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Reformas de Jango teriam evitado violência urbana de hoje, diz Cristovam

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Bruna Borges

Do UOL, em Brasília

21/03/2014 06h00

"O Brasil seria outro se tivesse feito a reforma agrária. A violência urbana é resultado da falta de uma reforma há 50 anos. Ao não se distribuir terra, o povo veio para cidade. Sem emprego, com concentração de renda e sem escola, terminou gerando esse clima de violência. A reforma era algo fundamental de todos nós estudantes". A opinião é do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que era estudante e presidente do centro acadêmico da Escola de Engenharia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) em 1964, ano do golpe militar no Brasil. Era um jovem de 20 anos e assistia aos anseios de parcela da população pelas reformas de base defendidas pelo então presidente João Goulart.

Para o senador, os universitários daquela época lutavam por reforma agrária, educacional e econômica, enquanto os de hoje reivindicam apenas mais verbas para as universidades. "Hoje não se luta nem para melhorar a universidade, hoje se luta por mais recursos para que ela continue igual."

Cristovam explica que por defender essas causas foi perseguido pelos militares e em 1970 optou por sair do Brasil. Ficou fora do país até a reabertura política ocorrida no final da ditadura. Ele morou na França, Equador e Honduras.

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"A partir de um certo momento começou a ficar impossível ficar no Brasil e ter uma prática política. Meu irmão já estava preso, companheiros já tinham sido assassinados. Eu cheguei a ser convidado a ir ao Dops [Departamento de Ordem Política e Social]", conta Cristovam.

Ao comentar os efeitos do regime militar na educação, Cristovam destaca a interrupção pelos golpistas do Plano de Nacional de Alfabetização, criado por Paulo Freire e implantado por João Goulart em 1964, como uma herança “maldita”. O programa previa alfabetização de adultos feita em grupos estudantis, operários, sindicatos e igrejas, mas foi paralisado após o golpe.

"O efeito foi trágico. Parar um programa que iria com certeza erradicar o analfabetismo 50 anos atrás. Hoje nós temos treze milhões de analfabetos adultos. O país não precisava ter passado por isso", diz o senador.$escape.getH()uolbr_geraModulos($escape.getQ()embed-lista$escape.getQ(),$escape.getQ()/2014/saiba-mais-1395076732147.vm$escape.getQ())

O parlamentar também comenta a onda de manifestações que têm ocorrido no país. Para ele, os protestos de hoje não têm uma causa muito clara e são apenas movidos pela "raiva". O parlamentar também se diz preocupado com os que defendem o regime militar e estão planejando uma nova Marcha com Deus no próximo sábado (22), inspirada na que ocorreu em 1964. O movimento estimulou os militares a tomarem o poder e instituir a ditadura.

"A primeira coisa que eu sinto quando vejo um jovem comemorando 64, eu me pergunto: onde eu errei que não trouxe uma proposta pelo qual eles possam lutar? Onde errei que não consigo convencer as pessoas a fazerem uma revolução pela educação? Fico preocupado. Nós não construímos alternativas para esses jovens, aí eles comemoram aquilo sem saber que vão ser os primeiros a pagar o preço. Vão ser impedidos de ir para rua, de ver os filmes que querem, de reclamar, de ler jornais livres. Lembrem-se que os grandes líderes que fizeram o golpe foram cassados depois como Carlos Lacerda e exilados. Os golpistas cortam as cabeças dos que vão para a rua pedir o golpe", diz Cristovam.