Governo vê 'ação orquestrada' de empresas francesas de boicote a Mercosul

O Ministério da Agricultura vê uma "ação coordenada" de boicote de empresas francesas para tentar derrubar o acordo entre Mercosul e União Europeia.

O que aconteceu

Na quarta (21), o CEO do Carrefour na França anunciou que não comprará mais carne do Mercosul. No final de outubro, a Danone, outra gigante francesa, já havia anunciado à agência Reuters que pararia de comprar soja brasileira —o que depois foi desmentido internamente, mas a situação não ficou resolvida.

Para o ministro Carlos Fávaro, as ações não ocorreram por acaso. "Não faz sentido achar que é coincidência que um mês atrás foi a Danone que fez, e agora o Carrefour, apontando de forma inverídica as condições de produção brasileira", disse, após evento no Palácio do Itamaraty.

"Me parece uma ação orquestrada", declarou o ministro. "Em 15 dias, duas, né? Esse tipo de ação, que parece ser orquestrada das maiores empresas, de que forma elas colocam pressão sobre a conclusão desse acordo."

Nos dois casos, os protestos e reivindicações de produtores franceses foram citados. "Em toda a França, ouvimos o desânimo e a raiva dos agricultores face ao acordo de livre comércio proposto entre a União Europeia e o Mercosul e o risco de o mercado francês ser inundado com carne que não atende às suas exigências e normas", escreveu o CEO Alexandre Bompard, em carta publicada em sua conta pessoal nas redes sociais na quarta.

Fávaro disse que a fala afronta a "soberania nacional". "Desrespeitando a nossa produção [brasileira], que é sustentável. Me parece que é querendo arrumar algum pretexto para que a França não assine [o acordo]", afirmou.

Era mais bonito e legítimo só manter a posição contra, mas não precisava ficar procurando pretexto naquilo que não existe na produção sustentável e exemplar brasileira. Seria a última das pessoas a apontar qualquer defeito na produção francesa. Mas fico indignado quando eles querem fazer isso com o Brasil.
Carlos Fávaro, sobre acordo UE-Mercosul

Após a repercussão, o Carrefour recuou parcialmente. Nesta quinta (21), afirmou que o veto à carne do Mercosul só valeria para as lojas na França.

França é contra acordo UE-Mercosul

A França é a principal opositora ao acordo. O presidente Emmanuel Macron argumenta que, com os termos estabelecidos, haveria a exportação de alimentos por produtores que não seguem as mesmas condições exigidas no continente europeu.

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lsso coloca ele e o presidente Lula (PT), aliados internacionais, em lados opostos. O brasileiro é o principal entusiasta do texto na América do Sul. O Itamaraty tem dito que as negociações têm avançado, com concessões dos dois lados, e pode ter novidades no próximo encontro do Mercosul, no início de dezembro.

O acordo de livre comércio está estacionado desde fevereiro, quando a Comissão da UE afirmou que o Mercosul "não atendeu condições para concluí-lo". O processo tem sido travado em especial pelas exigências sobre sustentabilidades impostas pelos europeus para a indústria e agricultura latino-americana.

Macron afirma ainda que o acordo é antigo e desatualizado em questões de sustentabilidade. "Esse texto é de um acordo negociado e preparado 20 anos atrás. Estamos só fazendo pequenas alterações. Somos loucos continuando nessa lógica", disse, ao lado de Lula, na última visita a Brasília, em março.

Fávaro protegeu seu lado. Ele ponderou que o acordo é "muito importante", mas sugeriu que o impacto no agronegócio brasileiro não seria tão grande assim. "Só para você ter noção: a União Europeia, há dois anos atrás, representava 17% da compra da proteína animal brasileira. Hoje é em torno de 4%. Acho que isso diz tudo", concluiu.

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