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Moro diz que ministro Teori Zavascki "foi um verdadeiro herói"

Corpo do ministro Teori Zavascki chega a sede do TRF4 em Porto Alegre - Itamar Aguiar/Agência Free Lancer/Estadão Conteúdo
Corpo do ministro Teori Zavascki chega a sede do TRF4 em Porto Alegre Imagem: Itamar Aguiar/Agência Free Lancer/Estadão Conteúdo

Flávio Ilha

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

21/01/2017 10h53Atualizada em 21/01/2017 13h19

O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Operação Lava Jato na primeira instância, disse neste sábado (21) em Porto Alegre, que o ministro Teori Zavascki "foi um herói". Ele morreu em um acidente aéreo na última quinta-feira (19).

"Acredito que pela qualidade, relevância e importância dos serviços que ele prestava, e a situação difícil desses processos, a importância desses processos, [Zavascki] foi um verdadeiro herói. Há uma grande desolação da magistratura. Todos que o conheciam, especialmente aqui da 4ª Região, estão desolados", declarou, ao chegar na sede do TRF4, onde o corpo do ministro está sendo velado.

Moro não quis responder às perguntas dos jornalistas.

O acesso ao plenário onde está sendo realizado o velório do ministro foi bloqueado para jornalistas e fotógrafos. O caixão está fechado e coberto por uma bandeira do Brasil. Há uma fila bem grande para acessar a sala e o esquema de segurança está rigoroso, inclusive com detecto de metais.

"Grande perda para a nação"

O atual vice-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli também esteve presente no velório do ministro Teori Zavascki.

Visivelmente emocionado, Toffoli falou à imprensa e ressaltou o que chamou de "perda para a nação". "É uma perda para a nação brasileira, para o Poder Judiciário e para o STF. A serenidade do ministro Teori Zavascki, a simplicidade dele, a humildade dele marcarão para sempre a Justiça brasileira. Estamos ainda sofrendo muito com essa passagem."

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"Situação embaraçosa"

Para o ministro Paulo Sanseverino, do STJ (Superior Tribunal de Justiça) a escolha do novo relator da Lava Jato, no lugar do ministro Teori Zavascki, deve ser feita pelo colegiado, deixando de fora o novo magistrado que será nomeado pelo presidente Michel Temer. "Penso que [a escolha] deve ser feita antecipadamente a um ministro do próprio tribunal. Acho que não se deve deixar para o ministro que vai assumir. Se tornaria uma situação embaraçosa, já que vários políticos estão sendo investigados."
 
Sanseverino lembrou também de sua relação pessoal com com Teori: "Trabalhei com ele no STJ desde 2010. Tivemos uma boa relação que mantivemos depois. Era um dos meus companheiros de viagem de Brasília a Porto Alegre, eventualmente nos finais de semana. O mais importante é que perdemos um juiz que teve capacidade de atuar com grande discrição, mas também com grande profundidade e atenção em todos os processos."

"Lava Jato não irá parar"

O presidente do Tribunal Regional da 4ª Região (TRF4), Luiz Fernando Penteado, disse, durante o velório que a morte do magistrado não deverá causar interrupção das investigações relativas à Operação Lava Jato. O TRF-4 é quem julga os recursos das decisões adotadas em Curitiba.

“A nomeação é ato do presidente da República, que deve pensar sobre o nome com alguma brevidade. Mas a ministra Carmen Lúcia [presidente do STF], observando o regimento interno, fará as diligências necessárias. As medidas urgentes não cessarão”, disse.

“As investigações [da Lava jato] correm por impulso do Ministério Público e da Polícia Federal. Certamente há juízes no país com condições de assumir as funções do ministro Teori”, completou.

Chegada do corpo do Ministro do STF, Teori Zavascki - Rodrigo Souza/Futura Press/Estadão Conteúdo - Rodrigo Souza/Futura Press/Estadão Conteúdo
Cortejo acompanha chegada do corpo do ministro do STF, Teori Zavascki
Imagem: Rodrigo Souza/Futura Press/Estadão Conteúdo

Associação de juízes: "ministro sério e honesto"

O presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais), Roberto Veloso, defendeu que o substituto de Teori no STF seja um juiz federal de carreira. "A sua função no STF, como relator do rumoroso caso da Lava Jato, nos dava a tranquilidade para saber que o processo corria normalmente, sem qualquer sobressalto. O ministro era um homem culto, sério, honesto, cumpridor de seus devedores, muito trabalhador, muito preparado e conduzia esse processo como nenhum outro", afirmou durante o velório.

Veloso também disse que a relatoria de Zavascki "propiciava a garantia de que aqueles responsáveis pela corrupção no Brasil, que é o maior mal que assola nosso país, que retira crianças de escolas, que lota os corredores dos hospitais com doentes, esse combate estava tendo no ministro um condutor isento e imparcial".

O presidente da Ajufe defendeu que o próximo relator do processo da Lava Jato no Supremo mantenha a equipe de trabalho de Zavascki para reduzir o impacto da ausência no andamento do caso. "Evidente que a morte do ministro provocará um atraso no julgamento da Lava Jato, porque independentemente de qualquer circunstância, aquele que vai assumir vai precisar de um tempo para se inteirar. Se esse novo ministro, que pode ser indicado pelo presidente ou um outro para quem o processo seja redistribuído, mantiver a equipe do ministro, esse tempo será menor. Mas há um prejuízo inevitável", disse.

Velório e segurança

O velório do ministro é realizado na sede do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre. Teori era o relator da operação no STF. A presidente do Supremo, Cármen Lúcia, também esteve no local, mas retornou para seu hotel, para descansar. Ela acompanhou com a família ao longo de toda a madrugada os trâmites para o transporte do corpo do Rio de Janeiro para a capital gaúcha.

Do lado de fora, soldados da Brigada Militar e da Polícia do Exército fazem a segurança do local. O corpo de Zavascki será enterrado a partir das 18h, em cerimônia restrita à família, no cemitério Jardim da Paz, zona leste de Porto Alegre.

Um funcionário do Grêmio trouxe uma bandeira para ser colocada sobre o caixão. Torcedor fanático do time, Teori foi conselheiro do clube por quase 30 anos. Seguindo o discurso do filho de Teori, Francisco Zavascki, ela disse que "prefere acreditar" que a queda do avião que vitimou o jurista, em Paraty (RJ) tenha sido um acidente.

Além de Temer e Cármen Lúcia, também devem participar do velório o governador do Rio Grande do Sul, Ivo Sartori (PMDB), e o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB). Temer deve viajar acompanhado do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), e do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. A ex-presidente Dilma Rousseff, que mora em Porto Alegre, está em viagem ao exterior e não deve comparecer. (Com Estadão Conteúdo)