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"PT paga o pato", afirma Lula sobre petista envolvido com doleiro

Do UOL, em São Paulo

08/04/2014 11h48

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira (8) que teme que as ligações do deputado federal licenciado André Vargas (PT-PR) com o doleiro Alberto Youssef, investigado pela Polícia Federal, respinguem na imagem do PT. "Espero que ele [Vargas] consiga convencer a sociedade e provar que não tem nada além da viagem de avião. Eu espero. Torço por isso porque no final, no final, quem paga o pato é o PT. Torço [para] que não tenha nada além de uma viagem, o que já é um erro".

Ontem, Vargas, que ocupava o cargo de vice-presidente da Câmara, se disse vítima de um "massacre midiático" e pediu licença de 60 dias do mandato de deputado.

O deputado fez uma viagem de férias com a família para João Pessoa em um jato emprestado pelo doleiro. O parlamentar admitiu que o pedido de empréstimo da aeronave “foi imprudente''.

No entanto, as ligações entre o petista e Youssef podem ser mais profundas. A revista "Veja" mostrou mensagens interceptadas pela Polícia Federal em que Vargas prometia ajudar o doleiro. "Acredite em mim. Você vai ver o quanto isso vai valer. Tua independência financeira e nossa também, é claro", dizia Youssef em uma mensagem.

Uma das hipóteses da PF é que o deputado e o doleiro sejam sócios num laboratório chamado Labogen.

O doleiro é suspeito de chefiar um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões. Ele foi preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato.

Lula comentou o caso em uma entrevista coletiva concedida a blogueiros no Instituto Lula, em São Paulo.

O ex-presidente se disse contrário à instalação de uma CPI no Congresso para investigar denúncias contra a Petrobras. Para Lula, a oposição quer a comissão de investigação para tentar enfraquecer a empresa e o governo em um ano eleitoral.

O petista criticou os opositores que apontam a desvalorização das ações da empresa nos últimos anos como sinal de má gestão e afirmou que ela vale muito mais hoje do que no governo Fernando Henrique Cardoso. "Muitos desses queriam a privatização da Petrobras".

"Acho que o governo tem que ir para a ofensiva e debater esse assunto com muita força. A gente não pode ficar permitindo que, por omissão nossa, as mentiras continuem prevalecendo".

Apoio a Dilma

O ex-presidente afirmou que não será candidato nas eleições deste ano e que apoia a reeleição da presidente Dilma Rousseff . “Não sou candidato. Minha candidata é a Dilma Rousseff. Se vocês puderem acabar com essa boataria, vão ajudar o processo democrático”, declarou.

“Ela tem competência, tem as condições políticas e as condições técnicas para fazer o Brasil avançar. É disparadamente a melhor pessoa para ganhar estas eleições”, comentou sobre Dilma.

"Cumpri com a minha tarefa, fiz o que tinha que fazer. Já me dou por realizado", acrescentou o ex-presidente em referência aos dois mandatos que cumpriu entre 2003 e 2010.

As declarações foram dadas três dias depois de a mais nova pesquisa Datafolha mostrar uma redução nas intenções de voto da presidente Dilma Rousseff, o que alimenta o movimento “volta, Lula” no PT e na aliança governista.

Lula fez estas afirmações antes de abrir espaço para as perguntas dos blogueiros. Neste momento, também declarou que não vinha concedendo entrevistas para evitar que suas declarações fossem usadas para alimentar intrigas com a sucessora. “É preciso que a gente, ao sair da Presidência, saiba ser ex-presidente. Não dar palpite, tomar cuidado para não brigar. A tendência natural é o criador e a criatura se digladiarem. Não houve na imprensa quem não tivesse vontade de fazer intriga”.

Lula falou que pretende viajar com Dilma pelo país nos próximos meses.

Incompreensão com Eduardo Campos

Lula disse não entender a saída do pré-candidato do PSB à presidência, Eduardo Campos, da aliança governista, e indicou que o pernambucano poderia ser candidato com o apoio do PT futuramente.

“Lamentei que ele tenha se afastado da base para ser candidato. Ele antecipou um processo natural que poderia acontecer com a aliança PT-PSB”.
Ao comentar sobre Campos, o ex-presidente disse que entende a ruptura de Marina Silva com o PT. “Ela e a Dilma foram ministras e eu entendo as divergências, mas o Eduardo eu não compreendo”.

Economia, imprensa e mensalão

Em vários momentos da entrevista, Lula defendeu o desempenho das gestões petistas, especialmente na condução da política econômica diante da crise mundial dos últimos anos.

“A economia brasileira está aquém do que eu gostaria e do que a Dilma gostaria, mas vamos ver quem está melhor que o Brasil. Que país gerou mais empregos que o Brasil?”

Lula afirmou que, durante a campanha eleitoral, Dilma terá de dizer claramente "como melhorar a economia brasileira".

O ex-presidente defendeu a atuação dos governos do PT na educação, mas reconheceu que o país ainda precisa avançar muito.

Disse que os protestos de 2013 foram um “momento rico da democracia” e se opôs à aprovação de uma lei antiterrorismo para inibir as manifestações.

Lula fez críticas à imprensa, sobretudo à cobertura do caso do mensalão, e indicou que considera injustas as condenações de petistas no STF (Supremo Tribunal Federal). “A história do mensalão vai ser recontada no país. Só quero que a verdade venha à tona”.

O ex-presidente foi enfático ao defender uma reforma política. Em sua opinião, é necessário convocar uma assembleia constituinte exclusiva para isso. “A reforma política é a mais importante reforma que tem que acontecer neste país. Sem ela, todas as outras [reformas] ficam muito mais difíceis”.