"Lula inflado" percorre 2.500 km em protestos, e criador diz: "ganhou vida"
A manifestação anti-Dilma no último dia 16 de agosto, em Brasília, fez surgir uma nova celebridade no cenário político do país. Apelidado de "Pixuleko", o boneco inflável gigante do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestido de presidiário já percorreu quase 2.500 km em protestos pelo país. Além do Distrito Federal, esteve em São Paulo, onde sofreu atentado e chegou a ser rasgado, e Curitiba. Nas últimas semanas, deu origem a adesivos, camisetas, bonés.
"Ganhou vida própria. A gente nem tem mais como dizer que é nosso. É um símbolo de todos os brasileiros indignados", afirmou o empresário alagoano Alessandro Gusmão, criador do personagem.
A ideia surgiu durante reunião entre os componentes da direção do MBR (Movimento Brasil), em Maceió (AL) --o grupo foi concebido em outubro do ano passado, e atualmente está presente em 23 Estados. O encontro havia sido convocado para articular a manifestação do dia 16 de agosto, em Brasília.
Em busca de propostas criativas, os militantes cogitaram criar um balão. "Desistimos por questão de segurança, poderíamos causar um incêndio. A gente teria que usar grande quantidade de gás hélio. Era uma coisa realmente perigosa", disse Gusmão. A sugestão foi descartada pelo grupo, mas originou projeto ainda mais ambicioso.
O primeiro orçamento do boneco inflável do ex-presidente Lula foi de R$ 96 mil, e assustou os integrantes do MBR, que pensaram em desistir da ideia. Porém, afirmou Gusmão, o núcleo insistiu na busca por um serviço oferecido a preço mais acessível. Após alguns dias de negociação, uma fábrica em São Paulo topou produzir o material por R$ 12 mil.
"Começamos a mobilização para arrecadar esse dinheiro. O jeito foi passar a sacolinha entre os nossos grupos, nos 23 Estados, e todos ajudaram como puderam. Levantamos R$ 6.000 e demos de entrada. O restante foi parcelado em 30 vezes", declarou ele. "Felizmente, já conseguimos quitar, e o boneco foi um fenômeno. Realmente valeu muito a pena."
Após o sucesso da primeira aparição, o Lula inflado tornou-se itinerante. Foi levado, de ônibus, para a capital paulista, onde participou de ato no viaduto do Chá, na última sexta-feira (28), em frente à sede da prefeitura. Em meio a uma confusão entre apoiadores e opositores do governo federal, uma militante conseguiu fazer um rasgo com um objeto cortante.
Gusmão afirma, no entanto, que o ataque da jovem não teve consequências mais graves. "Já estávamos esvaziando o Pixuleko quando isso aconteceu. O furo não modifica em nada a estrutura dele, e o esvaziamento não teve nada a ver com o furo. Com os motores [de propulsão] funcionando, o rasgo que ela fez não é capaz de fazê-lo murchar", explicou.
O atentado ao boneco gerou, nas redes sociais, dezenas de memes e brincadeiras. Para o empresário alagoano, a repercussão foi positiva. "Esse episódio acabou sendo um tiro pela culatra. Aumentou e reforçou a visibilidade", afirmou Gusmão. "O povo brasileiro é muito criativo. Depois disso, fizeram várias montagens com o Pixuleko na fisioterapia, por exemplo, ou na sala de recuperação. Mas as pessoas podem ficar absolutamente tranquilas. O boneco está bem, saudável e pronto para continuar percorrendo o Brasil", ironizou.
Ainda nesta semana, o personagem viajaria ao Rio de Janeiro, com previsão de chegada para esta quinta-feira (3), onde participaria de protesto na Candelária. Porém, a pedido de representantes do movimento responsável pela mobilização em Curitiba, houve uma mudança no planejamento. O boneco seguiu, de avião, para a capital paranaense, onde participou de um ato realizado na quarta-feira (2). O deslocamento foi feito por uma transportadora e custou R$ 600.
Gusmão explicou que a direção do Movimento Brasil não desistiu de levar o Pixuleko ao Rio. "A gente está fazendo de tudo para que ele esteja no Rio para o protesto desta quinta. Eu só não posso garantir porque ainda há detalhes a resolver, como a logística para transportá-lo. Fazer isso de carro ou ônibus seria muito complicado. O ideal é levá-lo de avião, mas isso tem custo muito alto", detalhou ele.
Criação e reprodução
O empresário alagoano afirmou que, antes de ganhar forma, o desenho do Pixuleko foi objeto de debate entre os membros do MBR. Os diretores não queriam uma imagem ofensiva, mas que fosse capaz de provocar impacto político imediato. O esboço foi elaborado por uma agência de publicidade que colabora com o movimento. Após algumas intervenções, a arte final foi aprovada em reunião e encaminhada a uma fábrica com sede em São Paulo. "O boneco ficou pronto em 20 dias. Acoplamos o material inflável a dois motores [de propulsão], e o peso total do equipamento é de aproximadamente 150 kg", explicou Gusmão.
Motivadas pelo sucesso do Pixuleko, várias pessoas criaram, em sites de financiamento coletivo, páginas com o objetivo de arrecadar dinheiro sob pretexto de produzir novas versões do boneco. Gusmão se diz preocupado com essa iniciativa. "Não fazemos pedidos via web. Aliás, não sei nem como a gente poderia fazer para inibir que outros o façam. Nunca pedimos dinheiro pela internet e não é do nosso perfil fazer isso. Já falamos com algumas pessoas que criaram essas páginas, e eles disseram que repassariam o dinheiro para a gente. Mas é claro que isso é uma cascata."
Para Gusmão, não há interesse por parte do MBR de exigir direitos autorais. Ele afirmou que qualquer pessoa interessada pode criar um boneco inflável a partir da arte original. "Nosso interesse nunca foi lucrar. A ideia é viralizar mesmo. Podemos até arrecadar alguma coisa com o intuito de fortalecer as nossas ações, mas essa não é a meta", finalizou.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.