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Antiga, tensão entre Marta e PT vem da autoimagem da senadora, dizem especialistas

A senadora Marta Suplicy (PT-SP) - Sergio Lima/Folhapress
A senadora Marta Suplicy (PT-SP) Imagem: Sergio Lima/Folhapress

Do UOL, em Brasília

13/01/2015 06h00Atualizada em 13/01/2015 11h29

A rebelião da senadora Marta Suplicy (PT-SP) contra membros seu partido acontece porque ela atribui uma importância a ela própria muito maior do que de fato sua figura representa para o PT. Essa é avaliação de cientistas políticos ouvidos pelo UOL.

Os atritos entre Marta e o PT já ocorrem há vários anos, mas declarações recentes da senadora contra a presidente Dilma Rousseff e membros do governo ampliaram o desconforto dentro da sigla. Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Marta disse que "ou o PT muda ou acaba" e fez duras críticas ao governo Dilma, ao ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e ao presidente do partido, Rui Falcão.

A petista classificou Mercadante de "inimigo" de Lula e afirmou que Rui Falcão traiu o projeto do partido. Também apresentou à CGU (Controladoria-Geral da União) documentos sobre supostas irregularidades cometidas pela pasta da Cultura na gestão de Juca Ferreira. Juca comandou o ministério antes de Marta. A petista afirmou ainda que é alijada dentro de seu partido e sinalizou que pretende deixar a sigla.

“A Marta tem uma avaliação superotimista a respeito de si mesma. Ela se atribui uma importância que não tem”, afirmou o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, ao explicar a tensão entre a senadora e o PT. “A popularidade precisa ser relativizada. Ela é muito mais resultado das circunstâncias do que da competência. A Marta por muito tempo foi mais a mulher do Suplicy do que a Marta.”

O cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas, também afirma que a tensão entre Marta e PT tem origem na forma como a petista tenta se impor no partido. “[Marta] é um nome importante dentro do PT. Foi lançada candidata várias vezes, mas ela não é dona do PT”, defendeu Couto. “Nem o Lula, com a importância toda que ele tem no partido, tem essa postura. Ele tem uma postura mais conciliadora.”

Após perder reeleição em SP, relação com PT se desgasta

O desgaste da relação entre Marta e o PT começou por volta de 2004, quando ela perde a reeleição para a Prefeitura de São Paulo. Relembre os principais pontos da trajetória da petista:

1998: Em 1998, não havia nenhum nome forte do PT que queria concorrer ao governo de São Paulo. Apenas Marta se propôs a disputar o governo paulista pelo partido. O então governador Mário Covas (PSDB) era candidato à reeleição e venceu a disputa, mas estava muito desgastado e este desgaste favoreceu a campanha da petista, embora ela tenha sido derrotada. A votação de Marta a capitalizou dois anos depois, quando ela foi lançada pelo PT como candidata à Prefeitura de São Paulo.

2000: Em 2000, Marta disputa a Prefeitura de São Paulo e vence. “Em 2000, a política paulistana vivia uma hecatombe, [Paulo] Maluf e Celso Pitta envolvidos com suspeitas de corrupção e na época o nome de [Geraldo] Alckmin (PSDB) não era muito conhecido. Qualquer nome do PT ganharia aquela eleição. O malufismo estava em frangalhos naquela época”, explica Melo. Segundo Melo, José Eduardo Cardozo -- hoje ministro da Justiça de Dilma -- era uma opção, mas foi vetado por Lula. Por esse motivo e pela votação de dois anos antes, Marta foi escolhida. “A sorte e as circunstâncias sempre contaram muito para ela, ela nunca foi muito cotada dentro do PT, foi prefeita pelas circunstâncias”, diz Melo.

2004: A tensão entre o PT e Marta cresceu quando ela perdeu a disputa pela reeleição em 2004. A partir deste fracasso, a petista passou a ser preterida nas disputas por cargos executivos. “Ela conseguiu perder uma reeleição de um governo bem aliado, ela perdeu para o Serra em 2004 e culpou a condução da política econômica do PT e de Lula, falou mal do [Henrique] Meirelles. Veja que hoje ela critica a política econômica de Dilma”, contou Melo.

2006: Naquele ano, Marta perdeu a disputa interna pela candidatura ao governo paulista para Mercadante. Quatro anos depois, Mercadante foi novamente escolhido para o ser lançado ao mesmo cargo e restou a Marta concorrer ao Senado.

2008: Marta deixa o Ministério do Turismo para se dedicar à campanha eleitoral pela Prefeitura de São Paulo. Perdeu novamente o pleito para Gilberto Kassab (PSD).

2010: Marta vence a disputa ao Senado em 2010 com a ajuda do cenário político. “Era eleição para dois senadores e não apenas um. Ela tinha a seu favor a popularidade do presidente Lula e morreu o [Romeu] Tuma (PTB), morreu o Orestes Quércia (PMDB), que eram nomes fortes em São Paulo", afirma Melo. 

2012: Lula lança o ex-ministro Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo. Para ajudar na campanha eleitoral de Haddad, Marta exigiu a nomeação de um ministério e assumiu a pasta da Cultura.

2014: Em 2014, ela também não foi a escolhida para a disputa pelo governo paulista. O indicado de Lula foi o ex-ministro Alexandre Padilha. A petista saiu do Ministério da Cultura em novembro do ano passado com uma ríspida carta endereçada a Dilma com fortes críticas à condução econômica do primeiro mandato da presidente.

“Marta sempre buscou o espaço do PT, mas para o PT ela não tem esse desempenho tão extraordinário assim. Foi um setor do PT que articulou a volta de Juca para Cultura e vibrou muito mais com sua indicação do que vibraria caso ela fosse mantida [no ministério]”, diz Carlos Melo.