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Patrus defende reforma e diz que não basta "derrubar cerca do latifúndio"

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

06/01/2015 11h59Atualizada em 06/01/2015 17h07

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias (PT), defendeu a necessidade de fazer a reforma agrária no país e disse que não basta "derrubar a cerca do latifúndio” no Brasil. As declarações foram feitas durante a cerimônia de transmissão de cargo realizada nesta terça-feira (6), em Brasília. As afirmações de Patrus foram dadas um dia depois de a ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB), ter declarado que “não existe latifúndio no Brasil” e que a reforma agrária em massa não é necessária.

“Não basta derrubar a cerca do latifúndio, é preciso derrubar as cercas que nos limitam a uma visão individualista e excludente do processo social”, afirmou Patrus.

A cerimônia foi marcada pela presença de diversos movimentos sociais, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que ontem criticou as declarações de Kátia Abreu.

A ministra, que não foi à cerimônia (Patrus compareceu à dela, ontem), não foi citada nominalmente pelo petista durante o discurso.

Em outro ponto do discurso, Patrus disse que direito de propriedade, argumento usado por aqueles contrários à reforma agrária, não pode ser considerado “inquestionável”.  “O direito de propriedade não pode, em nosso tempo, ser um direito incontrastável, inquestionável e que prevalece sobre todos os demais direitos”, afirmou, arrancando aplausos da plateia repleta de militantes.

Questionado sobre as declarações de Kátia Abreu, Patrus evitou contradizer a colega e usar o termo "latifúndio". “Eu prefiro trabalhar com o conceito de que nós temos no Brasil grandes propriedades. Até onde eu sei, uma boa parte delas, talvez mesmo a maioria, estão sendo corretamente exploradas. Tanto que o Brasil, hoje, é um grande produtor de alimentos, de produtos agropecuários”, afirmou.

Patrus reconheceu que ainda há propriedades improdutivas no Brasil e disse que é sobre elas que o ministério pretende assentar trabalhadores rurais sem-terra. “Temos também terras improdutivas. E é sobre essas terras que eu penso que temos que estabelecer o princípio da função social da propriedade para nelas implantar, corretamente e democraticamente, de acordo com a lei, as famílias de trabalhadoras e trabalhadores rurais que não tem terra”, afirmou.

Patrus foi prefeito de Belo Horizonte entre 1993 e 1996. Em 2002, foi eleito deputado federal por Minas Gerais. Em 2004, durante o governo Lula, foi nomeado para o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, responsável pela consolidação do programa Bolsa Família. Patrus ficou no cargo até 2010. Em 2014, foi eleito novamente para a Câmara dos Deputados, mas deverá se licenciar do cargo para continuar no ministério. Ele recebeu o comando da pasta das mãos do atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Miguel Rossetto, também do PT.

Rossetto, por sua vez, foi ministro do Desenvolvimento Agrário por duas vezes (2003 a 2006 e 2014 a 2015). Ele foi um dos fundadores do PT e da CUT (Central Única dos Trabalhadores). Sua ida para a Secretaria-Geral da Presidência era dada como certa desde as eleições presidenciais, quando ele se transformou num dos coordenadores da campanha de Dilma.