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Pré-candidatos de SP pedem atenção no Facebook com trote, prece e carta de amor

Bernardo Barbosa e Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

03/07/2016 06h00

Enquanto a campanha eleitoral não começa oficialmente, os pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo usam o Facebook para postar trotes, preces, cartas de amor, GIFs e vídeos indignados --tudo pela atenção e pelo apoio da população.

O UOL observou todas as publicações feitas no primeiro semestre de 2016 nas fanpages oficiais dos dez políticos que pontuaram na última pesquisa de intenção de voto, feita pelo Ibope. Nesse período, eles optaram, em geral, por falar pouco das propostas que devem debater em campanha. Bandeiras pessoais e as atividades nos atuais cargos que ocupam dominaram os posts feitos por todos eles nestes seis meses.

O levantamento aponta alguns perfis: Celso Russomanno (PRB) é o apaixonado; Fernando Haddad (PT), o divulgador da sua gestão; Marta Suplicy (PMDB) e Andrea Matarazzo (PSD) são os críticos; Luiza Erundina (PSOL) e João Doria Jr. (PSDB), os indignados com a crise política; Marco Feliciano (PSC), o que difunde a autoajuda; Delegado Olim (PP) Major Olímpio (Solidariedade), os defensores da polícia; e Levy Fidelix (PRTB), o inimigo número um da urna eletrônica.

Neste levantamento, foram considerados os seguintes itens:

  • críticas (comentários a respeito da atual gestão da prefeitura; no caso do prefeito Fernando Haddad, item refere-se a administrações anteriores);
  • assuntos institucionais (posts sobre atividades em cargos ocupados nos Poderes Executivo ou Legislativo);
  • pessoal (opiniões sobre assuntos diversos) e família (publicações sobre familiares);
  • defesa (posts em que o pré-candidato rebate acusações); 
  • campanha (ações de promoção de propostas, encontros e eventos políticos); 
  • e crise política (questões ligadas aos governos Dilma e Temer).

No Facebook, os pré-candidatos nem sempre se valem do texto decorado e das produções hollywoodianas vistas nos programas de TV dos principais partidos. A publicação mais curtida na página do atual prefeito, Fernando Haddad, pré-candidato à reeleição, foi a que revelou a peça que pregou no historiador Marco Antonio Villa, comentarista da rádio Jovem Pan.

O deputado federal Celso Russomanno dedicou pouco mais de um quinto de seus posts à família, com direito a declarações apaixonadas à mulher, Lovani, em texto, foto e vídeo. O empresário João Doria Jr. viralizou com um vídeo feito com celular chamando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "sem-vergonha" e "cara de pau" e pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), que, dois meses depois, foi afastada pelo Senado. E a senadora Marta Suplicy virou até desenho animado para alardear suas capacidades como gestora.

Seja qual for o estilo, as equipes de todos os pré-candidatos consideram que as redes são relevantes no diálogo com a população e para a divulgação de propostas e atividades --além de serem um termômetro das preferências do eleitorado e, no caso dos partidos pequenos, uma forma de contornar a falta de espaço na imprensa e na propaganda eleitoral. 

“Elas têm papel importante como fonte de informações de atos de campanha, propostas e planos de governo, contato com o eleitor. Além de ser uma possibilidade de minimizar a diferença de tempo de televisão entre os candidatos”, avalia a equipe de assessoria da deputada federal Luiza Erundina.

Os pré-candidatos, normalmente, contam com até três pessoas para alimentarem suas fanpages, sem dedicação exclusiva à tarefa. Os responsáveis pelas páginas são assessores dos gabinetes ou profissionais contratados pelos pré-candidatos. A exceção é Russomanno, que disse tocar diretamente seu Facebook, com eventual ajuda de uma assessora. Mas todos afirmaram ter algum envolvimento direto com a página, seja para pautar os assuntos que serão abordados, seja para fazer posts e responder comentários.

Quase todos os pré-candidatos disseram não ter metas para número de fãs ou engajamento em posts, a não ser Marco Feliciano --que almeja passar de 5 milhões de fãs no Facebook até o fim do ano, segundo sua assessoria.

"Corpo a corpo virtual"

"Hoje, é uma obrigação ter uma campanha nas redes. Elas têm pautado a mídia tradicional. Seria burrice desperdiçar isso. [Os candidatos] têm de se apropriar da rede", diz Rafael Araújo, professor de ciência política da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo) e da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

A classe política, porém, ainda adota "um discurso burocrático e amarrado para as redes sociais", onde as pessoas esperam "uma conversa mais franca", avalia Alexandre Secco, sócio da Medialogue Comunicação Digital

Os candidatos não têm o que dizer, repetem as mesmas promessas de sempre. Nas redes sociais, ninguém cai nessa

Alexandre Secco, consultor de comunicação digital

A menos de três meses do pleito, os pré-candidatos não economizam no "corpo a corpo virtual". Nos seis primeiros meses do ano, foram publicados 3.979 posts, se somadas as dez fanpages analisadas.

Em média, um em cada cinco posts foi feito por apenas um dos políticos, o deputado federal Major Olímpio. Segundo a equipe do parlamentar, o Facebook é “o maior termômetro que tem e o melhor jeito de conversar com as pessoas”.

Outro campeão de posts é o vereador paulistano Andrea Matarazzo. Foram 657 em seis meses. Segundo a equipe do pré-candidato, essa quantidade justifica-se por sua participação em muitos eventos na cidade. “O dia a dia dele está todo no Facebook. E, além de pré-candidato, é vereador. Então há postagens da atividade parlamentar dele, discursos, projetos de lei.”

O campeão de seguidores, o deputado federal Marco Feliciano, tem uma página no Facebook com o objetivo de "estar mais próximo das pessoas”. “E as redes sociais são o modo mais fácil de fazer isso”, diz a equipe do parlamentar.

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