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Crise e Lava Jato ameaçam governo mais que protestos, dizem pesquisadores

Em São Paulo, manifestantes soltam balões durante ato contra o governo Dilma - Marlene Bergamo/Folhapress
Em São Paulo, manifestantes soltam balões durante ato contra o governo Dilma Imagem: Marlene Bergamo/Folhapress

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

13/03/2016 21h18

Os atos contra o governo Dilma Rousseff deste domingo (13), os maiores já realizados, podem dar força ao impeachment no Congresso Nacional, mas o mandato da petista sofre maior ameaça por causa do avanço das investigações da Operação Lava Jato, que apura fatos relacionados à sua campanha de reeleição, e pela falta de habilidade política do governo. Este foi o cenário traçado por cientistas políticos ouvidos pelo UOL após as manifestações.

O cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), afirma que a falta de habilidade política do governo Dilma contribui mais que as manifestações para que o Congresso eventualmente aprove o impeachment.

“Nessa etapa particular acho que o jogo está jogado. Dificilmente o governo Dilma se sustenta. E acho que a grande interrogação que fica é o que acontece com Lula e com o PT”, afirma Reis.

Para Malco Camargos, professor da PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), o avanço das investigações da Operação Lava Jato sobre fatos que envolvem líderes do PT e a campanha de reeleição da presidente têm um impacto maior para um eventual fim do governo Dilma.

“A situação da presidente é bastante delicada tanto do ponto de vista de seu próprio partido quanto da sua campanha. Então, os fatos jurídicos são maiores do que o que as ruas estão vivendo hoje”, afirma Camargos.

Ambos, no entanto, concordam que as manifestações fortalecem a bandeira do impeachment no Congresso. 

O governo assiste à ameaça de que partidos da base possam aderir à bandeira do impeachment. Já em dezembro, deputados de partidos aliados ficaram com a oposição quando da eleição da comissão que vai dar parecer sobre o pedido de impeachment na Câmara dos Deputados e impuseram uma derrota ao governo por 272 a 199 votos.

Este sábado (12), o PMDB, maior partido da base, proibiu em sua convenção que filiados assumam novos cargos enquanto o rompimento com o governo é discutido internamente.

Além de acuado politicamente, o governo enfrenta no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ações que pedem a cassação da chapa reeleita em 2014.

Na quinta-feira (10), veio a público a informação de que um executivo da empreiteira Andrade Gutierrez teria entregado provas de que a campanha petista em 2014 foi financiada por caixa dois ao firmar um acordo de delação premiada com a Operação Lava Jato. As informações, se confirmadas, podem ser enviadas aos processos na Justiça Eleitoral.

A Lava Jato também investiga suspeitas de que o marqueteiro do PT em 2014, João Santana, teria sido pago por empreiteiras investigadas pelo esquema de corrupção na Petrobras.

Santana e o PT negam qualquer irregularidade nas contas de campanha.

Políticos rejeitados

Outro ponto destacado pelos pesquisadores é que os protestos apontam para a rejeição da classe política pelas ruas.

Neste domingo, os tucanos Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, e Aécio Neves, presidente do PSDB, foram hostilizados ao participar das manifestações na avenida Paulista, em São Paulo. Ambos são apontados como possíveis candidatos à Presidência numa próxima eleição.

 

Para o professor de ética e política da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Roberto Romano, esse distanciamento vem da falta de sensibilidade do Congresso Nacional às necessidades da população.

“O Congresso brasileiro é um Congresso que funciona em causa própria. Você só tem leis que funcionam em favor dos políticos”, diz.

Romano afirma que se o governo não tiver capacidade de reação ao desgaste político, o impeachment de Dilma pode vir a se concretizar. Ele, porém, afirma não analisar o quadro como irreversível.

“A sensação de inevitabilidade do impeachment da Dilma é que você não tem dentro do governo alguém com capacidade de pensar estrategicamente”, afirma Romano.

Camargos, da PUC-MG, afirma que o principal aspecto dos protestos deste 13 de março foi a hostilização à classe política. O professor diz ver um risco de que esse sentimento leve à preferência popular por soluções não democráticas ou à escolha de lideranças messiânicas.

“O que as ruas nos colocam é que nossas elites políticas não estão servindo mais. Isso deixa uma preocupação muito maior para o nosso futuro”, afirma.

Planalto e PT

Após os atos deste domingo, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com alguns ministros no palácio da Alvorada. Em nota divulgada após o encontro, o governo Dilma ressaltou a “liberdade de manifestação” e o “caráter pacífico” dos protestos.

“A liberdade de manifestação é própria das democracias e por todos deve ser respeitada. O caráter pacífico das manifestações ocorridas neste domingo demonstra a maturidade de um país que sabe conviver com opiniões divergentes e sabe garantir o respeito às suas leis e às instituições”, diz a nota do Planalto.

O presidente do PT, Rui Falcão, se disse preocupado com a hostilidade aos políticos nas ruas. Mas lideranças do partido minimizaram a influência das manifestações sobre o processo de impeachment.