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Dilma não está envolvida na Lava Jato e não orienta investigações, diz Cardozo

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

15/07/2015 16h42Atualizada em 15/07/2015 22h18

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse nesta quarta-feira (15) que tem “certeza” que a presidente Dilma Rousseff (PT) não está envolvida em casos de corrupção. “Eu tenho absoluta certeza de que nenhum fato relacionado a desvio de dinheiro público, corrupção e improbidade chegará próximo a Dilma Rousseff”, afirmou Cardozo, que usou boa parte de seu depoimento para defender a presidente.

A declaração foi feita à sessão desta quarta-feira da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras na Câmara dos Deputados, que se encerrou às 21h45, após quase sete horas de depoimento.

Apesar de Dilma não estar sendo investigada pela operação Lava Jato, sua campanha eleitoral é alvo de suspeita. Depoimentos de delatores do esquema indicam que parte das doações legalmente feitas por empreiteiras ao PT teria origem no superfaturamento de contratos dessas empresas com a Petrobras. Uma eventual rejeição das contas de Dilma poderia abrir o caminho para a sua cassação.

O papel do ministro na Lava-Jato

O titular da Justiça disse ainda que nunca recebeu orientação da presidente para prejudicar as investigações conduzidas pela Polícia Federal. “Tenho muito orgulho de jamais ter recebido da presidente da República, jamais, qualquer orientação para que obstasse, prejudicasse, desviasse as investigações que estão sob o meu departamento sendo conduzidas”, disse Cardozo.

Vários deputados indagaram sobre uma reportagem da "Folha de S. Paulo" publicada no domingo (12) que relatava o conteúdo de uma reunião da presidente Dilma Rousseff com auxiliares, em que estaria irritada com as suspeitas lançadas pelo empresário Ricardo Pessoa sobre as doações a sua campanha à reeleição, além da suposta cobrança para que Cardozo atue melhor na gestão dessa crise de confiança do governo.

"Aquilo não ocorreu. Estive na reunião, mas é uma situação até fantasiosa", disse Cardozo, referindo-se à descrição da reunião da reportagem da "Folha".

Escutas ilegais

Cardozo foi convocado a depor na CPI para falar sobre grampos encontrados na sede da Polícia Federal em Curitiba. Uma escuta foi encontrada na cela em que o doleiro Alberto Youssef, um dos principais delatores da Lava Jato. Uma sindicância da PF concluiu que as escutas estavam inativas, mas dois agentes da PF disseram à CPI que elas estavam ativas e foram instaladas sem decisão judicial.

"Não importa a finalidade: se for confirmado que as escutas foram colocadas seja para obter mais informações para a operação ou mesmo para atrapalhá-la, isso será inaceitável. Iremos tomar as medidas cabíveis", afirmou Cardozo, ressaltando que a investigação do caso corre em sigilo e nem mesmo ele tem acesso ao seu conteúdo.

Campanha de 2010

Outro tema da sessão da CPI foi a participação de Cardozo na coordenação da campanha eleitoral de Dilma em 2010. Perguntado se houve arrecadação ilegal de recursos, ele elogiou o ex-tesoureiro da campanha e secretário de Saúde da cidade de São Paulo José de Filippi Júnior. "Filippi sempre foi uma pessoa honrada", afirmou.

"Não podemos nunca culpar alguém sem a demonstração inequívoca de que soubesse ou de que participou da obtenção do dinheiro ilegalmente drenado a uma campanha eleitoral sob pena de sermos absolutamente injustos em relação a punições", completou.

O futuro no PT

O ministro disse ainda que se sente “amparado” por Dilma para continuar no cargo. “Posso dizer que me sinto plenamente amparado pela presidente da República para prosseguir na mesma luta que registrei quando era vereador de São Paulo”, disse Cardozo, referindo-se ao período em que presidiu a CPI da Máfia das Propinas, que investigou casos de corrupção na Prefeitura de São Paulo na década de 90.

Cardozo falou ainda sobre as informações que circularam sobre sua possível saída do ministério sob a alegação de que ele estaria “cansado” e negou que esteja pensando em deixar o cargo. “Acho que cargos públicos muitas vezes têm fadiga de material. Eu estou no cargo porque acredito na presidenta [Dilma]. Acredito no seu projeto. No dia em que ela não quiser mais que eu fique, ou que eu não achar que posso contribuir, saio”, afirmou.