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'Olimpíada esqueceu de Lula e de mim', diz Dilma em ato em São Paulo

A presidente afastada, Dilma Rousseff, discursa em São Paulo em ato promovido por movimentos sociais - FÁBIO VIEIRA/FOTORUA/ESTADÃO CONTEÚDO
A presidente afastada, Dilma Rousseff, discursa em São Paulo em ato promovido por movimentos sociais Imagem: FÁBIO VIEIRA/FOTORUA/ESTADÃO CONTEÚDO

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

23/08/2016 21h29Atualizada em 23/08/2016 23h31

Às vésperas do julgamento do impeachment pelo Senado, a presidente afastada, Dilma Rousseff, reclamou de ter sido "esquecida" pelos organizadores dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, encerrados no último domingo (21). Segundo Dilma, o evento ignorou tanto ela quanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A queixa foi feita durante ato promovido nesta terça-feira (23), em São Paulo, pelas frentes "Brasil Popular” e “Povo sem Medo”, que reúnem movimentos sociais, sindicais e políticos, entre outras organizações.

"Eu tenho certeza de que a coisa que o presidente Lula mais se orgulha é do fato de o país ter passado de 23 para 13 (no ranking geral, conforme o número de medalhas). Esse é o ganho do nosso povo. Eu fiquei muito orgulhosa", disse, para completar:" "E do que eu tenho mais orgulho é que isso beneficiou atletas. Não tenho nada contra atleta loiro, de olhos azuis e de cabelo lindo, mas beneficiou os nossos atletas negros, mulheres, LGBT. Eu olhei para os atletas e falei: é a nossa cara. É a cara do Brasil". Em seguida, Dilma observou que nem ela, nem Lula foram lembrados durante os jogos, apesar de articulação para que o Rio fosse sede dos jogos ter ocorrido durante o governo do PT.

"Nem eu nem o Lula [fomos lembrados]. A gente foi devidamente esquecido. Por quem? Por quem vocês sabem por quem. Não posso deixar passar essa oportunidade. Acabou no domingo e eu posso chegar hoje e falar. Sempre me perguntaram qual é a sua reação: a minha reação é aquela que qualquer um aqui entenderá. Você pega e organiza a festa, né? Arruma a casa. Contrata a melhoria das instalações da casa. Arruma os móveis e, no dia da festa, te proíbem de entrar na casa", comparou.

A ação, batizada de “Ato contra o Golpe, em Defesa da Democracia e dos Direitos Sociais”, aconteceu na Casa de Portugal, no bairro da Liberdade, região central de São Paulo, e teve como principal bandeira a oposição à retirada de direitos sociais. Apesar de esperado, Lula não compareceu ao evento, mas Dilma contou com a presença de Fernando Haddad (PT), prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, e Rui Falcão, presidente nacional do PT.  Artistas, intelectuais e políticos do PT também estiveram presentes -- o mais tietado foi o ex-senador e candidato a vereador em São Paulo Eduardo Suplicy, que se emocionou, em mais de uma ocasião, ao ler um texto do jurista Dalmo Dallari com críticas enfáticas ao processo de impeachment -- que, segundo Dallari, "afronta dispositivos constitucionais claros e expressos".

O ex-presidente Getúlio Vargas -- que se suicidou, em 1954, pressionado para renunciar ao cargo -- também foi lembradopor Dilma no evento. Ela afirmou que não foi "obrigada a se suicidar, como obrigaram Getúlio".

"Não renunciei porque hoje temos espaço democrático. Eles não me obrigaram a me suicidar, como obrigaram o Getúlio, e não fui obrigada a pegar um avião e ir para o Uruguai, como fizeram com o Jango [ex-presidente João Goulart]", afirmou a petista, para quem "a luta pela democracia não tem data para terminar".

Haddad cita "momento negro da história"

Para Haddad, a presidente afastada é vítima de um golpe institucional. "A presidenta Dilma, que já foi vítima de um golpe nos anos 60, é vítima de agora de uma outra modalidade de golpe, um golpe institucional contra a Constituição", disse. Segundo ele, o processo está sendo "forjado" por um crime de responsabilidade que "nunca foi cometido".

O prefeito acusou o governo Temer de abrir uma "agenda de intolerância contra mulheres, comunidade LGBT e negros". O prefeito ainda criticou a proposta do governo de Michel Temer (PMDB) de fixar um teto para os gastos públicos conforme a inflação do ano anterior, conforme proposta encaminhada ao Congresso Nacional. "Como vamos dizer aos brasileiros que esqueçam seus direitos por 20 anos? Os nossos direitos estão sendo ceifados por uma confusão que se estabeleceu, e ninguém diz as consequências do que está sendo aprovado no Congresso Nacional. Presidenta, estamos aqui para defender uma causa que remonta muito distante à história do Brasil. É uma história marcada pela violência, desde o tempo colonial, desde tempo da República Velha, depois passado pelo golpe contra o Getúlio, o golpe militar; estamos vivendo um momento negro da nossa história e que só pode ser impedido se esse impeachment não passar."

Movimentos vão ao Senado dia 29

Além de atos como o desta terça, em São Paulo, as coordenações dos movimentos informaram que estão preparando jornadas e outros semelhantes ao da capital paulista contra o governo interino do presidente em exercício, Michel Temer, o qual classificam como “ilegítimo”. Um desses atos deve reunir movimentos sociais na entrada do Senado, dia 29, quando Dilma irá se defender perante os senadores.

Participam das duas frentes populares movimentos como o dos Sem Terra (MST) e o Sem Teto (MTST), além de centrais sindicais como a CUT (Central Única dos Trabalhadores).