardoso Rocha foram exumados no Cemitério Parque da Colina, em Belo Horizonte (MG) - Alex de Jesus/O Tempo/Estadão Conteúdo
Restos mortais do militante político Arnaldo Cardoso Rocha foram exumados no Cemitério Parque da Colina, em Belo Horizonte (MG) Imagem: Alex de Jesus/O Tempo/Estadão Conteúdo

Carlos Eduardo Cherem

Do UOL, em Belo Horizonte

12/08/2013 13h47

O corpo do militante da ALN (Ação Libertadora Nacional) Arnaldo Cardoso Rocha, morto pelo Doi-Codi, em São Paulo, em 15 de março de 1973, aos 23 anos, começou a ser exumado nesta segunda-feira (12) em Belo Horizonte. O pedido foi feito por sua viúva, Yara Xavier Pereira, que também foi integrante da ALN, à CNV (Comissão Nacional da Verdade) e MPF (Ministério Público Federal).

A versão oficial apresentada à época, de que Rocha foi morto numa troca de tiros com a polícia, ao lado de dois companheiros, nunca foi aceita pela família. “São 40 anos de incerteza sobre sua morte. A incerteza é uma dor aberta que temos de curar”, afirmou Yara, durante a exumação do corpo do ex-marido, enterrado no Cemitério Parque da Colina, na capital mineira, onde vivem seus pais, João de Deus e Anete Cardoso Rocha, militantes históricos do PCB (Partido Comunista Brasileiro).

É a primeira exumação de corpo de possível vítima da ditadura militar em Minas Gerais. Participaram da exumação, além da viúva e familiares de Rocha, peritos da PF (Polícia Federal), da Polícia Civil de Minas Gerais, de São Paulo e do Distrito Federal e representantes do MPF (Ministério Público Federal) e da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e da CNV (Comissão Nacional da Verdade).

A iniciativa da exumação é feita após Yara ter solicitado providências junto à CNV e apresentado também um requerimento de notícia-crime na 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (MPF), em Brasília, em julho de 2012. “Buscamos há 40 anos saber as reais circunstâncias do seu assassinato. Como último recurso, solicitamos à comissão a exumação”, afirmou a viúva.

Caixão lacrado

Após a morte, o corpo de Rocha foi levado para Belo Horizonte pelo pai, em caixão lacrado pelo Doi-Codi. De acordo com o laudo da época, o militante foi atingido por sete tiros. Foram três na perda direita, que o fizeram tombar, um tiro fatal no supercílio direito e outro que causou diversas fraturas na mão direita, característica de lesão de defesa.

A tese que corrobora a tese de execução foi levantada pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. De acordo com a comissão, o suposto armamento dos integrantes da ALN não foi periciado. As armas que teriam sido encontradas em poder dos militantes só foram formalmente apreendidas quatro dias depois das mortes.

A comissão ainda afirma que a evidência mais gritante de que os militantes não foram conduzidos diretamente para o Instituto Médico Legal (IML) é o registro oficial de suas vestes. Os três estariam sem calças, vestindo camisas, cuecas, meias e sapatos.

Na versão oficial do Doi-Codi, os militantes foram mortos em troca de tiros depois de serem identificados como autores da morte do comerciante Manoel Henrique de Oliveira em 21 de fevereiro de 1973. Oliveira, de acordo com essa versão, teria sido justiçado, e seu corpo, coberto com panfletos da ALN, em razão de sua suposta delação às forças de repressão de Yuri Xavier Pereira irmão da viúva de Rocha, também integrante da ALN, que resultou em sua morte.

No entanto, dez anos depois da morte de Pereira, surgiram evidências de que, na verdade, o Doi-Codi  promoveu a infiltração de João Henrique Ferreira de Carvalho, o “Jota”, junto ao grupo político que ajudou a preparar a emboscada. Jota seria o único que conseguiu escapar com vida da investida policial.