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Base aliada 'traiu' o governo? Veja o que dizem líderes dos partidos

Os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) Renan Calheiros (PMDB-AL) - Pedro Ladeira/Folhapress
Os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) Renan Calheiros (PMDB-AL) Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

14/08/2015 06h00

Não bastasse ter que lidar com a oposição, a crise econômica e as denúncias envolvendo o PT nas investigações da Operação Lava Jato, a presidente Dilma Rousseff tem outra frente de batalha: obstáculos criados neste primeiro ano de seu segundo mandato por parlamentares que são --ou eram-- de sua própria base aliada, que nos últimas semanas mostra indícios de estar fragmentada ou mesmo rebelada. 

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), passou a criticar Dilma após ter seu nome citado na Lava Jato. No início de julho, a Casa aprovou o projeto de lei do reajuste escalonado para os funcionários do Judiciário, com impacto orçamentário previsto de mais de R$ 25 bilhões. Mas nos últimos dias Renan ergueu uma possível "bandeira branca" para Dilma ao ajudar a propor uma agenda anticrise para o país.

Na Câmara, a situação é pior. Após ter seu nome vinculado a uma acusação de propina nas investigações da Operação Lava Jato, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se declarou como oposição ao Planalto em julho, após meses de farpas trocadas entre ele e o PT. No último dia 6 de agosto, o PDT e o PTB anunciaram a saída da base do governo na Câmara.

Até mesmo 55 deputados petistas surpreenderam ao votar, também em 6 de agosto, a favor da Proposta de Emenda Constitucional 443, que vincula o salário dos membros da Advocacia Geral da União (AGU) aos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Este foi o item aprovado da apelidada "pauta-bomba" da Câmara, chamada assim porque traz matérias que poderão inflar os custos da União e consequentemente tendem a agravar a crise econômica do país.

Em entrevistas recentes, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), atribuiu o resultado à decisão de liberar posição entre a base sobre o tema, pois na véspera da votação da PEC 443, o governo fracassou na tentativa de aprovar requerimento para adiar a votação.

"Na votação do outro dia não havia mais nada o que fazer, a própria base orientou aprovar o 'jumbão'", disse, citando o apelido da proposta por sua abrangência exagerada no aumento de salário de diversas carreiras. Integrantes da base pretendem entrar com Ação Direta de Inconstitucionalidade no STF contra a aprovação da matéria.

Em meio a essa situação, Guimarães desabafou na semana passada sobre a atual fragilidade da base aliada. "É preciso definir mais criteriosamente o que é base e o que não é. A base precisa ser refeita, com critérios de fidelidade, de fidelidade dos ministros. Fizemos o ajuste fiscal, agora é preciso fazer o ajuste político. Tem que mudar muita coisa".

Aliados, porém independentes

"Não é verdade que toda votação que o governo propõe é contra a sociedade, nem que toda votação na Câmara é para derrotar o governo", resumiu a líder do PC do B na Câmara, Jandira Feghali. "Nós temos que sustentar o governo porque achamos que o momento exige isso. Mas na alternativa ao fator previdenciário, votamos diferente porque era uma pauta programática nossa. Não foi para ser contra o governo".

Na ocasião, toda a bancada do PC do B contrariou a vontade do governo e votou favorável à Medida Provisória 664, que muda as regras de pensão por morte, impondo carências e tempo de recebimento conforme a faixa de idade do beneficiário.

O presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, concorda. "Em algumas votações somos contra, outras a favor, mas não é questão de governo, mas de partido, como fizemos na redução da maioridade penal para 16 anos", disse, citando outra proposta aprovada na Câmara este ano contra a vontade da presidente.

André Figueiredo, líder do PDT na Câmara, nega que seu partido tenha deixado o governo de vez. "O PDT se declarou independente mas nunca afirmou ir para a oposição". Segundo ele, houve "desrespeito recorrente" da liderança do governo em relação ao partido, que era acusado pelos governistas de infidelidade à base aliada. "Em nenhum momento traímos, sempre fomos muito leais", defendeu-se.

O PDT, de acordo com o parlamentar, assumiu postura contrária à política econômica do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mas se diz "contra qualquer tentativa de golpe" contra a presidente Dilma, referindo-se aos recentes processos de impeachment. "Se estamos ou não na base formal, queremos ajudar o Brasil a sair dessa crise", reforçou. Reportagem da "Folha de S. Paulo" aponta que Dilma pediu que o PDT volte à base aliada, prometendo que o partido poderá indicar um novo nome para o Ministério do Trabalho.

Já o PMDB tem se dividido na crise. Enquanto Cunha e Renan trocavam farpas com Dilma, o vice-presidente Michel Temer vem tentando apaziguar as vozes contrárias à petista dentro de seu partido.

O líder do PMDB na Casa e aliado direto de Eduardo Cunha, Leonardo Picciani, atribui as fraturas na base a "falhas de interlocução", que demoraram a se resolver. "Também há uma composição na base que não expressa a atual correlação de forças entre os partidos, como nos moldes do governo anterior [de Lula]. O quadro está mais fracionado. Cabe ao governo fazer ajustes. Mas estamos abertos ao diálogo, diante da importância que o PMDB tem para a estabilidade do país", disse.