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Em clima tenso, convenção do PP é interrompida sem definir apoio a Dilma

Fernanda Calgaro

Do UOL, em Brasília

25/06/2014 13h51Atualizada em 27/06/2014 14h01

Sob fortes vaias dos correligionários, a convenção nacional do PP (Partido Progressista), em que seria votada a adesão à candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), foi interrompida nesta quarta-feira (25) de forma abrupta pelo presidente da sigla, senador Ciro Nogueira (PI), sem que houvesse uma definição. Dissidentes pretendem recorrer ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para invalidar a convenção.

Diante do clima tenso e da clara divisão dentro partido, com discursos pró e contra o governo federal petista, Ciro Nogueira apresentou uma resolução delegando a decisão sobre a aliança nacional à Executiva Nacional, prevista para se reunir hoje, e liberando os Estados para fazerem coligações e apoiarem os partidos que quiserem no âmbito regional. A convenção estava sendo realizada em um auditório da Câmara, em Brasília.

A proposta foi recebida com vaias e críticas pelos correligionários, que queriam que o apoio fosse decidido no voto durante a convenção. Para espanto geral, mesmo diante da clara desaprovação, Nogueira declarou que a resolução estava aprovada “por aclamação”, deixando o auditório apressadamente.

A medida causou revolta em diversos dissidentes do partido, que permaneceram no local e, após protestos para que o microfone fosse religado, declararam que a convenção de hoje não teve “efeito legal”.

“Essa é uma convenção sem validade porque não houve manifestação majoritária”, afirmou a senadora Ana Amélia (RS), sendo bastante aplaudida. A 2ª vice-presidente do partido, Ângela Amin, engrossou o coro e disse que iria entrar na Justiça eleitoral para invalidar a convenção.

Na sua saída do local, Ciro Nogueira rebatia as críticas dizendo que a medida foi “democrática”. A manobra de transferir a decisão à cúpula do partido tem como objetivo controlar o resultado e garantir apoio à Dilma, conforme Nogueira, que também preside a Executiva, vinha manifestando publicamente.

Apoio incerto

O apoio do partido, porém, continua incerto e representa um temor aos petistas após a deserção do PTB, que debandou para o lado do tucano Aécio Neves, adversário de Dilma nas urnas. O PT está de olho no mais cerca de 1m20s de tempo de TV da sigla.

Ausente do evento, Dilma corria o sério risco de ser hostilizada, considerando as vaias recebidas por quem discursou a favor do seu governo, como o ex-ministro Aguinaldo Ribeiro, das Cidades, pasta que cabe ao PP desde o governo Lula.

Representantes de dois Estados focos da dissidência, o governador de Minas Gerais e presidente do PP mineiro, Alberto Pinto Coelho, e a senadora Ana Amélia, candidata ao governo do Rio Grande do Sul, defenderam que as alianças fossem liberadas tanto no âmbito nacional quanto nos Estados.

O deputado Jair Bolsonaro (RJ), que propôs o rompimento completo com o PT, foi um dos mais aplaudidos. Em um discurso inflamado, criticou mais uma vez o passado de Dilma como guerrilheira de esquerda durante a ditadura militar e condenou a aprovação de cotas para negros no serviço público dizendo que a medida coloca “preto contra branco”.

Igualmente polêmico, o deputado Luiz Carlos Heinze (RS) foi na mesma linha e manifestou saudade da época da ditadura militar, destacando a inflação sob controle no período.

Outros progressistas, porém, pregaram coerência, como o deputado federal Esperidião Amin (PP-SC), que ponderou que, o partido só poderia desembarcar do governo federal, após mais de uma década, “sem uma explicação pública convincente”.