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Eduardo Cunha anuncia ruptura com o governo e diz que agora é oposição

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

17/07/2015 11h32Atualizada em 17/07/2015 14h19

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou nesta sexta-feira (17) o rompimento político de suas relações com o governo de Dilma Rousseff (PT). O anúncio foi feito um dia após vir público o depoimento do consultor da Júlio Camargo à Justiça Federal do Paraná, no âmbito da operação Lava Jato, no qual ele afirma ter pago US$ 5 milhões em propina a Cunha. O presidente da Câmara nega as acusações.

Cunha é do PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer e uma das legendas que integram a base aliada. No entanto, as relações entre o chefe da Câmara e o governo Dilma já estão tensas desde que o peemedebista tomou posse como presidente da Câmara, em fevereiro. O PMDB, em nota, disse que a decisão de Cunha é "pessoal". Também em nota, o Palácio do Planalto disse ver a decisão como "pessoal" e acredita na "imparcialidade" do presidente da Câmara.

"Estou oficialmente rompido com o governo a partir de hoje", declarou durante entrevista coletiva na Câmara. Ele disse ainda que irá pregar no congresso do PMDB, que deve ocorrer em setembro, a saída do partido da base aliada do governo. "Teremos a seriedade que o cargo ocupa. Porém, o presidente da Câmara é oposição ao governo", disse.


“Eu vou pregar no congresso do PMDB, em setembro, que o PMDB rompa com o governo. Saia do governo. E eu, a partir de hoje, me considero em rompimento pessoal com o governo. Não há possibilidade de eu, como deputado do PMDB, que o meu partido faça parte de um governo que quer arrastar para a lama dele todos aqueles que podem por ventura, na sua associação, ajudar a protegê-los”, disse Cunha. Ele estava acompanhado do deputado André Moura (PSC-SE) durante a entrevista.

O presidente da Câmara acusou o PT de estar envolvido na "lama" de corrupção na Petrobras. "Essa lama em que está envolvida a corrupção da Petrobras, cujos tesoureiros do PT estão presos, eu não vou aceitar estar junto dela".

Cunha criticou o juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná, que conduziu o depoimento prestado por Júlio Camargo no qual o consultor afirmou ter pago US$ 5 milhões em propina a Cunha.  Segundo Cunha, por ter foro privilegiado, ele não poderia ser alvo de um processo tramitando em primeira instância. Para o presidente da Câmara, Moro acha que é o “dono do país”.

“O juiz violou o procedimento do qual eu tenho foro privilegiado. Quanto a isso, meus advogados vão entrar com uma reclamação junto ao STF, para que o processo na medida em que eu fui citado seja avocado e venha para o STF e não fique mais debaixo de um juiz que acha que é dono do país que acha que é dono de todas as instâncias. Ele acha que o STF e o STJ se mudaram para Curitiba. Ele quer fazer o papel de todos”, criticou Cunha.

Críticas ao PT

Cunha afirmou ainda, na entrevista, que as ações do Ministério Público Federal seriam “orquestradas” pelo governo.

“As ações do Ministério Público são ações combinadas com o governo. Por que, por exemplo, na delação do Ricardo Pessoa, não determinaram a abertura de inquérito contra o ministro [da Casa Civil] Mercadante? Ou contra o ministro [da Comunicação Social] Edinho Silva?”, indagou, referindo-se ao depoimento feito pelo dono da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, que disse ter doado R$ 7,5 milhões à campanha de reeleição de Dilma por temer que prejuízos a seus negócios

Cunha disse ainda que a atuação do MPF tem sido “seletiva” e deu a entender que o órgão estaria protegendo integrantes do PT.

“A atuação do Ministério Público tem sido seletiva. Se você olhar bem , as casas dos senadores que foram [alvo de busca e apreensão], não foram nenhum do PT. Nenhum senador do PT”, disse Cunha referindo-se à operação da Polícia Federal em cumprimento a mandados de prisão contra residências de senadores como Fernando Collor (PTB-AL) e Fernando Bezerra (PSB-PE). A operação foi realizada na última terça-feira  (14).

Questionado sobre quem estaria orquestrando as ações contra ele, Cunha disse haver um “grupo de aloprados” dentro do governo, mas não citou nenhum nome.

Para Cunha, as ações do MPF contra ele fazem parte de uma “operação política” comandada pelo PT. “Isso é uma operação política. E uma operação política patrocinada pelo PT, com o Ministério Público, um procurador-geral da República, com o governo, e sabendo que ele protege os integrantes do governo”, disse o presidente da Câmara.

Acusação de propina

Júlio Camargo é um dos principais delatores da operação Lava Jato, que investiga irregularidades e superfaturamento em contratos da Petrobras junto a empreiteiras. Segundo as investigações, parte do dinheiro superfaturado era repassada a políticos e partidos. Entre os políticos já investigados junto ao STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o caso estão Eduardo Cunha e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Em seu depoimento à Justiça Federal, Júlio Camargo, consultor da empresa Toyo Setal, afirmou que foi pressionado por Cunha a pagar US$ 5 milhões

“O deputado Eduardo Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva, mas confesso que comigo foi extremamente amistoso dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando do qual ele era merecedor de US$ 5 milhões", disse Camargo.

Na última quinta-feira (16), Cunha emitiu uma nota na qual negava as acusações feitas por Camargo. Em entrevista coletiva, o presidente da Câmara afirmou que não se deixará ser “constrangido” e “fragilizado” pelo depoimento de Camargo.

Cunha voltou a defender a tese de que as investigações contra ele são um ataque pessoal feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e que o Palácio do Planalto estaria influenciando os rumos da operação Lava Jato. Cunha chegou a dizer que Janot poderia ter pressionado Camargo a “mentir”.

“É muito estranho, às vésperas da eleição do procurador-geral da República e às vésperas de pronunciamento meu em rede nacional [marcado para esta sexta-feira], que as ameaças ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo procurador, ou seja, obrigar o delator a mentir”, afirmou Cunha.