Ato pelo Dia da Mulher em SP se separa entre contra e a favor de Dilma
A manifestação pelo Dia Internacional da Mulher, reunindo movimentos sociais pelos direitos da mulher, acabou nesta terça-feira (8) em São Paulo com tensão entre as manifestantes e separação do movimento. O racha foi motivado pela tentativa de transformar o ato feminista num movimento de defesa do governo da presidente Dilma Rousseff e do seu partido, o PT.
"Não vai ter golpe" era uma das principais frases estampadas em estandartes produzidos especialmente para a data pelo PT e pelas centrais sindicais que apoiam o partido, como a CUT (Central Única dos Trabalhadores). "Somos todas Dilma" estampava a faixa que abria a manifestação, produzida pela CUT.
Lideranças de movimentos que defendem Dilma, como a UBM (União Brasileira das Mulheres), a UJS (União da Juventude Socialista) e a CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), confirmaram ao UOL que a pauta principal do ato desta terça era "a defesa da democracia no Brasil", que avaliam ameaçada pelo processo de impeachment de Dilma, que pode ser aberto no Congresso Nacional. Para elas, o impedimento da presidente é "golpe".
Contra Dilma, não
Marcado para as 16h no vão do Masp (Museu de Arte de São Paulo), o ato se dividiu em dois ainda lá, antes de marchar, quando uma manifestante do PSTU defendeu ao microfone do carro de som oficial um "fora todos", que incluía Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Foi expulsa do carro com violência, debaixo de safanões, que se estendeu também a manifestantes que estavam lá para defender a democracia e os direitos específicos da mulher, como o direito ao aborto, mas não para apoiar o governo Dilma nem o PT. Era por volta das 18h.
A partir de então, parte das manifestantes (na Paulista quase todas eram mulheres, de múltiplas origens e idades, do centro e da periferia, novas e velhas, negras e brancas) migrou para o outro lado da avenida Paulista, sentido avenida Brigadeiro Luís Antônio, deixando apenas uma via para a passagem dos automóveis. O tráfego já estava totalmente interrompido do outro lado, no sentido que leva à avenida da Consolação.
"Elas (organizadoras ligadas ao PT) queriam colocar à frente do ato os dizeres 'Fica Dilma'. Para a gente, isso é inadmissível, porque elas não podem sequestrar o 8 de Março para defender um governo que na nossa opinião é indefensável", esbravejou Samia Bonfim, do Coletivo Juntas. Camila Souza, integrante do movimento, foi uma das agredidas no meio da confusão.
Segundo Samia Bonfim, havia sido combinado, entre as dezenas de organizações que compõem o ato, que as bandeiras a ser erguidas nesta terça-feira eram as sobre as quais havia consenso: o fim da violência contra a mulher, a legalização do aborto e a rejeição ao ajuste fiscal e à proposta de reforma da Previdência do governo federal. A defesa ostensiva de Dilma e do PT, portanto, deveria ter ficado de fora.
"A rua é de todos"
Quanto ao temor de confrontos no próximo domingo (13), quando a oposição marcou uma série de atos pelo impeachment, as manifestantes de movimentos que apoiam o PT e Dilma dizem que não há nada oficialmente marcado para o local. A CUT informou, por meio de Judeia Batista, secretária nacional da mulher trabalhadora da central, que não programa manifestações para o dia 13, mas para os dias 18 e 31 de março. Entretanto as manifestantes não excluem o possível encontro de movimentos contra e a favor de Dilma e de Lula pelas ruas da região da Paulista e de outras cidades, uma vez que "as ruas são de todos", como defende Maria das Neves, da UJS.
Para a militante, é preciso, entretanto, "combater o ódio e a violência". "As opiniões contrárias podem ser manifestadas, mas não pela força, pela violência, pelos xingamentos, como temos visto nas redes sociais, e no enforcamento público de bonecos da presidenta Dilma". Maria das Neves considera que "a desqualificação da presidenta Dilma é a desqualificação das mulheres brasileiras, que diariamente sofremos com a onda de violência e machismo nos metrôs, com as encoxadas, na violência doméstica, na desigualdade salarial, no assédio moral e sexual nos postos de trabalho". Ela acredita que esse 8 de março marca o início das lutas de um "mês muito simbólico para a luta democrática no nosso país".
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