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Delegado diz à Comissão da Verdade que gritos de torturados eram simulação

07.abr.2014 - O delegado Dirceu Gravina, durante depoimento à CNV - Thiago Vilela/Ascom-CNV
07.abr.2014 - O delegado Dirceu Gravina, durante depoimento à CNV Imagem: Thiago Vilela/Ascom-CNV

Do UOL, em São Paulo

07/04/2014 18h20Atualizada em 07/04/2014 18h44

Em depoimento a integrantes da CNV (Comissão Nacional da Verdade) nesta segunda-feira (7), o delegado da Polícia Civil de São Paulo, Dirceu Gravina, que atuou como agente da repressão durante a ditadura militar, negou ter torturado presos políticos e disse acreditar que os gritos ouvidos no DOI-Codi (centro de repressão comandado pelo Exército) de São Paulo eram simulação.

Segundo a assessoria de imprensa da CNV, Gravina se recusou a depor na audiência pública, aberta a jornalistas e ao público geral, e foi ouvido reservadamente por José Carlos Dias e Rosa Cardoso. Eles afirmaram que o depoente “não colaborou com as investigações” e negou todas as acusações feitas por ex-presos políticos a ele. O delegado teria dito que escutava gritos “que pareciam de pessoas sendo torturadas”, mas a explicação, para ele, é que os presos fingiam as agressões.

No mês passado, Gravina foi convidado a depor na Comissão da Verdade da cidade de São Paulo, mas desistiu de falar ao tomar ciência de que a audiência seria aberta.

Gravina foi acusado pelo MPF (Ministério Público Federal) pela tortura, morte e desaparecimento do bancário e sindicalista Aluizio Palhano, em 1971, assim como o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. No DOI-Codi, Gravina tinha o apelido de JC, alusão à Jesus Cristo, já que ele usava cabelos compridos e um crucifixo.

A ex-presa política Darci Miyaki relatou à CNV que foi diretamente torturada por Gravina. “Ele era um sádico”.

Atualmente, o delegado trabalha na Deinter (Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior) de Presidente Prudente (558 km de São Paulo).

A reportagem ligou para a residência de Dirceu Gravina em Presidente Prudente, mas ninguém atendeu.

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Centros clandestinos de tortura

Na audiência realizada na tarde de hoje, a CNV também tratou da investigação dos centros clandestinos de tortura utilizados pelos agentes da repressão. A professora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Heloísa Starling, assessora da comissão, apresentou um relatório sobre os centros de tortura, produzido pela universidade em parceria com a comissão.

No total, a CNV investiga 17 centros clandestinos de tortura, dos quais sete estão com apurações avançadas.

A pedido da comissão, as Forças Armadas abriram sindicâncias para apurar desvios de função de sete estabelecimentos que funcionaram como aparatos da repressão durante a ditadura.

Militares perseguidos

Na manhã de hoje, em outra audiência, realizada em parceria entre a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo e a CNV na Assembleia Legislativa de SP, quatro militares perseguidos pela ditadura por discordarem do regime relataram suas histórias.

Segundo a CNV, ao menos 27 militares foram mortos no regime militar no país, além de outros dez civis de origem militar.

Estima-se que mais de 7.000 praças e oficiais das três forças e policiais militares tenham sido cassados, presos e torturados durante a ditadura, constituindo a categoria social proporcionalmente mais atingida pelo regime militar.

Quatro militares que foram vítimas da repressão contaram suas histórias na audiência promovida pela Comissão Nacional e Estadual da Verdade.