"Fla-Flu político" provoca demissão de professora, e alunos protestam no PR
Na semana passada, uma professora de um colégio de Curitiba criticou em suas redes sociais uma manifestação pró-impeachment feita por alguns estudantes em sua escola. Na sequência, foi hostilizada por pais de alunos nas redes sociais, que a chamaram de comunista para baixo e pediram sua demissão. A escola, por sua vez, se recusou a demitir a profissional, mas tal foi a pressão que a própria professora resolveu demitir-se. Daí, foi a vez dos próprios alunos protestarem, com cartazes contendo frases como "Opinar não é doutrinar". Quer dizer, uma parte dos alunos protestou em favor da professora. Outra parte fez protestos contra a professora, contra a presidente Dilma Rousseff, contra o PT e contra o ex-presidente Lula. A escola, então, temendo o pior, resolveu, nesta terça-feira, acabar com a polêmica: suspendeu por tempo indeterminado todo e qualquer novo protesto contra ou a favor da professora demissionária e tudo isso que está aí.
É este o resumo de um dos mais marcantes episódios recentes relacionados à polarização que vive o país, polarização esta que há meses transbordou dos ambientes políticos para as ruas, para os condomínios e para as escolas.
O caso relatado acima aconteceu no Colégio Jesuíta Medianeira. Tudo começou quando, na semana passada, alguns alunos foram à escola vestindo preto, como forma de protesto contra o governo federal e favorável ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A professora de História dos Movimentos Sociais, que leciona no 9º ano e que pediu para não ter seu nome revelado, não gostou do que viu, e resolveu se expressar nas redes sociais. Junto com o texto abaixo, ela postou uma foto da década de 1930, com crianças italianas vestindo o fardamento negro do Partido Nacional Fascista, então no poder:
"Hoje, vi crianças numa escola, vestindo preto e pedindo golpe. Desprezando a democracia e exalando ódio. Parece que não conseguimos escapar do que Marx profetizou quando disse que a História se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa…"
A reação foi imediata: dezenas de pais de alunos do Medianeira foram para as redes sociais. Em um grupo do Facebook de pais do colégio (que era aberto ao público, mas que foi fechado), começaram a pipocar mensagens como as seguintes:
"Comunista descarada!"
"SE EU PEGAR ALGUM TEXTO COMUNISTA no caderno do meu filho eu vou RASGAR e devolver rasgado. E vou convidar o professor a me convencer. O COMUNISMO SÓ DEU CERTO NA CABEÇA DELES………..Argentina caiu, Venezuela caiu, e por aí vai. MAS ISSO É CULPA DA COORDENAÇÃO DE ENSINO EM DEIXAR QUE ISSO ACONTEÇA."
"À diretoria do colégio deve tomar uma providência. Sou totalmente contra a ideologia de esquerda… Não aceito em hipótese alguma que professores fiquem doutrinando minha filha… Se minha filha aparecer em casa com alguma ideia esquerdista, vai dar confusão…"
Essas foram as mensagens na página dos pais de alunos. Nas páginas da professora, as mensagens, que já foram apagadas, foram como as de baixo:
"Porca vermelha, se afaste do meu filho"
"Comunista burra, o comunismo acabou, devia voltar para a escola como aluna"
Durante toda a semana passada foram crescendo os protestos contra e a favor da professora. Ela passou a ficar com medo. Pediu demissão. "Não aceitamos a demissão, a professora é referência nesta escola, está conosco há dez anos e é um de nossos melhores quadros. Ainda temos esperança de fazê-la mudar de ideia", informou a assessoria de comunicação do Medianeira.
Nesse sentido, o Colégio Medianeira repudia toda e qualquer incitação ao ódio, difamação e injúria, violência física ou verbal – que é crime previsto em lei – e reitera o papel da instituição como mediadora na interação entre alunos, educadores e famílias no afã de edificar uma sociedade mais justa e igualitária.
Após as manifestações dos alunos nas últimas semanas, no ambiente do Colégio Medianeira, que permitiu democraticamente os lados se expressarem, foi decidido pela Direção a suspensão temporária de novos movimentos dentro do Colégio. A decisão tem como objetivo garantir a segurança e a harmonia necessárias a todos os educandos, assegurando os encaminhamentos pedagógicos das atividades escolares na perspectiva do debate, da construção de pontes e de um sadio clima de aprendizagem.
O Colégio Medianeira repudia a coação e hostilidade que possam vitimizar os educadores desta instituição de ensino. Reafirmamos nosso compromisso com a liberdade de expressão e a livre manifestação do pensamento os quais fazem parte do modus operandi de uma instituição da Rede Jesuíta de Educação.
Por fim, o Colégio Medianeira espera que o atual momento, político e social, possa ser visto e compreendido como um marco histórico na democracia brasileira. Agradecemos todas as manifestações realizadas por entender que elas nos ensinam a sermos mais tolerantes, críticos e ao mesmo tempo compromissados com a causa comum: o exercício da cidadania.
Direção do Colégio Medianeira"
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