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Após encontrar Dilma, Cunha diz ser contra "devolver" Orçamento ao governo

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

01/09/2015 17h00

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse nesta terça-feira (1º) ser contra “devolver” a proposta de Orçamento para de 2016 enviada pelo governo ao Congresso Nacional. “Não é porque se propôs um deficit que o Orçamento tem que ser devolvido. Tenho uma posição bem diferente. O governo tem que sinalizar que a dívida não vai aumentar”, afirmou Cunha após se reunir com a presidente Dilma Rousseff (PT) em Brasília.

Ontem o governo entregou ao Congresso Nacional a proposta de orçamento para 2016. A proposta apresentada ao presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), prevê um rombo de R$ 30 bilhões nas contas públicas e estima um crescimento de 0,5% no PIB (Produto Interno Bruto) em 2016

O Orçamento elaborado pelo governo foi duramente criticado por partidos de oposição como o PPS do deputado Roberto Freire (SP). Segundo ele, o orçamento deveria ser “devolvido” até que o governo fizesse os cortes e ajustes necessários. Segundo ele, o governo jogou a responsabilidade pelos ajustes orçamentários “no colo” do Congresso. 

Cunha disse que o momento é de encontrar alternativas para cobrir o rombo no Orçamento, mas sem aumento de impostos. “Sou contra [aumento de impostos] e acho que essa é, por acaso, é uma posição do meu partido”, afirmou Cunha.

O encontro entre Cunha e Dilma acontece um mês e meio depois de o presidente da Câmara dos Deputados ter anunciado seu rompimento político com o governo.

Cunha disse que, apesar da conversa com a presidente, ele continua “rompido” politicamente com o governo. “Uma coisa é meu posicionamento e meu alinhamento político. Não posso me recusar a conversar com a presidente da República. Sempre disse que os poderes são independentes e harmônicos. Não quer dizer que vou ter posição de apoiamento”, disse.

O presidente da Câmara disse ainda ser contra a tentativa de transferir para o Congresso a responsabilidade por cobrir o “rombo” no orçamento do governo.
“Uma coisa que eu vi na mídia hoje, está sendo transferido para o Congresso a iniciativa de resolver o problema do deficit. Não é esse o ponto que está em discussão e não será. Meu alinhamento político é outra coisa. Continuo com meu posicionamento, mas não misturo estações”, afirmou Cunha.

Em julho deste ano, Cunha acusou o governo de estar usando a PGR (Procuradoria Geral da República) para lhe perseguir. Em agosto, Cunha foi denunciado pela PGR por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro cometidos no esquema de desvios de recursos da Petrobras apurado pela operação Lava Jato. 

Desde seu rompimento, Cunha vem intensificando as críticas ao governo. No início de agosto, ele atacou a aproximação do governo com Renan Calheiros, que apresentou uma série de propostas batizadas de “Agenda Brasil”. “Não adianta aprovar lá e não aprovar aqui”, disse Cunha. 

Cunha é visto por setores da oposição como um dos atores principais em relação ao andamento de um eventual processo de impeachment contra a presidente Dilma. Pelo regimento interno da Câmara, Cunha é quem decide se os pedidos protocolados na Casa podem tramitar ou não.

Nesta terça-feira, um dos fundadores do PT, Hélio Bicudo, protocolou um pedido de impeachment contra Dilma alegando que a presidente teria cometido crimes de responsabilidade como no episódio conhecido como “pedaladas fiscais”, em que o governo utilizou dinheiro de bancos públicos para pagar benefícios sociais.