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Sakamoto: Temendo ser preso, Bolsonaro confessa golpe, mas com método

O ex-presidente Jair Bolsonaro demonstrou medo de ser preso pelo seu envolvimento na trama golpista, mas fez uma confissão com método ao admitir que pensou em decretar estado de sítio no país, afirmou o colunista Leonardo Sakamoto no UOL News desta terça (26).

Bolsonaro criticou as investigações da Polícia Federal, que revelou um plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. O ex-presidente disse que a descoberta da PF "não cola" e que não se pode punir o que classificou como "crime de opinião".

A entrevista é uma confissão do Bolsonaro, mas com método. Ele sabe que não pode fugir dessa questão da decretação do estado de sítio e da minuta golpista, algo que o assombra desde o começo do ano. Tanto que Bolsonaro, naquela manifestação de fevereiro na avenida Paulista, ficou em cima desse tema, tentando fazer milagre para tentar se justificar.

Há método nisso tudo. A defesa de Bolsonaro deve estar trabalhando para que ele fale e tente normalizar publicamente a questão do estado de sítio. Basicamente, ele está tentando convencer as pessoas de que a minuta não tinha nada de golpista.

Esse é o centro dessa entrevista: ele tenta despir de golpista a minuta golpista, dizendo que ela era totalmente constitucional e legal. Ele tenta convencer que discutiu com seus auxiliares, ajudantes e ministros uma questão de promover um estado de sítio no Brasil diante de uma insatisfação, o que seria algo completamente normal.

O presidente da República falar em decretar estado de sítio por causa do resultado das eleições sem provas de que não houve qualquer tipo de fraude é, na verdade, parte do golpe de Estado. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL

Para Sakamoto, é ofensiva a tentativa de Bolsonaro se desvincular da articulação da trama golpista e colocar a culpa sobre os ombros de terceiros.

É tão descarado que Bolsonaro organizou um golpe de Estado que ele está tentando esvaziar suas etapas desse golpe, mostrando que não elas têm relação alguma com o golpe. Isso é uma ofensa à inteligência.

A Constituição garante uma transição pacífica de poder em caso de derrota. Se ele tinha alguma dúvida com relação ao resultado, que pedisse a recontagem de votos, como foi feito em outros momentos da República, ou uma auditoria dos votos de forma transparente, e não se reunindo com seus auxiliares para tramar um golpe com estado de sítio.

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Neste exato momento, a tática do Bolsonaro é tentar desmerecer e deslegitimar o que o vincula e o coloca diretamente na cena do crime: o fato de que ele editou pessoalmente a minuta de golpe de Estado. (...) Bolsonaro mente; o golpe estava em marcha, e não em sentido abstrato. Só foi abortado por falta de apoio. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL

Josias: Lero-lero de Bolsonaro sobre golpe não faz sentido para Judiciário

Jair Bolsonaro tenta a todo custo se desvencilhar das acusações de participação na trama golpista, mas o discurso do ex-presidente não tem força suficiente para convencer a Justiça, disse o colunista Josias de Souza.

O plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes faz parte de um contexto muito bem delineado pela Polícia Federal. Nós não conhecemos todo o contexto; apenas as partes que foram divulgadas. O inquérito tem mais de 800 páginas e ainda continua sob sigilo por decisão de Moraes.

O discurso do Bolsonaro sempre passa pela tese segundo a qual como nada foi feito, nada é criminoso. Como Lula não tinha tomado posse, na visão do Bolsonaro, nada poderia ser considerado como tentativa de golpe. Isso é uma grande falácia porque poder constituído é o poder eleito. Havia uma eleição, a proclamação do resultado e a diplomação do eleito. Algo pode estar mais constituído do que isso?

Todos os argumentos do Bolsonaro conduzem a essa tese de que tudo o que não praticado e efetivado não pode ser considerado criminoso. Aqui, pensar em assassinar alguém não é crime. Mas tudo evoluiu da cogitação para a execução.

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Para o Judiciário, esse lero-lero do Bolsonaro não tem a menor serventia. Sinto até uma certa pena dos advogados do Bolsonaro porque eles estão ficando sem argumentos. Josias de Souza, colunista do UOL

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