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Guru indiano que trabalhou para Serra em 2010 é preso nos EUA

Ravi Singh, fundador da empresa de marketing político Election Mall, em foto de 2010 - Divulgação
Ravi Singh, fundador da empresa de marketing político Election Mall, em foto de 2010 Imagem: Divulgação

Bruno Lupion

Do UOL, em Brasília

23/01/2014 06h00

O marqueteiro americano de ascendência indiana Ravi Singh, que se autodenomina “guru” e trabalhou na campanha de José Serra (PSDB) à Presidência da República em 2010, foi preso na sexta-feira (17) em San Diego, no Estado da Califórnia, suspeito de intermediar a injeção de ao menos US$ 500 mil não contabilizados em campanhas políticas daquela cidade.

Singh, 41, fundador da empresa Election Mall, teria ajudado um empresário mexicano a doar centenas de milhares de dólares a candidatos em San Diego por meio de caixa 2. Segundo o FBI (a polícia federal americana), Sigh e um ex-policial, Ernesto Encinas, 57, teriam utilizado empresas de fachada e documentos em nome de laranjas para fazer o dinheiro chegar às campanhas de quatro políticos. O FBI não divulgou o nome dos beneficiados pelo suposto esquema.

San Diego fica a cerca de 20 quilômetros do muro de Tijuana, na fronteira com o México, o que explica o interesse de empresários mexicanos em contribuir para políticos locais, mas a legislação dos Estados Unidos veta doações de estrangeiros às campanhas. A prisão de Singh e Encinas foi revelada pelo jornal “San Diego Union-Tribune”.

Turbante

Quando atuou na campanha de Serra, Singh assumiu a coordenação de internet, cujo site era editado pela ex-vereadora de São Paulo Soninha Francine (PPS).

No currículo do norte-americano, que se reunia com os tucanos usando turbante, estava a campanha vitoriosa do colombiano Juan Manuel Santos, eleito presidente quatro meses antes.

Singh fez mudanças radicais no site de Serra que priorizavam o cadastramento dos internautas e adotou um novo slogan, "É a Hora da Virada", em vez do oficial "O Brasil Pode Mais". O norte-americano comprou briga com outros membros da equipe e acabou saindo 20 dias depois, sem ter o contrato renovado.

Nenhum tucano assumiu oficialmente a ideia de ter contratado Singh. Nos bastidores, duas versões circularam: a de que teria sido apresentado pela filha de Serra, Verônica, ou por Arnon de Mello, filho do ex-presidente Fernando Collor e então sócio de uma empresa que fornecia serviços de internet. Arnon nega e atribui a indicação ao comando da campanha de Serra.

Coordenação

Soninha disse ter ficado “sentida” com a notícia da prisão de Sigh e elogiou o trabalho do norte-americano. Segundo ela, a internet não era a “menina dos olhos” do marqueteiro Luiz Gonzalez, que coordenava a campanha de Serra, e ganhou profissionalismo com a chegada de Sigh.

“Antes dele o pessoal da internet não tinha coordenação: quem fazia o Facebook não conversava com quem fazia o Twitter nem com quem estava no site. Ele fez todo mundo trabalhar junto”, afirmou.

Ela defendeu a medida mais polêmica de Sigh em sua breve passagem pelo Brasil: obrigar os leitores do site oficial de Serra a preencher um formulário com nome, e-mail e preferências pessoais. “A adesão das pessoas foi inacreditável. Campanha eleitoral na internet é um espaço para engajamento, não para visita eventual. Milhares de eleitores se cadastraram dispostos a participar”, disse.

Soninha afirmou não se lembrar de quem apresentou Sigh ao tucano, mas diz acreditar que ele deixou a campanha pois “cobrava caro” e os coordenadores julgaram que já haviam aprendido o que ele pretendia fazer.

O UOL não localizou Singh e Encinas. Ao “San Diego Union-Tribune”, o advogado de Singh, Michael Lipman, disse que a suspeita contra seu cliente não tem fundamento. O UOL também entrou em contato com a assessoria de imprensa de Serra, que não respondeu.