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Não respeito uma pessoa capaz de falar o que Janaina Paschoal falou, diz Dilma

'As emas do Alvorada são muito fofoqueiras'

UOL Notícias

Do UOL, em Brasília

02/09/2016 16h45Atualizada em 02/09/2016 19h51

Em entrevista à imprensa estrangeira nesta sexta-feira (2), a ex-presidente Dilma Rousseff afirmou que não tem "respeito" por Janaina Paschoal, advogada que foi um dos autores do pedido de impeachment que a tirou do cargo.

Durante discurso da acusação no julgamento final de impeachment, na terça-feira (30), Janaina Paschoal disse que queria pedir "desculpas" a Dilma

"Eu peço desculpas porque eu sei que, muito embora esse não fosse o meu objetivo, eu lhe causei sofrimento. E eu peço que ela [Dilma], um dia, entenda, que eu fiz isso pensando, também, nos netos dela", afirmou a advogada.

"Não respeito uma pessoa capaz de falar o que ela falou", afirmou Dilma. "O comportamento da doutora é um comportamento de uma pessoa cujas convicções não se parecem com as minhas, nem do ponto de vista político, nem do ponto de vista cultural, nem do ponto de vista humano", disse Dilma.

"Para os meus netos, eu quero um Brasil democrático, cheio de oportunidades. Eles terão. E não é por conta da doutora Janaina", completou.

Janaina Paschoal chora e cita netos de Dilma

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"Fora, Temer"

A ex-presidente também fez críticas ao atual presidente Michel Temer por "temer as palavras". Dilma citou o "fora Temer", entoado pelos contrários ao atual presidente, dizendo que não reprimiu manifestações contrárias durante seu governo.

"Nós jamais tivemos medo das palavras", afirmou Dilma. "Não é possível que não se possa falar o que se quer. Exemplo: 'fora, Temer'. Quando você começa a ter medo das palavras é que você inicia o processo repressivo."
 
Em sua primeira reunião com ministros após a posse oficial como presidente, na quarta-feira (31), Michel Temer rebateu acusações de que seria "golpista" e pediu que seus aliados fizessem o mesmo, dizendo que não "levará ofensa para casa".
 
"Estou dando desde já o exemplo de que não será tolerado esse tipo de conduta", declarou Temer.

Dilma: não é possível que não se possa falar “fora, Temer”

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Futuro

A ex-presidente também foi questionada sobre seu futuro, uma vez que o Senado não cassou seu direito a ocupar cargos públicos. "Eu não vou fazer planos de hoje para amanhã. Eu sempre fiz política na minha vida, mas não tenho um projeto ainda elaborado", declarou. "Mas eu tenho a disposição de contribuir dentro das minhas possibilidades para que o Brasil seja um país mais justo e democrático. Farei oposição  a esse governo."
 
Ela foi questionada se se mudaria para o Rio de Janeiro. Dilma disse que, inicialmente, irá a Porto Alegre, mas confirmou que sua mãe "tradicionalmente" mora no Rio de Janeiro.
 
Na entrevista desta sexta-feira (2), Dilma estava acompanhada do advogado e ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, que fez sua defesa durante o impeachment.
 
Cardozo defendeu o fatiamento da votação do impeachment no Senado, que permitiu que Dilma continuasse com o direito de exercer funções públicas, dizendo que a interpretação do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski, que admitiu a separação, "foi correta". 
 
Para justificar a possibilidade, Cardozo citou livro de Michel Temer, que é um constitucionalista, e também o ministro do STF Gilmar Mendes.

Cardozo cita Temer e Gilmar Mendes sobre fatiamento do impeachment

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Dilma afirmou, porém, que considera "estranhíssimo" o resultado das duas votações. "Vota uma vez de um jeito, vota outra vez de outro, é, no mínimo, muito estranho."

"Eu sei que tinha muitos senadores indecisos, sei que tinha muitos senadores desconfiados que esse processo não é o que pintaram", disse a ex-presidente. "O segundo voto [que manteve seus direitos], eu acho que é o voto daqueles que não consideram que de fato cabia uma punição."

Recurso ao STF

Dilma afirmou que vai recorrer a "todas as instâncias" para tentar reverter seu impeachment.

"Importa muito, nós queremos ganhar, mas além de querer ganhar nós queremos que as instituições se fortaleçam, e só se fortalecerão se elas tiverem posição", disse a ex-presidente.

Cardozo confirmou que vai entrar com novo recurso no STF na semana que vem, alegando "violação ao direito de defesa".

Segundo o advogado, ele vai citar no recurso o fato de que muitos senadores já tinham declarado seu voto a favor do impeachment antes do julgamento final e que, segundo Cardozo, alguns chegaram a afirmar que não mudariam de posição, independentemente da defesa.

A defesa também vai alegar falta de motivo ou justa causa para o impeachment.

"Consideração" por Lula

Dilma Rousseff ainda afirmou que não tem "nenhuma mágoa do PT", e negou que tenha qualquer tipo de problema de relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Por ele (Lula) tenho imensa consideração, além de política como pessoal", disse Dilma.