Josias: Bolsonaro joga cúmplices ao mar e se arrisca a encarar nova delação
Jair Bolsonaro corre o risco de ver a tática de jogar a responsabilidade pela trama golpista nas costas de aliados se voltar contra ele próprio em forma de uma nova delação premiada, disse o colunista Josias de Souza no UOL News desta terça (3).
Tanto as defesas do ex-presidente como de aliados entraram em atrito. Paulo Cunha Bueno, advogado de Bolsonaro, alegou que seu cliente não seria beneficiado com o plano golpista revelado pela Polícia Federal e insinuou que militares pretendiam traí-lo para assumir o poder. Em nota, o general Braga Netto classificou a ideia de haver um golpe dentro do golpe como "tese absurda".
Há um incômodo geral com a estratégia do Bolsonaro e isso veio à tona pela primeira vez. É evidente que isso resultará em alguma coisa, pelo menos na construção de defesas que não ornarão uma com a outra. Bolsonaro dirá 'A', seus cúmplices 'Z' e ficará uma situação complicada.
Até aqui, eles vinham operando em conjunto. Um preservava o outro, exceto pelo Mauro Cid, que fez a delação. Nos depoimentos, esses generais ou silenciaram ou deram versões que não comprometiam Bolsonaro.
Se optarem por uma delação, ela tem uma lógica. A PF já descobriu a essência da trama golpista. Há uma profusão de evidências. Se um general como esse Mário Fernandes decide eventualmente firmar um acordo de delação premiada, terá que atirar para cima. A lógica da delação é que alguém que compõe uma organização criminosa delate aquele que está acima e traga novidades.
Por isso é tão perigosa para Bolsonaro essa estratégia de jogar os seus cúmplices ao mar. Se você compromete a defesa de um general e o encurrala, deixando-o sem alternativa, não lhe restará se não um acordo de delação e, nessa hipótese, ele atirará para o alto. Neste caso, isso significa torpedear Bolsonaro. Josias de Souza, colunista do UOL
Para Josias, a defesa de Bolsonaro se torna cada vez mais insustentável diante de evidências tão claras de sua participação na trama golpista.
Bolsonaro trabalha com a dúvida. Se o Mário Fernandes ou qualquer outro desses cúmplices graduados do alto comando do golpe abrirem o bico, a coisa se complica ainda mais para Bolsonaro.
A esta altura, mesmo se fosse retirado o 'Plano Verde e Amarelo' da trama, o resto já seria suficiente para condenar Bolsonaro. Isso daqui é só um detalhe que pode elevar a pena, mas o resto já muito contundente contra ele e os generais. Josias de Souza, colunista do UOL
Sakamoto: Defesa de Bolsonaro usa velha tática de jogar aliados aos leões
A defesa de Jair Bolsonaro utiliza a conhecida estratégia de incriminar os aliados do ex-presidente para tentar livrá-lo das acusações de envolvimento na trama golpista, afirmou o colunista Leonardo Sakamoto.
O objetivo de Bolsonaro e de sua defesa é reforçar uma prática que o presidente já tem há muitos anos: na dúvida, jogue os aliados aos leões para salvar o próprio pescoço. Isso já aconteceu antes.
Os generais compartilham uma visão de mundo com Bolsonaro, mas são pessoas inteligentes. Muito me estranha que eles não soubessem que, caso o golpe desse errado, Bolsonaro os jogaria na vala comum para sobreviver. Essa está sendo a defesa.
Coloca-se que Bolsonaro não sabia de nenhum plano e que esses tantos militares estrelados, de alta patente, envolvidos nele estavam fazendo uma grande conspiração para dar um golpe de Estado, com o ex-presidente sendo usado como justificativa.
A ideia do golpe era colocar as Forças Armadas como uma espécie de 'poder moderador', entregando de volta a Bolsonaro o poder civil. Os militares nem precisariam assumir, porque já estavam no poder. A gestão Bolsonaro foi uma parceria de setores das Forças Armadas com o bolsonarismo civil. Isso continuaria. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
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